segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Tema:

A BEM-AVENTURANÇA DO ESPÍRITO FAMINTO

A BEM-AVENTURANÇA DO ESPÍRITO FAMINTO
Mateus 5:6

As palavras não existem no vazio. Possuem uma história inscrita nas experiências e no pensamento de quem as usa. O significado de cada palavra está condicionado pela experiência da pessoa que a usa. Esta afirmação geral se cumpre, de maneira particular, no caso desta bem-aventurança. Alguém que a escutasse pela primeira vez receberia uma impressão muito distinta da que produz em nós.
A verdade é que muito poucos, entre nós, dadas as condições modernas de vida, sabem o que significa ter fome ou sede. No mundo antigo era muito diferente. O salário de um operário, naquela época, era o equivalente a 8 centavos de dólar, e ainda considerando o maior valor aquisitivo do dinheiro naquela época, não havia muito que se pudesse fazer com essa soma. Na Palestina se comia carne somente uma vez por semana, e o operário estava permanentemente por um fio bordo da inanição ou seja da verdadeira fome, que pode chegar a ocasionar a morte. Muito mais grave era o problema da bebida. Na antiguidade a maioria das pessoas não dispunha de água corrente em suas casas. Quem saía de viagem podia a qualquer momento ser surpreendido por uma tormenta de ar quente. Não havia nada que pudesse fazer, exceto envolver a cabeça em seu turbante, dar as costas ao vento e esperar que passasse a tormenta, enquanto a areia entrava pelo nariz e a boca ao ponto em que só podia respirar e crescia nele uma imperiosa sede que não podia satisfazer. Nas condições da vida moderna, no mundo ocidental, não há paralelos que possam servir como comparação de situações como estas.
De modo que a fome desta bem-aventurança não é um "apetite" que pode satisfazer-se comendo um bocado na metade da manhã; e a sede não é a que se sacia com uma bebida refrigerante. É a fome do homem que durante toda sua vida não comeu o suficiente para satisfazer-se e além disso, possivelmente, há vários dias que não tem nada para comer, é a sede do homem que morrerá a menos que encontre água para beber.
Sendo assim, esta bem-aventurança é em realidade uma pergunta e um desafio. Em efeito, o que pergunta é: Até que ponto você deseja a justiça? Você a quer na medida em que o faminto deseja algo para comer, ou o sedento algo para beber? Em outras palavras, qual é a intensidade verdadeira do desejo de justiça que nos anima?
Há muitos que experimentam um desejo instintivo de justiça, mas é um desejo nebuloso e generalizado antes que agudo e concreto. Quando chega o momento de tomar uma decisão não estão preparados para o esforço. Não estão dispostos a fazer o sacrifício que a justiça demanda.
Há muitos que sofrem do que Robert Louis Stevenson chamava "a enfermidade de não querer". É evidente que o mundo mudaria radicalmente se quiséssemos a justiça mais que nenhuma outra coisa.
Quando enfocamos esta bem-aventurança deste ponto de vista, é verdadeiramente a mais exigente e terrível de todas as bem-aventuranças.
Mas não somente é a bem-aventurança que mais exige do homem, mas também a que mais consolo lhe oferece. Seu pano de fundo é que o homem que recebe a bem-aventurança não é o que obtém a justiça e a bondade mas sim o que as deseja de todo o seu coração. Se a bênção de Deus descansasse somente sobre o que é justo ou bondoso, ninguém seria digno de bem-aventurança alguma. Mas a bem-aventurança é recebida pelo homem que, apesar de seus fracassos e limitações, segue desejando apaixonadamente a perfeição espiritual e moral. H. G. Wells observava em certa oportunidade que "pode-se ser mau músico, mas estar apaixonadamente apaixonado pela música".
Robert Louis Stevenson falou dos que "mesmo tendo se afundado muito profundamente no pecado, aferram-se à pouca justiça que resta, como sua posse mais apreciada, no prostíbulo, no patíbulo".
Sir Norman Birkett, o famoso advogado e juiz no campo criminal, falava de sentenciados que tinha conhecido em sua experiência profissional, e dizia que sempre fica em qualquer homem, por mais que tenha caído, uma inextinguível fome de algo, e se referia à bondade como esse "caçador que nunca se cansa de nos perseguir". Até o pior dos homens "está condenado a alguma forma de nobreza".
A verdadeira maravilha em relação aos seres humanos não é que sejam pecadores mas sim, até sendo-o, sempre desejam, em maior ou menor grau, a justiça, e que mesmo estando inundados no barro não perdem a visão das estrelas. Davi sempre quis construir o Templo de
Deus, mas nunca conseguiu fazê-lo; foi-lhe proibido e negado que cumprisse sua ambição maior. Mas Deus lhe disse: "Já que desejaste edificar uma casa ao meu nome, bem fizeste em o resolver em teu coração" (1 Reis 8:18).
Em sua misericórdia Deus não nos julga somente por nossos logros mas também por nossos sonhos. Até se alguém não obtém totalmente a justiça que deseja, até se quando está a ponto de pôr-se o sol de sua vida ainda, continua experimentando fome e sede dessa justiça, não fica excluído da bem-aventurança.
Há outro aspecto desta bem-aventurança, que somente podem percebê-lo os que têm acesso ao texto em grego. Uma das regras do idioma grego é que os verbos como "ter fome" ou "ter sede" sempre estão seguidos de um substantivo em caso genitivo. O caso genitivo é a forma gramatical que em português se constrói com a preposição de. A palavra "homem" em caso genitivo é "do homem". O genitivo que vem depois de verbos como os que se citaram se denomina em grego "genitivo partitivo", ou seja o genitivo das partes. Se dissermos, por exemplo, "tenho fome de pão", não se trata de todo o pão, mas sim do pão necessário para acalmar a fome e possivelmente um pouco mais. Se disser "Tenho sede de água", não é toda a água que há no rio, ou no poço, mas sim de um pouco de água. Mas nesta bem-aventurança a palavra "justiça" não está, como corresponde, em caso genitivo (partitivo) mas em acusativo, algo muito pouco comum em grego.

