Martinho Lutero
disse: “Ter um Deus importa em cultuá-lo e adorá-lo.” O antigo hebreu,
banido de sua terra natal e de seu tradicional lugar de culto e adoração, se
assentava junto às águas da Babilônia e soluçava: “Se eu me esquecer de ti, ó
Jerusalém, esqueça-se a minha destra da sua destreza” (Sal. 137:5). Ele achava
que nada estava dando certo para ele, visto que o seu culto e adoração não
estavam em ordem.
A renovação da alma é essencial, se queremos ter sucesso na
arena social. A nossa era tem dado uma ênfase apropriada a Jesus como “o homem
para os outros”, mas muitas vezes tem esquecido Jesus, o homem da parte de
Deus. O costume de secularizarmos o sagrado nos tem dado um alvo certo por que
viver, mas não nos tem dado recursos com que viver. Jesus constantemente
recordava aos seus seguidores que as suas boas obras eram feitas por um poder
que não era dele. Freqüentemente, ele voltava-se para Deus, para renovar esse
poder. Sem a adoração, a fé morre, o poder moral degenera e a palavra profética
se perde. Sem a visão da santa cidade de Deus, o sonho de uma cidade reta e
feliz aqui na terra perece irremediavelmente. Se considerarmos o culto como um
espelho da realidade, em que percebemos Deus e nós mesmos no mais profundo
nível, ela torna-se um alargamento de nossa percepção e uma consciência, sem a
qual podemos apenas fingir que estamos vivendo.
Para o hebreu antigo, o culto era a consciência de Deus. Era
aproximação
Charles A. Trentham
de Deus. Era também algo que ele fazia para aumentar essa
consciência. “Oh, vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do Senhor,
que nos criou” (Sal. 95:6). O culto era também o meio através do qual ele
proclamava o valor peculiar de seu Deus (Sal. 95:3).
A percepção de Israel e a sua reação em relação a Deus se
originaram da experiência dessa nação na história. Eventos memoráveis
determinaram a forma de seu culto, e esta, por seu turno, influenciou os
padrões de culto do novo Israel.
I. O Culto no Velho Testamento
1. Entre os Patriarcas. A primeira referência a um ato de
culto, na Bíblia, aparece em Gênesis 4:3,4, onde se fala das ofertas de Caim e
Abel, e o último versículo desse capítulo, provavelmente, se refere ao início
do culto de maneira geral. Mas esse livro não explica por que os rituais
tiveram início; isto subentendeu-se quando a narrativa foi escrita. Na época de
Noé, o sacrifício de animais devia ter sido reconhecido como a forma aceitável
de culto (Gên. 8:20).
O culto dos patriarcas era diferente do de seus vizinhos
pagãos, porque era baseado não em ritos agrícolas ou de fertilidade, mas em
visitas de Deus aos patriarcas. Eles edificaram os seus altares e lugares de
culto onde Deus ou os representantes de Deus apareceram (Gên. 12: 7; 28:18; Êx.
17:15). A promessa de Deus a Abraão foi repetida a Isaque, e ele reagiu de
maneira semelhante, em
Gênesis 26:24,25. A visão que Jacó teve de Deus levou-o a
dar, ao lugar do encontro, o nome de “Betei” (casa de Deus) e a fazer o seu
voto memorável. Depois da reconciliação de Jacó com Esaú, Deus chamou aquele
para fazer um altar e executar um ritual de purificação e troca de vestes (Gên.
35:1-4).
Este acontecimento revela o aspecto familiar do culto nesse
período. Embora pareça primitivo, o culto entre os patriarcas era pessoal e
familiar, e estava ligado, inseparavelmente, com um comportamento reto diante
de Deus. Esses homens criam que Deus lhes estava muito próximo e era mui real
(Gên. 18:1).
2. Do Egito a Canaã. Esse senso de percepção imediata da
presença de Deus é mostrado na experiência de Moisés com um arbusto em fogo — a
sarça ardente (Êx. 3:1-6). Ela o preparou para a sua confrontação com Faraó, e
o culto foi a base de sua exigência de que os israelitas fossem libertos (Êx.
5:1-3).
A apoteótica experiência de libertação da escravidão egípcia
foi celebrada na Festa da Páscoa (Êx. 12:11; 34:25). Ela também era conhecida
como Festa dos Pães Asmos, e tornou-se o mais importante dos festivais de
Israel. Embora ela possa ser relacionada com obser- vâncias pré-israelitas, a
sua relação com o ato de Deus no Egito tomou-a central no culto a Yahweh.
Sabemos muito mais a respeito de sua celebração da parte do Novo Testamento do
que do Velho.
Depois de atravessar o Mar Vermelho, Moisés e o povo de
Israel cantou ao Senhor o cântico que consta em Êxodo 15:1-19. Era característico
de Israel prestar louvor a Deus por seus atos poderosos. Eles não apenas
cantaram, mas Mi- riã tomou o seu pandeiro e liderou as mulheres na dança.
O período em que o povo de Deus ficou acampado nas cercanias
do Monte Sinai foi também ocasião de memoráveis experiências de culto. O povo
foi instruído a lavar as suas vestes e a evitar, a qualquer custo, qualquer
contato com a montanha,
depois que Moisés o consagrou (Êx. 19:10-14). E, então, eles
tremeram diante da dramática demonstração da presença de Deus antes de o
Decálogo ser dado a Moisés. Depois disso, atos pactuais de culto foram
executados (Êx. 24:3-8).
