A
BEM-AVENTURANÇA DA PERFEITA SIMPATIA
Mateus 5:7
Tal como, às lemos em nossas
Bíblias, estas palavras são um grande ensino que apenas requerer pouca
explicação. É a afirmação de um princípio que está presente em todo o Novo
Testamento. O Novo
Testamento afirma que para ser
perdoados é necessário ser perdoadores.
Tiago o diz com transparente
clareza: "Porque julgamento sem misericórdia se fará com aquele que não
fizer misericórdia; e a misericórdia triunfa no juízo" (Tiago 2:13). Jesus
conclui a história do devedor que não usou de misericórdia, advertindo:
"Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada
um a seu irmão"
(Mateus 18:35). O Pai Nosso está
seguido por dois versículos que explicam e sublinham o significado da petição
que diz "Perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos a nossos
devedores": "Porque se perdoardes aos homens suas ofensas, também vos
perdoará o pai celestial; mas se não perdoardes aos homens suas ofensas,
tampouco vosso Pai vos perdoará vossas ofensas" (Mateus 6:12, 14-15). O
ensino constante de todo o Novo Testamento é que só os misericordiosos receberão
misericórdia.
Mas o ensino da bem-aventurança
não se esgota nesta interpretação.
A palavra grega que significa
misericordioso é eleemón. Entretanto, tal como dissemos repetidas vezes,
o grego do Novo Testamento é, por sua vez, a tradução de originais (escritos ou
verbais) em hebreu e aramaico.
A palavra hebraica que quer dizer
misericórdia é chesedh; é uma dessas palavras que não se podem traduzir.
Não significa somente simpatizar com alguém no sentido corrente do termo; não
significa somente sentir-se triste pela desgraça de outros. Chesedh é a
capacidade de entrar em outra pessoa até que virtualmente podemos ver com seus
olhos, pensar com sua mente e sentir com seu coração. Evidentemente isto é
muito mais que sentir piedade pelo outro. É simpatia no sentido original desta palavra.
"Simpatia" deriva de duas palavras gregas, syn, que significa "junto
com", e paschein, que significa "experimentar" ou
"sofrer" "Simpatia" significa experimentar algo em total
identificação com outra pessoa, passar por quão mesmo essa outra pessoa está
passando. Isto é precisamente o que a maioria das pessoas nunca nem sequer procuram
fazer. A maioria está tão preocupada com seus próprios sentimentos que não tem
tempo nem energias disponíveis para preocupar-se com os sentimentos de outros.
Quando sentem tristeza por alguém, tal atitude é, por assim dizer, externa; não
fazem o esforço deliberado para identificar-se em mente e coração com a outra
pessoa, até ser capazes de ver e sentir as coisas tal como as vê e as sente o
outro.
Se fizéssemos este intento
deliberado, e se chegássemos a esta forma de identificação com o outro, nossas
vidas, e as de outros, seriam muito diferentes.
(1) Isso nos libertaria de todas
as formas falsas de bondade. No
Novo Testamento há um exemplo bem
claro de bondade mal entendida e mal dirigida. Trata-se da história que nos
conta a visita de Jesus à casa da
Marta e Maria, em Betânia (Lucas
10:38-42). Quando Jesus fez esta visita, faltavam muito poucos dias para que se
produzisse o trágico desenlace de sua vida. Tudo o que queria era uma
oportunidade para poder estar cômodo e contente entre amigos, e assim poder
descarregar as terríveis tensões de seu doloroso ministério. Marta amava a
Jesus, este era seu hóspede mais honrado; e precisamente porque o amava tanto, desejava
poder lhe oferecer a melhor refeição que sua casa podia pôr diante de um
convidado especial. Por isso andava ocupadíssima de um lado para outro, fazendo
muito ruído na cozinha e no refeitório; cada instante dessa correria era uma
tortura para os nervos tensos de Jesus.
Tudo o que queria era tranquilidade.
