segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Tema:

"Bem-aventurados os pobres de espírito."

A SUPREMA BEM-AVENTURANÇA
Mateus 5:3
Antes de entrar no estudo detalhado de cada bem-aventurança se impõem duas observações de ordem geral.

(1) Pode perceber-se que todas as bem-aventuranças possuem a mesma forma. No original em grego não aparece o elo que une, em português, as duas partes de cada bem-aventurança. Por que é assim?
Jesus não pronunciou as bem-aventuranças em grego mas em aramaico, que era a classe de hebreu que os judeus falavam naquela época. Em aramaico e hebreu há uma expressão muito corrente, que é uma espécie de interjeição e que significa: "Que feliz é...!" Esta expressão (em hebreu clássico asheré) é muito comum no Antigo Testamento. Por exemplo, o
Salmo 1 começa com essa expressão, e quer dizer literalmente: "Que feliz o homem que não andou acompanhado nem obedeceu o conselho dos maus!" (Salmo 1:1). Esta é a mesma forma que Jesus utiliza nas
"bem-aventuranças". As bem-aventuranças não são simples afirmações, são exclamações enfáticas: "Que feliz é o pobre de espírito...!"
Isto é muito importante, porque significa que as bem-aventuranças não são piedosas exclamações de esperança no que poderia chegar a ser; não são profecias brilhantes com um halo de glória futura em algum céu distante; são exclamações de alegria por algo que já é, que já existe. São felicitações. A bem-aventurança que recebe o cristão não é uma bem-aventurança posposta para um estado futuro de glória celestial, a não ser algo que já existe aqui e agora. Não é algo que o cristão receberá, mas algo que já recebeu. Certamente obterá a plenitude de cada dom quando puder gozá-lo na presença plena de Deus, mas enquanto isso cada dom é algo que já, aqui e agora, pode-se desfrutar.

As bem-aventuranças, com efeito, dizem: "Que felicidade é ser cristão! Que alegria seguir a Cristo! Que alegria conhecer a Jesus como
Mestre, Salvador e Senhor!"

A forma mesmo das bem-aventuranças nos indicam que são exclamações de gozosa surpresa e radiante felicidade pela realidade da vida cristã. Em face das bem-aventuranças se faz impossível toda interpretação do cristianismo como uma religião triste e carente de entusiasmo contente.







(2) A palavra "bem-aventurados", que se usa em cada uma das bem aventuranças, merece uma atenção muito especial. Em grego é a palavra
makários, que em geral se usa para descrever aos deuses. Na fé cristã há um prazer e alegria que são divinos. O significado de makários poderá entender-se melhor a partir de um de seus usos comuns na literatura daquela época. Os gregos sempre chamaram a ilha de Chipre " makária" (a ilha feliz) porque acreditavam que era uma terra tão bela, tão rica, tão fértil que ninguém precisava transpor suas linhas costeiras para viver uma vida feliz, posto que nela havia todo o necessário para uma existência perfeita. Tinha tal clima, tais flores, frutos e árvores, tais minerais, tais recursos naturais, que continha em si tudo o que era necessário para uma felicidade perfeita. Makários então descreve uma alegria autossuficiente, que possui em si mesmo o segredo de sua própria irradiação, essa alegria sereno, intocável e autônomo que não é afetado pelas diferentes circunstâncias da vida. A felicidade humana depende das ocasiões e circunstâncias cambiantes da existência, algo que a vida pode dar ou pode tirar. A bem-aventurança cristã está livre de qualquer risco ou ardil. Nada pode tocá-la ou atacá-la. "Ninguém vos tirará vossa alegria", disse Jesus (João 16:22). As bem-aventuranças nos falam dessa alegria que sai a nosso encontro até no meio da dor, aquela alegria que não podem manchar nem o sofrimento, nem a tristeza, nem o desamparo, nem a perda de algo ou alguém que queremos muito. É a alegria que brilha através das lágrimas e que nada, nem na vida nem na morte, pode arrebatar.

O mundo pode ganhar e, da mesma maneira, perder suas alegrias.
Uma mudança na fortuna, um colapso da saúde, a desilusão que nos ocasionam as ambições que não podemos cumprir, até o mau tempo pode nos privar dessa migalha de alegria que o mundo pode dar. Mas o cristão possui essa alegria sereno e intocável que provém de andar sempre na companhia de Jesus e estar sempre em sua presença.
O maior das bem-aventuranças é que não são visões esperançadas de alguma realidade futura; nem são promessas douradas de glórias distantes; são exclamações triunfais ante a realidade da alegria permanente que nada no mundo pode tirar.








A BEM-AVENTURANÇA DOS DESTITUÍDOS

Mateus 5:3 (continuação)

Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;

É surpreendente que se comece a falar da felicidade dizendo:

"Bem  aventurados os pobres de espírito."