Antes de o povo deixar as fraldas do Sinai, o Senhor
instruiu Moisés para fazer com que eles lhe construíssem “um santuário, para
que eu habite no meio deles” (Êx. 25:8), conforme disse. Essa tenda grande com
o seu mobiliário são descritos em Êxodo 25 a 27. Este consistia em altares para
ofertas queimadas e para incenso, entre outras coisas, mas o seu objeto mais
reverenciado era a arca do pacto, que ficava em um compartimento separado da
tenda, chamado o santo dos santos. Essa caixa coberta de ouro provavelmente
continha o Decálogo ou alguma outra lista de requerimentos do pacto. Em cada
ponta de sua tampa de ouro sólido ficava um querubim, com suas asas estendidas
para o outro, e, entre os querubins, ficava o propiciatório, e o lugar de
habitação de Yahweh ficava acima desse propiciatório.
Sacrifícios, ofertas e observâncias dos tempos mosaicos são
descritos em Êxodo 29:38-31:17. Depois que o tabernáculo havia sido edificado,
tornou-se centro também de comunhão individual com Deus (Êx. 33:7-11), bem como
o foco nacional de culto. De acordo com o livro de Números, os homens da tribo
de Levi foram escolhidos “para fazerem o serviço da tenda da revelação (8:15).
Desta forma, o culto israelita foi uma questão de desenvolvimento, de acordo
com a necessidade e com as ordens divinas.
A entrada de Israel em Canaã e a queda de Jericó podem ser
consideradas como pompa religiosa, tanto quanto procissões militares. Quando
Israel se acampou em Gilgal, na margem oriental do Jordão, doze pedras de
memorial foram carregadas do leito do Jordão, para lembrar, aos seus filhos,
que Deus carregara o seu povo através do Jordão, como o fizera através do Mar
Vermelho, “para que todos os povos da terra conheçam que a mão do Senhor é
forte” (Jos. 4:24).
Ê provável que Gilgal tenha sido o lugar do primeiro ato de
culto de Israel na Terra Prometida. Desta forma, esse local tomou-se um
santuário importante; muitos anos mais tarde, Saul foi coroado ali. Ã medida
que conquistou a terra, Israel também capturou os santuários dos cananeus. Cada
aldeia, por menor que fosse, tinha o seu “lugar alto”. Outros santuários
notáveis, desse período, foram Dã, Berseba, Siquém e Siló. As práticas pagãs
começaram a influenciar tanto o culto quanto a moralidade dos israelitas, mas,
depois da terceira distribuição do território conquistado, o povo “se reuniu em
Siló, e ali armou a tenda da revelação” (Jos. 18:1).
3. O Culto nos
Primórdios da Monarquia. A contenda com os pagãos foi difícil, tanto em
termos de política quanto de religião. O livro de Juizes revela o quanto o
culto a Baal minou a fé e o comportamento israelita. Na época de Samuel, a arca
do pacto foi usada em vão, como fetiche, na tentativa de Israel de derrotar os
filisteus. Quanto a arca foi capturada, Siló perdeu o seu significado como
santuário de Deus. Culto regular em um lugar central não é mencionado desde
Josué até I Samuel.
E, então, em II Samuel, começou um reavivamento do culto a Yahweh,
sob a direção de Davi. Ele levou a arca para Jerusalém (II Sam. 6:15) e
colocou-a em uma tenda especial. Mais tarde, ele comprou a eira de Omâ, como
local para edificar um altar a Deus — e mais tarde o Templo de Salomão. Alguns
eruditos acham que Davi combinou várias tradições religiosas para ajudar a fé
de Israel a falar à sua época. Seja o que for que tenha acontecido, “ele
elaborou os princípios, o espírito e algumas das formas” (Davies, p. 880) e foi
o principal responsável pelo desenvolvimento da música no culto israelita (II
Sam. 6:5; I Crôn. 24- 26) — desenvolvimento este de tremendo potencial
espiritual.
4. No Templo. Da
mesma forma como Israel alcançou um nível apoteótico e característico, em sua
vida nacional, durante o reinado de Salomão, o Templo de Salomão marca uma nova
era no culto da nação judaica. Era o mais atraente e permanente lugar de culto
que o povo já conhecera. Os eruditos acham que ele emprestou algumas
características artísticas e arquitetônicas de Canaã, Fenícia e Egito (I Reis
5:6; 7:14), mas certamente ele personificava a peculiaridade do culto de Israel
nos símbolos centrais do jeo- vismo primitivo. Tendo levado sete anos para ser
construído, o Templo foi um progresso significativo, além do local e das formas
primitivas do culto anterior de Israel. Não é exato dizer-se que o conceito que
Salomão tinha um lugar sagrado fosse uma inovação; Israel sempre dera valor
proeminente a um lugar sagrado, em seu culto (isto é, o monte Sinai, vários
locais para o tabernáculo e a arca, e, mais tarde, santuários como em Gilgal
eSiló).
O calendário de culto de Israel se focalizava em três
principais festivais de origem agrícola, mas de significado religioso. A
Páscoa, observada na primavera, era também chamada Festa dos Pães Asmos (Êx.
12:1-13:16). No meio do verão, vinha a Festa das Semanas (Lev. 23:9-21), que,
em o Novo Testamento, é chamada de Pentecostes. O terceiro festival, a Festa
das Cabanas, enfatizava as ações de graças pela colheita; era uma alegre
celebração, que durava uma semana, recordando as jornadas pelo deserto e a
necessidade de um renovado pacto com Deus (Lev. 23:39-43).
