A
BEM-AVENTURANÇA DO CAMINHO MANCHADO DE SANGUE
Mateus 5:10-12
(continuação)
Quando nos damos conta de qual
foi a origem das perseguições, percebemos também em todo seu esplendor a glória
do caminho que os mártires seguiram. Pode parecer injurioso referir-se à
"bem-aventurança dos perseguidos", mas para os que têm olhos para ver
mais além do presente imediato, e podem compreender a nobreza dos problemas envoltos,
esse caminho manchado de sangue é verdadeiramente um caminho glorioso.
(1) A perseguição era uma
oportunidade para demonstrar a lealdade para com Jesus Cristo. Um dos mártires
mais famosos foi Policarpo, o ancião bispo da Esmirna. A multidão enfurecida o
arrastou ao tribunal do magistrado romano. Foi-lhe oferecida a opção iniludível
de sacrificar diante de César ou sofrer a pena de morte. "Durante oitenta
e seis anos", foi a imortal réplica, "servi a Cristo, e ele nunca me
fez mal algum”.
Como posso agora, na minha idade,
blasfemar de meu Rei, que me salvou?"
De modo que o levaram até a pira
para queimá-lo vivo, e sua última oração foi:
"Ó Deus Onipotente, Pai de
seu bem amado e bem-aventurado Filho, por quem recebemos o conhecimento de seu
nome, dou-te graças por me haver considerado digno deste momento e desta hora."
Esta era a suprema oportunidade para demonstrar a lealdade a Cristo.
Muitos de nós jamais tivemos que
fazer um verdadeiro sacrifício por amor de Jesus Cristo. Aqueles momentos em
que nossa fé pode chegar a nos custar algo são os momentos em que nos é dado
demonstrar nossa lealdade a Jesus Cristo, de maneira tal que todos possam ser testemunhas
da fé que professamos.
(2) Sofrer a perseguição,
conforme disse o próprio Jesus, é transitar pelo mesmo caminho que tiveram que
percorrer os profetas, os santos e os mártires. Sofrer pela justiça é
participar por direito próprio em uma grande e honrosa sucessão de homens
excepcionais. O homem que deve sofrer de alguma maneira por causa de sua fé,
pode erguer a cabeça e dizer:
"Irmãos, pisamos no mesmo caminho
que os santos pisaram."
(3) Sofrer perseguição é
participar de uma grande ocasião. Sempre é emocionante estar presentes na
grande ocasião em que acontece algo memorável e crucial. Mas mais emocionante é
ter uma participação, embora seja humilde, no próprio fato.
Quando alguém é convocado a
sofrer de algum modo por sua fé em
Cristo trata-se de uma grande
ocasião, de um momento crucial em sua vida e na história: trata-se do choque
entre Cristo e o mundo; é um momento do drama da eternidade. Poder participar
de tal circunstância não é um castigo, mas uma glória. “Regozijai-vos e
exultai”, diz Jesus, “porque é grande o vosso galardão nos céus”. A palavra
grega que em nossas versões se traduz regozijai-vos é um derivado de
dois termos que significa literalmente saltar muito alto. É o prazer de
quem salta de alegria. Como alguém afirmou, é o prazer do alpinista que chegou
à cúpula da montanha, e salta de alegria porque conquistou sua meta.
(4) Quem sofre perseguições
contribui ao bem-estar dos que virão depois. Hoje desfrutamos de liberdade e
paz porque houve homens e mulheres no passado que estiveram dispostos a
conquistá-las para nós a custo de sangue, suor e lágrimas. Graças as coisas são
mais fáceis para nós, e nós por meio de nossa firme fidelidade a Cristo podemos
fazer com que sejam mais fáceis para os que virão depois.
No grande projeto do dique Boulder, nos
Estados Unidos, muitos homens perderam sua vida em uma tarefa que teve como
resultado converter uma extensa zona desértica em terras férteis para a
lavoura. Quando a obra foi terminada, o nome de todos os que tinham morrido
durante os trabalhos de construção foram inscritos em uma placa que foi
colocada sobre o grande muro do dique. Nela pode ler-se a inscrição:
"Estes morreram para que o deserto pudesse regozijar-se e florescer como
uma rosa." Quem trava sua batalha junto com Cristo sempre contribuirá para
facilitar as coisas para as gerações futuras. Estas tropeçarão com menos
obstáculos ainda.
(5) Por outro lado, nunca,
ninguém, está sozinho ao sofrer perseguição, quer esteja chamado a suportar
perdas materiais, a traição de seus amigos, a calúnia, o isolamento ou até a
morte por amor de seus princípios, não estará sozinho, pois Cristo estará mais
perto de si nesse momento que em qualquer outra circunstância de sua vida.
A antiga história de Daniel nos
conta como Sadraque, Mesaque e Abede-nego foram lançados em um forno
incandescente por eles se terem negado a renunciar sua fidelidade a Deus. Os
membros da corte observavam. "Não lançaram a três varões atados dentro do
fogo?", foi a pergunta do Nabucodonosor. A resposta foi afirmativa. E
então ele disse:
"Eu, porém, vejo quatro
homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem nenhum dano; e o aspecto
do quarto é semelhante a um filho dos deuses" (Daniel 3:19-25).
Quando alguém deve sofrer algo
por sua fé, é quando experimenta mais intimamente a companhia de Cristo.
Só nos resta uma pergunta – por
que é tão inevitável esta perseguição? É inevitável porque a Igreja, quando é
verdadeiramente a Igreja, tem que ser a consciência da nação e da sociedade.
Quando se faz o bem, a Igreja deve elogiar a seus autores; quando se faz o mal,
a Igreja deve condenar – e inevitavelmente os homens procurarão silenciar a incômoda
voz da consciência. Não é dever cristão individual reprovar, criticar ou
condenar, mas bem pode ser que sua mera forma de agir seja uma silenciosa
condenação das vidas pecaminosas de outros, e não poderá evitar o ódio deles.
Não é provável que devamos sofrer
a morte por causa de nossa lealdade a Cristo. Mas sempre há um insulto
preparado para o homem que se propôs viver segundo a honra de Cristo. A
zombaria é o destino de quem pratica o amor e o perdão cristãos. É bem possível
que haja uma verdadeira perseguição contra o operário que se propõe cumprir meticulosamente
com suas obrigações de trabalho. Cristo ainda necessita testemunhas; hoje
possivelmente necessite mais dos que estejam dispostos a viver por Ele, que a
morrer por Ele. Ainda há lugar para a luta e a glória do cristianismo.
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