Há duas formas de entender o significado da palavra "pobres".
Tal como nós ás temos, as bem-aventuranças estão, originalmente, no idioma grego, e a palavra que se utiliza para dizer "pobres" é ptojói.
Em grego há duas palavras que designam a pobreza. Uma delas é penés.
Penem é o homem que tem que trabalhar para ganhá-la vida, aquele que se serve a si mesmo atendendo suas necessidades com suas próprias mãos (autodiákonos). Penés é o homem de trabalho, o operário, que não tem nada que o sobre, o homem que não é rico mas que tampouco sofre miséria. Mas, como já o vimos, na bem-aventurança não se usa a palavra penem, a não ser ptojós, que descreve a pobreza absoluta e total de que está fundo na miséria. Está relacionada com a raiz ptoséin que significa agachar-se ou encolher o corpo; descreve, portanto, a pobreza do que não pode levar a frente em alto e pede, ajoelhado, encolhido, que lhe ofereça uma esmola para aliviar sua situação. Como dissemos, penés descreve ao homem que não tem nada supérfluo; ptojós, em troca, descreve o homem que não tem nada. Tudo isto faz que a bem-aventurança seja até maisdifícil de entender. O homem que não tem nada, diz-nos, que sofre a mais abjeta miséria, é um bem-aventurado. Bem-aventurado o homem que está na pobreza mais absoluta. Tal como o vimos anteriormente, as bem-aventuranças, entretanto, não foram pronunciadas originalmente em grego, a não ser em aramaico.

Os judeus usavam a palavra "pobre" com um sentido muito especial. Em hebreu as palavras que significam pobre são 'ani e ebion. Estas duas palavras sofreram, na evolução do idioma hebreu, uma quádrupla mutação de significado.

(1) A princípio significavam simplesmente pobre, e portanto, sem poder, ou prestígio, e influência.

 (2) Portanto, porque se sofria de pobreza, carecia-se de influência, poder. ou prestígio.

(3) Em terceiro lugar significaram carecer de poder, ou influência, e portanto, oprimido, explorado ou avassalado pelos capitalistas.

 (4) Por último deveram significar ao homem que, por não possuir nenhum recurso terrestre, coloca toda sua esperança e confiança em Deus. De maneira que em hebreu a palavra "pobre" designava ao homem humilde que põe toda sua confiança em Deus. É com este sentido que o salmista usa a palavra quando escreve:

"Este pobre clamou, e lhe ouviu Jeová, e o livrou de todas suas angústias" (Salmo 34:6).

Nos Salmos o que é pobre neste sentido recebe a misericórdia e o amor de Deus, "Pois o necessitado não será para sempre esquecido, e a esperança dos aflitos não se há de frustrar perpetuamente" (Salmo 9:18). Deus liberta os pobres (Salmo 35:10).

"Em tua bondade, ó Deus, fizeste provisão para os necessitados" (Salmo 68:10).

"Salvará os filhos do necessitado, e esmagará ao opressor". (Salmo 72:4).

"Levanta da miséria ao pobre, e faz multiplicar as famílias como rebanhos de ovelhas" (Salmo 107:41).

"A seus pobres saciarei de pão" (Salmo 132:15).

 Em todos estes casos o pobre é o homem humilde e impossibilitado, que colocou sua esperança e confiança em Deus.

Reunamos agora os dois aspectos deste termo; o grego, por um lado, e o aramaico, pelo outro. Ptojós descreve ao destituído total, ao homem que não possui nada; 'ani e ebion descrevem ao pobre, ao humilde, ao impotente, que colocou sua esperança em Deus.
Portanto,"Bem-aventurados os pobres" significa:

 "Bendito e feliz é o homem que tomou consciência de sua total necessidade, e que colocou sua confiança em Deus."
Se alguém se fizer consciente de sua total destituição e põe toda sua confiança em Deus entram em sua vida dois elementos que são as caras opostas de uma mesma realidade. Em primeiro lugar, muitas coisas lhe serão indiferentes, porque saberá que não pode receber felicidade nem segurança das coisas; por outro lado, em segundo lugar, sentirá que Deus, no fundo, é verdadeiramente a única coisa que lhe importa. Porque saberá que Deus é o único que pode lhe oferecer ajuda, esperança e fortaleza. O "pobre em espírito" é o homem que se deu conta que as  coisas não significam nada, e que Deus o significa tudo.
Não devemos pensar que esta bem-aventurança é um elogio da pobreza material. A pobreza não é boa. Jesus nunca teria qualificado de
"bem-aventurada" a condição de quem vive em vilas miseráveis ou tugúrios e não têm o suficiente para comer e são acossados constantemente pelas enfermidades, porque tudo está contra eles. O evangelho cristão tem como um de seus objetivos a eliminação desta classe de pobreza. A pobreza bem-aventurada é a do "pobre em espírito", a do espírito que reconhece sua própria falta de recursos para fazer frente às exigências da vida e encontra a ajuda e a fortaleza que necessita em
Deus.
Jesus diz que a estes pobres pertence o Reino dos céus. Por que tem que ser deste modo? Se tomarmos duas das petições do Pai Nosso e as lermos juntas, "Venha seu Reino, seja feita a tua vontade assim na terra como no céu", obtemos a seguinte definição: "O Reino dos céus é uma sociedade na qual a vontade de Deus se faz na Terra do mesmo modo que no céu". Isto significa que somente aquele que faz a vontade de Deus na Terra é cidadão do Reino dos céus; e somente podemos fazer a vontade de Deus quando nos damos conta de nossa própria total impotência, de nossa própria total ignorância e de nossa própria total  incapacidade para responder satisfatoriamente às exigências da vida, e quando, portanto, pomos toda nossa confiança em Deus. A obediência sempre se baseia na confiança. O Reino de Deus é a posse inalienável dos pobres em espírito, porque os pobres em espírito hão, tomado consciência de sua destituição total e aprenderam a confiar e obedecer.
De maneira que a primeira bem-aventurança significa:

“Quão feliz é o homem que se deu conta de sua total destituição e pôs toda sua confiança em Deus, porque somente deste modo pode oferecer a Deus essa perfeita que o converterá em cidadão do Reino dos céus!”.




Fonte: Comentário Bíblico do N.T.de, Willin Barclay 







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