Indubitavelmente, o livro dos Salmos, em vários estágios de
desenvolvimento, tomou-se o livro de orações e de louvor dos Templos; o seu
título hebraico significa “cânticos de louvor”. Ele era um repositório rico,
tanto para culto público quanto privado, e continuou a desempenhar esse papel
para judeus e para cristãos.
O Templo era, de maneira suprema, o lugar onde os adoradores
se regozijavam diante de seu Deus, Eles traziam suas ofertas, dízimos e
sacrifícios. O seu culto incluía a música, solos, antífonas, dança, procissões
acompanhados por uma variedade de instrumentos musicais. A queima de incenso
significava as orações do povo que subiam a Deus. Pregação simples e muitas
espécies de oráculos proclamavam paz e segurança. As histórias heróicas dos
patriarcas e soldados de Israel eram recitadas. Orações eram feitas; votos e
vigílias eram observados. A recitação de credos, o pronunciamento de
confissões, refeições e abluções sagradas e o acendimento de fogos sagrados
faziam parte do culto de Israel. Este possuía rica variedade, e suscitava uma
multidão de recordações sagradas, quando o povo pensava na multiforme
misericórdia de Deus e nas poderosas libertações que ele operara.
5. Julgados Pelos
Profetas. Porque Israel, por si mesmo, era tão errado moralmente, diziam os
profetas, o seu culto era errado. Ele tentava substituir misericórdia por
sacrifícios, mas Deus não os recebia (Is. 1:13). Todavia, isto não significa
que os profetas condenavam toda a estrutura do culto e sacrifício. Nem mesmo o
mais solene deles (Amós ou Jeremias) podia encontrar erro no regozijo
expontâneo de Israel diante de Deus. Amós denunciou as suas festas excessivas
(5:21-
24) e os atos de culto que ignoravam o arrependimento
(4:4-6). Os profetas criticaram o culto hipócrita, do tipo que realizava os
atos externos corretamente, mas não levava a um exame íntimo, ao arrependimento
e à vida reta.
Contudo, Israel não ouviu as advertências dos profetas do
oitavo século a.C. Os costumes religiosos dos países vizinhos foram
introduzidos no Templo, e o culto foi ampliado, para incluir ídolos, ao lado de
Yahweh. A reforma mais importante foi liderada por Josias, quando ele suprimiu
a idolatria e tentou purificar o culto em Jerusalém (II Reis 23:4- 25). Porém,
até mesmo a sua influência durou apenas o tempo de seu reinado. Dentro de cerca
de quarenta anos, Jerusalém foi devastada por Nabucodonozor, o Templo foi
queimado, e o seu mobiliário tomou-se despojo de guerra. Para muitos, em Judá,
esta foi a catástrofe final; como poderiam eles cultuar sem o Templo?
6. O Culto Depois do
Exílio. Durante os anos do cativeiro, pararam os rituais sacrificiais. As
festas regulares não puderam ser celebradas, mas um estudioso sugeriu que as
suas estações podem ter sido comemoradas como memoriais, quando as
misericórdias de Deus eram renovadas e as suas esperanças reacendidas para o
futuro. O sábado tornou-se o principal dia de culto regular.
Foi também durante esse período que a sinagoga pode ter
começado, como substituta do Templo e como centro local de estudo e culto.
Privado do culto no Templo, o povo apegou-se, cada vez mais à lei de Deus, de
que era o único guardião. Como lugar de leitura e estudo da lei, a sinagoga era
primariamente uma instituição de ensino. Mas o culto ali consistia de oração,
leitura da Lei e dos Profetas, cântico de Salmos e ensino. Podemos presumir com
certeza que o culto na sinagoga refletia bem, como contribuía para o intenso
espírito de nacionalismo, zelo extremo pelas interpretações rabínicas da Lei,
crescente expectativa escatológica e conceitos de devoção religiosa mais
cerimoniais do que morais — características estas que expressavam um judaísmo
em desenvolvimento. A literatura do período vetero- testamentário e suas
implicações, verificadas claramente no ensino de Jesus, expressavam estas
características do culto desse período.
Depois do exílio, o povo, que havia conservado as suas
características através das décadas de cativeiro estrangeiro, continuou a
observar as festas principais, mas fez algumas modificações nos padrões de
culto. Os profetas cúlticos provavelmente tornaram-se os corais de cantores do
Templo, que usaram diferentes coleções de salmos. A Festa dos Tabernáculos foi
aumentada e dividida em três festivais: Dia do Ano Novo, Dia da Expiação e
Festa dos Tabernáculos.
Presumimos que o segundo Templo não se comparava com o de
Salomão em tamanho e beleza (Ag. 2:3), mas levou vários anos para ser
construído e durou cerca de cinco séculos. Embora o seu santo dos santos não
contivesse mais a arca, o Templo ainda era o centro de culto de Israel e o
símbolo de sua dedicação a Deus.
7. O Papel do livro
dos Salmos. Começando, provavelmente, com os esforços de Davi em favor do
culto coletivo, foi usada uma coleção de Salmos como recurso para o culto.
Depois que o Templo de Salomão foi edificado, e aumentou o número de seus
dirigentes de culto, várias coleções de salmos passaram a ser usadas. E, então,
depois do exílio, essas coleções foram, provavelmente, reunidas e editadas.
Certamente, por volta do último quarto do terceiro século a.C., o livro havia
alcançado o seu atual tamanho e organização. Desta forma, o Saltério teve uma
continua influência no culto hebreu, tanto nos dias do primeiro Templo como nos
do segundo. Os levitas cantavam os Salmos 24, 48, 81, 82 e 92 a 94 todas as
semanas, no culto do Templo. Os Salmos 113 a 118 (Hallel) eram usados como
parte da liturgia das grandes festas anuais de Israel. O culto na sinagoga
também incluía o cântico de salmos.