Marta tinha planejado ser bondosa com Jesus, mas não poderia ter-lhe
infligido maior crueldade.
Mas Maria compreendeu que
a única coisa que Jesus queria era um momento de paz. Ocorre muitas vezes que
quando queremos ser bondosos a única bondade que somos capazes de oferecer é a
que nós pensamos mais adequada, e a outra pessoa tem que agüentar isso goste ou
não. Nossa bondade seria muito melhor, e estaria livre de tanta crueldade
involuntária, se apenas pudéssemos fazer o esforço para ver e sentir as coisas
do ponto de vista da outra pessoa.
(2) O perdão e a tolerância
seriam muito mais fáceis. Há algo muito importante que habitualmente esquecemos
– sempre há uma razão para que a pessoa pensar e agir da maneira em que o faz,
e se nós conhecêssemos essa razão nos seria muito mais fácil simpatizar com outros,
compreendê-los e perdoá-los. Se alguém, segundo nosso ponto de vista, está
equivocado no que pensa, é possível que suas experiências, a forma em que foi
educado, ou suas normas de vida, o levam a pensar dessa maneira e não como nos
parece mais correto. Se alguém agir de maneira irritada ou pouco cortês, é
possível que esteja atravessando por um momento de preocupação ou até que
esteja sofrendo por alguma causa que nós desconhecemos.
Tal como o afirma o provérbio
francês, "Saber tudo é perdoar tudo" mas nunca chegaremos a saber o
tudo até fazermos o esforço deliberado de introduzir-nos na outra pessoa a fim
de compreender suas motivações mais profundas.
(3) Em uma última análise, não é
isto precisamente o que Deus fez em Jesus Cristo? Em Jesus Cristo, no sentido
mais literal possível, Deus entrou dentro do homem. Veio aos homens como homem,
veio para ver as coisas com os olhos dos homens, a sentir com o coração dos
homens, e a pensar com a mente dos homens. Deus sabe como é a vida, porque viveu a vida.
A Rainha Vitória da Inglaterra e
Grã-Bretanha era íntima amiga do
Tulloch, decano da Universidade
de Saint Andrews, e de sua senhora. O
Príncipe Alberto morreu e Vitória
ficou sozinha. Quase ao mesmo tempo morreu Tulloch, e sua esposa também ficou
sozinha. Sem haver-se anunciado por antecipado, a rainha Vitória visitou a
senhora Tulloch, e a encontrou descansando em um sofá, em sua habitação. Quando
a viúva se deu conta que a rainha estava em seu quarto, fez um esforço
paralevantar e fazer uma reverência. A rainha Vitória, entretanto, se adiantou,
e disse: "Querida amiga, não se levante. Hoje não venho a você como rainha
a um súdito, mas sim como uma mulher que perdeu seu marido a outra na mesma
condição." É exatamente o que Deus fez; veio até os homens, mas veio não
como um Deus majestoso, longínquo, remoto, indiferente, mas veio como homem. A
suprema instância da misericórdia é a vinda de Deus aos homens em Jesus Cristo.
Somente os que demonstram esta misericórdia receberão esta misericórdia. Ocorre
assim com o homem, porque uma das grandes verdades da vida é que em outros
homens sempre vemos o reflexo do que nós mesmos somos. Se formos distantes, e
não manifestarmos interesse algum neles, eles agirão do mesmo modo. Se virem
que nos interessamos neles, eles se interessarão em nós. E o mesmo vale, de maneira
suprema, com Deus, porque aquele que é capaz de agir segundo sua misericórdia
obteve nada menos que ser como Deus. De maneira que a tradução da quinta
bem-aventurança poderia ser:
Quão
feliz é o homem capaz de entrar em outros e sentir como eles, ver com seus
olhos, pensar seus pensamentos, porque quem pode identificar-se deste modo com
os outros verá que os outros farão o mesmo com ele e saberá que isso mesmo é o
que Deus fez por ele em Jesus Cristo!
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