Quando verbos como "ter fome" ou "ter sede" vão seguidos de um acusativo, o significado da oração é que se tem fome ou sede da totalidade do objeto ou objeto direto do verbo. Dizer "Tenho fome de pão" com "pão" em acusativo, significa "Quero comer todo o pão". Dizer "Tenho sede de água" com "água" em acusativo, significa "Quero tomar toda a água que há na jarra". Portanto a tradução correta desta parte da bem-aventurança seria:

Bem-aventurados os que têm fome e sede de toda a justiça, da justiça total, da justiça absoluta. Isto é algo que em geral muito poucos experimentam.

Contentam-se em ter alcançado um pouco de justiça. Alguém pode ser um homem bom no sentido que por mais que alguém o proponha e procure nele, não pode atribuir-lhe mal algum. Sua honestidade, sua moralidade, sua respeitabilidade estão além de qualquer questionamento; mas, ao mesmo tempo, ninguém pode ir a esse homem com tristeza e chorar sobre seu peito, porque imediatamente se retrairia. Pode haver justiça acompanhada de dureza, de um espírito de censura, de falta de simpatia.
Esta justiça não é autêntica bondade moral, é uma justiça parcial. Por outro lado, possivelmente haja outro homem, suscetível a muitas formas de pecado; possivelmente beba, diga más palavras, jogue por dinheiro e perca as estribeiras co muita frequência; e entretanto quando alguém junto a ele passa por um momento difícil, é capaz de lhe dar até o último centavo que tem em seu bolso, e de tirar o casaco para abrigá-lo. Mas esta também é uma justiça parcial. O que esta bem-aventurança afirma é que não basta satisfazer-se com uma justiça parcial. É bem-aventurado aquele que tem fome e sede de uma justiça total. Não basta a conduta moral impecável sem compaixão, nem a mais apaixonada solidariedade humana sem uma vida reta.

De maneira que a tradução da quarta bem-aventurança, seria como segue:

Quão feliz é o homem que deseja a justiça total do mesmo modo como o que tem fome deseja o alimento, ou o que morre de sede deseja a bebida, porque este receberá a satisfação de seu desejo!



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