Uma característica notável dos Salmos é o seu apelo pessoal,
embora primordialmente se pretendesse que eles fossem usados no culto coletivo.
Da mesma forma como os hinários modernos são arranjados para
indicar a direção para Deus e para enriquecer e motivar a alma, também era o
Saltério. Cada fase da peregrinação espiritual e da resposta do homem a Deus é
descrita vividamente: (1) faz-se ação de graças
(Sal. 23; 30-32; 34; 66; 92; 107; 116; 138 e 139; 146); (2)
o clamor por proteção, justiça e vingança, da parte daqueles que são oprimidos
e injustamente acusados, é ouvido (Sal. 7; 11; 26; 42; 43; 52; 54; 56; 64; 70;
120; 140; 142); (3) os mentalmente perturbados são chamados para encontrar
terapia na oração, sono e meditação no santuário (Sal. 3-5; 17; 57; 59; 143);
(4) os doentes, cujas aflições são aumentadas por um senso de culpa pessoal e
injustiça, são chamados para ouvir outras pessoas que tiveram as mesmas
experiências e foram ajudadas por Deus (Sal. 13:22; 28; 31:8-24; 35; 38; 41;
69; 71; 86; 102; 109); (5) aparecem muitas orações pelos doentes (Sal. 6; 39;
62; 83); (6) encontram-se orações de penitentes (Sal. 51; 130); (7) a
conclamação a uma confiança inabalável em Deus firma a alma do salmista e
oferece estabilidade a outrem (Sal. 16; 91; 131).
II. O Culto em o Novo
Testamento
Visto que os primeiros cristãos eram judeus fiéis em seu
culto no Templo e na sinagoga, era-lhes natural que usassem formas familiares,
ao passarem para o contexto cristão. Salmos, orações, leitura e interpretação
das Escrituras continuaram como veículos de culto, mas foram transformados, à
luz da mensagem cristã. Sem dúvida, os cristãos abandonaram o sistema
sacrificial, porque a morte de Cristo decretou o seu fim.
Não temos um quadro claro de culto cristão primitivo em o
Novo Testamento. Aparece apenas uma narrativa da observância da Ceia do Senhor
— e da lamentável perversão desta significativa ordenança, como era praticada
pela igreja em Corinto. O batismo de convertidos é registrado sem descrição
específica do fato de estar ou não relacionado com o culto privado ou coletivo.
Não obstante, precisa ser dito que cada ordenança, tão prenhe de conteúdo
teológico para o culto, era um ato dramático, de envolvimento para os
participantes e testemunhas que cressem. Destas ordenanças, juntamente com a
pregação, consistia o cerne do culto cristão primitivo, cada uma delas
magnificando Jesus, o Cristo, como Redentor ressuscitado e Senhor vivo.
Sem um relato detalhado do conteúdo, da liturgia e da forma
de culto neotestamentário, podemos estar certos de que os ensinamentos de
Jesus, interpretados e complementados pelo ensino dos apóstolos, fez a
contribuição mais notável, tanto para os conceitos quanto para a prática do
culto. O Senhor havia dito: “Deus é espírito, e é necessário que os que o
adoram o adorem em espírito e em verdade” (João 4:24). Essa declaração, embora
não tenha sido registrada no Evangelho antes do fim do período do Novo
Testamento, certamente causou um inesquecível impacto sobre os apóstolos e,
através de seus ensinamentos, sobre a igreja primitiva. E isto tornou-se uma
realidade ainda mais significativa, para os crentes, através da descida do
Espírito Santo. Deus não pode ser localizado. Deus, em Cristo, através do
Espírito, está em toda parte. Ele pode ser adorado em qualquer parte. Ele
precisa ser adorado em realidade, sem a vaidade da ostentação ou a zombaria da
hipocrisia através da infidelidade. Culto é envolvimento com o Pai e com o
Senhor vivo, através do Espírito, na maravilha do louvor reverente, da
confissão penitente, da autodoação e da esperança inabalável.
Embora lembrando, necessariamente, a imaturidade da
comunidade cristã primitiva e o impacto dos conceitos hebraicos, tanto quanto
dos pagãos na vida envolvente da igreja, o culto dos crentes, certamente foi
marcado por convicção dinâmica, quanto à realidade da ressurreição de Jesus e
da emocionante expectativa de sua volta. Quando os fogos da perseguição
cresceram, ao aproximar-se o fim do primeiro século, espalhando os cristãos e
criando pequenos grupos, unidos pela sua confissão de que “Jesus é Senhor”, o
culto deles tomou-se a fonte de consolação e coragem, e a motivação para
compartilharem os seus bens uns com os outros, darem o seu testemunho aos
pagãos e permanecerem fiéis, mesmo em face da morte. Para pessoas de tal
devoção e esperança, as cenas de culto, no livro do Apocalipse, deviam falar
com tremenda força e consolo.
1. A Influência do
Judaísmo. O movimento cristão começou com o judaísmo, e, nos seus primeiros
anos, estava vitalmente ligado a ele. Quando com doze anos, Jesus tomou-se um
filho da Lei, juntou-se aos seus maiores, na peregrinação de Páscoa a Jerusalém
e ao Templo (Luc. 2:41-47). Mais tarde, no auge de seu ministério, Jesus
demonstrou os seus profundos sentimentos pelo Templo, quando expulsou dele os
vendilhões (Mar. 11:15-17). O seu costume de culto regular nas sinagogas é
revelado em sua experiência em Nazaré (Luc. 4:16,17) e em Cafamaum (João 6:59).
Os crentes primitivos dentre os judeus também revelavam uma
dedicação semelhante, tanto ao Templo como à sinagoga. Mesmo depois da
crucificação e ressurreição, eles iam todos os dias ao Templo para “ensinar, e
anunciar a Jesus, o Cristo” (At. 5:42). Anos depois, a despeito da ameaça
contra a sua vida, Paulo se identificou com os requisitos do Templo (At.
21:26). Nesse ínterim, ele não hesitara em cultuar e pregar nas sinagogas da
Ãsia Menor (At. 13:13-16).
Sem dúvida, as Escrituras que os cristãos tinham para o seu
culto na época neotestamentária eram a Lei e os Profetas judaicos, mais outros
livros sacros, inclusive o livro de Salmos. De acordo com os quatro Evangelhos,
Jesus fez citações de vários livros do Velho Testamento, especialmente de
Deuteronômio, Isaías e Salmos. Em sua última sessão de ensinamento registrada,
ele disse, aos seus discípulos: “Importa que se cumprisse tudo o que de mim
estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Luc. 24:44).
Mesmo quando aconteceu a separação entre o judaísmo e o cristianismo,
de maneira total, os crentes adaptaram, a ordem de cultos da sinagoga, às suas
próprias necessidades, e continuaram a examinar as Escrituras.
2. A Influência
Gentílica. Quando o cristianismo entrou no mundo gentílico, algumas
palavras foram emprestadas de culturas não judaicas, para esclarecer idéias
estranhas aos ouvidos gentios. Com a possível exceção de alguns costumes
matrimoniais e festas funerais, todavia, não se pode encontrar nenhum elemento
positivo de culto cristão que tenha vindo diretamente de fontes não- judaicas.
Alguns eruditos tentaram ligar o cristianismo com os deuses
das religiões de mistério, que estavam em ascensão ou declínio, e com repastos
sacros, em que a vida dos deuses supostamente era comunicada (por exemplo, os
rituais de iniciação na seita de Atis e a refeição comunal do mitraísmo).
Quanto à forma, havia semelhanças, mas a essência da refeição cristã pode ser
atribuída apenas à última ceia de Jesus, que tinha raízes na refeição de Páscoa
de Israel.
Três diferenças básicas marcavam o culto cristão, em
comparação com as religiões de mistério: o cristianismo reivindicava
exclusividade, enquanto as seitas de mistério eram confessamente sincretistas.
E, também, o cristianismo proclamava os seus mistérios dos telhados (Rom.
16:25), mas os cultos étnicos ocultavam cuidadosamente os seus segredos. A
pregação era uma atividade básica do culto e missão cristãos. Finalmente, o
cristianismo proclamava uma ressurreição que era primordialmente um triunfo
sobre o pecado, alcançado por Deus encarnado em uma pessoa propriamente dita,
que voluntariamente entregou a sua vida em amor, para libertar o seu povo do
pecado e da morte.
3. Dessemelhanças Cristãs. Embora o culto
em o Novo Testamento estivesse intimamente relacionado com o do judaísmo, algumas
diferenças apareceram, de imediato, e outras se desenvolveram, à medida que o
cristianismo se afastou do judaísmo. Franklin Segler (p. 27 e 28) cita algumas
dessas diferenças, mencionando Phifer:
(1) As obras de
alguns líderes cristãos começaram a suplementar e mais tarde a preceder a Lei e
os Profetas.
(2) Além do livro
dos Salmos, novos hinos foram supridos por escritores cristãos, para enriquecer
o seu culto.
(3) O Batismo e a
Ceia do Senhor tornaram-se características distintivas.
(4) Por causa da
ressurreição de Cristo e de sua promessa do Espírito, um zelo espontâneo
vivificou o culto com um senso da presença de Deus.
(5) Um novo tempo
e um novo lugar também tomaram a sua adoração diferente.
A princípio, os cristãos judeus continuaram o seu culto, no
Templo e/ou na sinagoga, no sétimo dia; mais tarde, começaram a se reunir no
primeiro dia, para comemorar a ressurreição. É claro que os crentes gentios não
se sentiam obrigados a guardar o sábado, a não ser que tivessem sido prosélitos
judeus. Por fim, o primeiro dia da semana como Dia do Senhor se tomou o dia de
culto cristão.
O lugar desse culto no primeiro dia passou de casa em casa
(At. 2:46). Quando as sinagogas começaram a negar hospitalidade às testemunhas
cristãs, as casas particulares e, ocasionalmente, alguns edifícios públicos
tomaram-se o centro de culto. Jesus havia prometido a sua presença quando dois
ou três se reunissem em seu nome (Mat. 18:20), e ele havia mostrado, aos seus
discípulos, que Deus podia ser cultuado em lugares outros que não fossem o
Templo ou as sinagogas. Nem ele nem eles repudiavam edifícios especiais para o
culto, visto que ele era uma experiência espiritual, e a comunidade dedicada
por si própria é que era mais importante.
Embora as características do culto na sinagoga tenham
influenciado o culto cristão primitivo, o Novo Testamento não revela uma ordem
específica. Segler relaciona alguns elementos de culto que são mencionados em
vários lugares do Novo Testamento: a música tinha um lugar central; as
Escrituras eram lidas; a oração era importante; os adoradores diziam
“Amém", para expressar a sua aprovação; um sermão ou exposição da
Escritura tinha lugar importante; a exortação parecia ser essencial; as ofertas
eram costumeiras; confissão aberta de fé ou de pecado era praticada; e tanto o
batismo como a Ceia do Senhor eram observados (p. 29-31).
4. Batismo. O
batismo cristão originou-se, em parte, do batismo de prosélitos judaicos, a
cerimônia de purificação anterior à entrada no santuário, e do batismo
praticado por João Batista. Quando um gentio se convertia ao judaísmo,
requeria-se que ele se imergisse em água na presença de duas testemunhas. Desse
banho, ele saía como “filho renascido”, simbolizando que renunciava ao seu
passado pagão e que tinha um novo relacionamento com Deus, como aceito por ele.
O batismo de João diferia do batismo de prosélitos judaicos,
porque ele declarava que até os judeus, o povo escolhido de Deus, precisava de
purificação. Ele era diferente também em sua forte ênfase escatológica. João
estava proclamando uma preparação para uma nova era, em que Deus iria purificar
e recriar todo o mundo. O batismo de João, portanto, simbolizava, em cada
participante, o que Deus logo realizaria para toda a humanidade, através do
Messias. Cada pessoa arrependida que era batizada por João era, por
conseguinte, submetida ao juízo de Deus sobre este mundo mau (Luc. 3:16,17).
Poderia esta ser a sugestão para o significado do batismo de nosso Senhor? \
Com todos os seus antecedentes cerimoniais tão ricos, o
batismo cristão herdava a sua peculiaridade do exemplo e missão de Jesus. O
batismo dele fora uma entrega decisiva à sua relação peculiar com Deus e ao seu
papel como Servo Sofredor, que iria cumprir a sua missão na cruz e na
ressurreição. Ele iria sofrer pessoalmente, pelos homens, o batismo de fogo
(Luc. 12:49,50). A sua missão não era de destruição judiciária, mas de
sofrimento pessoal, que propicia vida através de sua morte na cruz.
Os cristãos primitivos consideravam a Igreja como a
comunidade do Espírito. Para eles, isto fora manifestado pela primeira vez
quando Jesus fora ungido como Messias, por ocasião de seu batismo (At.
10:37,38). Portanto, eles associavam o batismo de Jesus nas águas com a vinda
do Espírito Santo. Assim, a entrada na comunidade do Espírito era simbolizada
pelo batismo, e este tomou- se um requisito para a filiação à Igreja.
A forma do batismo cristão era semelhante à de João, mas
estava cheia de um novo significado, que Cristo lhe propiciou. Retratava não
apenas a lavagem do pecado através do arrependimento, mas também o recebimento
do Espírito Santo, da mesma forma como Jesus o havia recebido (At. 2:38). Para
entrar na Igreja, a pessoa precisa ser batizada em nome de Jesus. Esta era uma
forma de se proclamar publicamente Jesus como o Messias e confessá-lo como
Senhor. Simbolizava também a entrada no corpo salvador do próprio Cristo.
Com toda a discussão referente às cerimônias, em o Novo
Testamento, parece estranho que nenhuma passagem, alguma vez, descreva uma
controvérsia a respeito do batismo. Ele parece ter sido um costume firmemente
estabelecido, a respeito do qual Paulo escreve: “Um só Senhor, uma só fé, um só
batismo” (Ef. 4:5).
Alguns estudiosos crêem que a pergunta do etíope, a Filipe,
era a pergunta litúrgica costumeiramente feita por todo candidato. O
administrador do batismo responderia: “É licito, se crês de todo o coração.” E
então o candidato fazia esta profissão de fé: “Creio que Jesus Cristo é o Filho
de Deus” (At. 8:36-39). Outras confissões de fé também estão relacionadas com o
batismo, tais como “Jesus é Senhor” (I Cor. 12:3), que é, talvez, a mais
antiga. Outras podem aparecer em João 2:22; Romanos 1:3-6; 8:34; 10:9,10;
I Coríntios 15:3 e ss.; I Timóteo 3:16; 6:13,14; II Timóteo
2:8; I Pedro 3:18-22.
A forma mais antiga de batismo era uma só imersão na água
(de preferência água corrente), da pessoa que confessasse pessoalmente: “Creio
que Jesus Cristo é o Filho de Deus.” Ele marcava o inicio de uma nova vida na
nova comunidade messiânica do Senhor ressurreto.
5. A Ceia do Senhor.
Sem se contar as narrativas da instituição da Ceia do Senhor encontradas nos
Evangelhos (Mat. 26:26-30; Mar. 14:22-26; Luc. 22: 19,20) e referências
implícitas no livro de Atos (2:42; 10:41; 20:11), a instrução de Paulo, aos
coríntios (I Coríntios 10 a 11), propicia o material que serve de suporte para
a observância da Ceia do Senhor, como um aspecto do culto da igreja primitiva.
De maneira bem suscinta, umas poucas observações podem ser
sugestivas para a compreensão e apreciação. (1) Foi intenção e ordem de Jesus
que a Ceia fosse observada, pelos crentes, como lembrança contínua, que
deixasse impressão de seu sacrifício para remissão de pecados, sendo designada
esta observância, aparentemente, para tomar-se um ritual que dramatizasse a
verdade da redenção da maneira mais significatica possível e para inspirar o
desejo mais santo de o participante se envolver com o sofrimento de Cristo
através da penitência, ações de graças e dedicação.
(2) A observância da Ceia devia declarar a fé pessoal no
sacrifício de Cristo, como meio de redenção, de unidade coletiva no Corpo de
Cristo e de expectativa de sua volta. (3) A observância da Ceia leva a um exame
próprio espiritual, à luz do significado da morte de Cristo e de seu senhorio
sobre a vida. Tal exame próprio, juntamente com o simbolismo dos elementos e do
conteúdo teológico da ordenança, deve fazer do culto, através da Ceia, um
veículo de bendita renovação, purificação e dedicação.
Parece que a Ceia era celebrada diariamente, ou pelo menos
bem frequentemente. Como acontecia com os cultos de adoração regulares, ela era
realizada nos lares dos crentes (At. 2:46), sendo cada pessoa responsável por
levar sua própria comida ou algo para a mesa comum. Orações, salmos, leitura da
Escritura, e, mais tarde, pregação, tiveram lugar no alegre culto.
6. Fontes
Extrabíblicas. Dois documentos do segundo século lançam mais luz sobre o
culto cristão primitivo. Um é uma carta (c. 113 d.C.) de Plínio, governador da
Bitínia, ao Imperador Trajano, baseada em informações recebidas de pessoas que
haviam sido cristãs:
Eles insistiam que o total de sua culpa ou erro residia
nisto: que estavam acostumados, em um dia especial, a se reunirem antes da
alvorada, e a cantar, antifonicamente, um hino a Cristo, como se ele fosse
deus, e ajuramentar-se por um voto, não para qualquer propósito errado, mas
para não cometerem roubo ou furto nem adultério, nem a não cumprir a palavra
dada ou a negar a entrega de um depósito, quando solicitada. Depois disto, era
costume deles se separarem, e se reunirem de novo para comerem, porém alimentos
comuns e inofensivos.
O segundo documento é conhecido como Primeira Apologia de
Justino Mártir, escrita em 150 d.C. e endereçada ao Imperador Adriano e outros.
Três longos parágrafos, perto do fim, falam do culto cristão. Era realizado no
domingo, e começava imediatamente com a leitura das Escrituras, tanto da
Septuaginta quanto dos Evangelhos. Depois vinha o sermão, pelo bispo, que o
pronunciava de sua cadeira. Em seguida, a congregação se levantava e, com os
braços estendidos, fazia as suas orações comuns. Um diácono propunha um pedido
especial de oração. Esse pedido era seguido por um intervalo de intercessão
individual, silenciosa. Depois o bispo resumia as orações da congregação na
“coleta”. Essas orações eram extemporâneas
e entoadas em um cantochão, algo intermediário entre fala e cântico;
terminavam com um alto “amém” da congregação. A palavra que Justino usou
significa “gritar aplaudindo”. Significa não apenas “assim seja”, mas também
resumia a grande expectativa, da congregação, de que Deus iria responder. A
expectativa se baseava no cumprimento que já estava presente em Cristo. Isto
pode explicar o que Paulo queria dizer quando escreveu: “Pois, tantas quantas
forem as promessas de Deus, nele está o sim; portanto, é por ele o amém, para
glória de Deus por nosso intermédio” (II Cor. 1:20).
No fim das orações comuns, dava-se o beijo de paz, que era
um costume oriental, comparável ao ato de nos darmos as mãos (Luc. 7:45). Cada
cristão então trazia a sua oferta de pão e vinho, que os diáconos colocavam
sobre a mesa, para a oração e consagração, que era feita pelo bispo. Esta
oração extemporânea terminava com o “amém” congre- gacional. E então os
diáconos serviam ao povo. Nenhuma bênção ou qualquer outra espécie de
devocional era feito, porque a Ceia do Senhor era, por si mesma, em sua totalidade,
o clímax do culto.
III. Implicações da
Adoração Contemporânea
1. Senso da
Proximidade de Deus.
A alegria de Israel estava arraigada em sua consciência de
Deus. Os patriarcas hebreus criam que Deus estava-lhes muito próximo, sendo
muito real. Ele não apenas controlava o mundo, mas estava perto como um amigo
pode estar. Para eles, culto era aproximação de Deus. Eles podiam fazer isto
porque ele já se aproximara deles. Quando Deus visitou o seu povo, o lugar de
sua visita foi marcado por um altar.
A estrutura do tabernáculo marcava os degraus da aproximação
de Deus. O santo dos santos, onde somente o sumo sacerdote podia entrar, era o
lugar mais próximo de Deus. O próprio tabernáculo era uma constante recordação
da presença de Deus, que “tabernacula” entre os homens. O próprio Jesus tornou-
se o tabernáculo final de Deus; ele “habitou (tabemaculou) entre nós” (João 1:
14). Um culto significativo inclui uma percepção mística da proximidade de
Deus.
2. Ofertas.
Quando Israel se apresentava diante de Deus, levava ofertas: dízimos, primícias
e primogênitos, e sacrifícios. Quando Moisés recebeu a oferta para o
tabernáculo, o povo foi tão generoso que ele precisou falar que já chegava (Êx.
36:6). A igreja primitiva também dava grande ênfase à contribuição liberal.
Paulo chegou a dizer que o ladrão devia parar de roubar, e trabalhar com as
suas mãos, não para que pudesse prover as suas próprias necessidades, mas para
que tivesse algo com que ajudar os necessitados (Ef. 4:28).
3. Sacrifícios.
Uma forma de acesso a Deus, para Israel, eram os sacrifícios e ofertas
pacíficas. Não eram tentativas para comprar o favor divino. Pelo contrário,
eram provisões do próprio Deus para a reconciliação. Os que faziam sacrifícios
estavam praticando a humildade e obediência que Deus requeria. O sangue
derramado sobre o altar era vida, que só Deus pode dar. É sempre Deus que faz a
provisão para a expiação. O sangue é símbolo de vida. Representa a
personalidade, o tempo e a propriedade que estão sendo entregues a Deus.
Tendo em seus antecedentes os sacrifícios e o sacerdócio
levíticos, o novo Israel chegou a reconhecer em Cristo não apenas a presença
taberculadora de Deus, mas o grande Sumo Sacerdote desse povo, que também é o
sacrifício último e final pelo pecado, tornando obsoletos todos os altares
ensangüentados. Ele foi oferecido pelo pecado uma vez por todas (Heb. 9:28).
4. Purificação e
Consagração. O Dia da Expiação era o mais solene de todos os dias, quando,
anualmente, se fazia purificação pelo templo, pelos sacerdotes e por todo o
povo (Lev. 16). O culto de Israel dava grande ênfase à purificação e à lavagem
das vestes (Êx. 19:10-13), e na consagração. Esta atitude tornou-se parte
essencial do culto da igreja primitiva (Rom. 12) e devia marcar para sempre o
culto do crente. A exigência de Deus para a reconciliação inclui purificação e
renovação.
5. Interesse Social.
O culto em Israel tomou a nação cônscia de sua relação não apenas com Deus, mas
também com tudo o que Deus criou, especialmente os necessitados, os oprimidos,
os órfãos, os enfermos e os que não podiam cuidar de si mesmos. Muitas foram as
promessas de Deus para os que cuidam dos pobres, é muitas foram as suas advertências
contra os que oprimem os pobres.
6. Inspiração e Esperança. O cântico, a pregação, o ensino,
a oração e a comunhão da igreja têm a intenção de dar inspiração ao que presta
culto, para que ele possa carregar o seu fardo e a sua aflição com as forças de
Deus. O culto deve reacender a esperança e a confiança no triunfo final de Deus
e de sua bondade. A comunhão do culto nos faz lembrar que não estamos sozinhos.
Somos todos membros do corpo de Cristo, em cujo amor nascemos, em cuja força
levamos os nossos fardos e em cuja graça encontramos perdão e vida eterna.
7. Êxtase no Culto.
Êxtase faz parte do culto cristão. A Igreja experimentou êxtase, quando o
vento, fogo e línguas manifestaram a evidência da presença do Espírito Santo.
Esse sentimento exaltado seguiu-se a muita oração e forte convicção. A oração
de Pedro causou uma visão em êxtase. A visão de Estêvão também teve elementos
de êxtase (At. 7:55). A conversão de Paulo incluiu êxtase (At. 9:22). Quando
ele foi levado até o terceiro céu, ouviu coisas inefáveis, e não sabia se
estava no corpo ou fora dele (II Cor. 12:2-4). João estava “no Espírito no dia
do Senhor” (Apoc. 1:10); nesse estado de êxtase ele ouviu uma voz e teve uma
visão.
O Novo Testamento descreve estas experiências e dá um grande
valor a viver no Espírito como padrão normal da experiência cristã.
8. Participação
Vital. Os padrões bíblicos nos mostram que o culto inclui participação
vital. Muitas pessoas com mais de trinta anos de idade saem de uma reunião de
culto, perguntando: “O que ele disse?” Elas estão acostumadas com formas
verbais de percepção. Mas as que têm menos de trinta anos estão perguntando: “O
que aconteceu?” Elas estão acostumadas à percepção que vem da participação.
Querem um culto que seja um “acontecimento”. O culto primitivo tinha esta
qualidade. Quantas vezes o nosso culto é reduzido a uma descrição de segunda
mão, da realidade, em vez de um acontecimento em que verdadeiramente se
encontra Deus. A Igreja precisa novamente aproveitar-se da infinita variedade
de formas e de substância que está à sua disposição, para vivificar o culto e
nos dar novamente uma excitação sagrada.
9. Dever e
Privilégio. Uma admoestação significativamente importante, relacionada com
o culto, encontra-se em Hebreus 10:25. O seu contexto devia ser amplamente
aplicável à experiência dos cristãos da época neotestamentária e deve sê-lo
igualmente a esta época em que vivemos. A reunião para culto coletivo é um
dever que não deve ser tratado levianamente. As urgentes necessidades
espirituais dos crentes, satisfeitas de maneira tão rica e abundante, através
de um culto significativo, incluem uma obrigação, da parte deles, de buscarem o
enriquecimento do coração e da mente, e a renovação de propósito e da
esperança, que provém do culto. A comunhão com Deus, através da reação à sua
graça e verdade e através da instrução e da obra santificadora do Espírito,
purifica e consagra a vida de seu povo. Além disso, esse culto equipa o povo de
Deus com visão e compaixão, para tornar-se os servos de Deus no mundo. Aquilo
com que o culto contribui para o crente, faz dele um dever sagrado demais para
ser negligenciado.
Por digno que seja um senso de dever, o senso de privilégio
é o impulso que deve caracterizar a reação do crente. Mais uma vez, a passagem
de Hebreus (10:19- 26) é eloquente, com apelo persuasivo. O povo remido, de
Deus, tem um caminho vivo de acesso direto a Deus — o Santo, oTodo Poderoso, o
Deus de glória e graça — através do Mediador vivo, que tomou possível este
acesso, para todas as pessoas, mediante o derramamento de seu sangue. Nesta
base, todos são convidados a se aproximarem de Deus com plena certeza de fé, ou
seja, plena confiança de serem aceitos na própria presença e vida do próprio
Deus. O culto cristão é o privilégio de se tributar louvor ao Deus eterno,
inclinando-se em devoção diante do Senhor do céu e da terra, declarando amor e
gratidão ao Salvador, e recebendo o perdão, a alegria e a força da vida no
Espírito.
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