A HUMANIDADE DE CRISTO
Podemos resumir da
seguinte maneira o ensino bíblico acerca da pessoa de Cristo: Jesus Cristo foi plenamente Deus e
plenamente homem em uma só pessoa e assim o será para sempre.
1. O
nascimento virginal.
Quando falamos na
humanidade de Cristo, convém iniciar com uma consideração do nascimento
virginal de Cristo. As Escrituras afirmam claramente que Jesus foi concebido no
ventre de sua mãe, Maria, por obra miraculosa do Espírito Santo e sem um pai
humano.
2. Fraquezas e Limitações Humanas
a. Jesus
possuía um corpo humano.
O fato de que Jesus possuía um corpo humano
exatamente como o nosso é visto em muitas passagens das Escrituras. Ele nasceu
assim como nascem todos os bebês humanos (Lc 2.7). Ele passou da infância para
a maturidade assim como crescem todas as outras crianças: “Crescia o menino e
se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele”
(Lc 2.40).
b. Jesus
possuía uma mente humana.
O fato de Jesus ter
crescido em sabedoria (Lc 2.52) significa que ele passou por um processo de
aprendizado assim como acontece com todas as outras crianças — ele aprendeu a
comer, a falar, a ler e a escrever, e a ser obediente a seus pais (veja Hb
5.8). Esse processo normal de aprendizado fazia parte da genuína humanidade de
Cristo.
c. Jesus
possuía alma humana e emoções humanas.
Vemos várias indicações
de que Jesus possuía alma humana (ou espírito). Logo antes de sua crucificação,
ele disse: “Agora, está angustiada a
minha alma” (Jo 12.27). João escreve um pouco depois: “Ditas estas coisas, angustiou-se Jesus em espírito” (Jo
13.21). Em ambos os versículos a palavra angustiar
representa o termo grego tarassÜ, palavra muitas vezes empregada em referência a
pessoas ansiosas ou que de repente são surpreendidas por um perigo.
d. As
pessoas próximas de Jesus consideravam-no apenas humano.
Mateus registra um incidente assombroso no meio do ministério de
Jesus. Ainda que Jesus tivesse ensinado por toda a Galiléia, “curando toda
sorte de doenças e enfermidades entre o povo”, de modo que “numerosas multidões
o seguiam” (Mt 4.23-25), quando chegou à própria cidade de Nazaré, o povo que o
conhecia havia muitos anos não o recebeu
(Mt 13.53-58).
3. Impecabilidade. Ainda que o Novo Testamento seja claro em afirmar
que Jesus era plenamente humano exatamente como nós, também afirma que Jesus
era diferente em um aspecto importante: ele era isento de pecado e jamais
cometeu um pecado durante sua vida. Alguns objetam que se Jesus não pecou,
então não era verdadeiramente humano,
pois todos os humanos pecam. Mas os que fazem tal objeção simplesmente não
percebem que os seres humanos estão agora numa situação anormal. Deus não nos criou pecaminosos, mas santos e justos. Adão
e Eva no jardim do Éden eram verdadeiramente
humanos antes de pecar, e nós agora, apesar de humanos, não nos conformamos ao
padrão que Deus deseja que preenchamos quando nossa humanidade plena,
impecável, for restaurada.
4. Jesus
poderia ter pecado?
Às vezes levanta-se
esta questão: “Cristo podia ter pecado?” Alguns defendem a impecabilidade de Cristo, entendendo por impecável “não sujeito a pecar”. Outros objetam que se Jesus não
fosse capaz de pecar, suas tentações não teriam sido reais, pois como uma
tentação seria real, se a pessoa que estivesse sendo tentada não fosse mesmo
capaz de pecar? Para responder a essa pergunta, precisamos distinguir, por um
lado, o que as Escrituras afirmam claramente e, por outro lado, o que é mais
uma inferência de nossa parte.
(1)
As Escrituras
afirmam claramente que Cristo jamais pecou de fato (veja acima). Não deve haver
nenhuma dúvida a esse respeito em nossa mente.
(2)
Elas também
afirmam que Jesus foi tentado e que as tentações foram reais (Lc 4.2). Se
cremos na Bíblia, precisamos insistir que Cristo foi “tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb
4.15).
(3)
Também
precisamos afirmar com as Escrituras que “Deus não pode ser tentado pelo mal”
(Tg 1.13). Mas aqui a questão torna-se difícil: se Jesus era plenamente Deus e
também plenamente humano (e vamos argumentar adiante que as Escrituras ensinam
isso várias vezes e de maneira clara), então não somos obrigados também a
afirmar que (em algum sentido) Jesus também “não pode ser tentado pelo mal”?
5. Por que
era necessário que Jesus fosse plenamente humano?
Quando João escreveu
sua primeira epístola, circulava na igreja um ensino herético, segundo o qual
Jesus não era homem. Essa heresia tornou-se conhecida como docetismo. Essa negação da
verdade acerca de Cristo era tão séria que João podia dizer que se tratava de
uma doutrina do anticristo: “Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo
espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito
que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito
do anticristo” (1Jo 4.2-3).
a. Para
possibilitar uma obediência representativa. Conforme observamos no capítulo
acima sobre as alianças entre Deus e o homem, Jesus era nosso representante e obedeceu em
nosso lugar naquilo que Adão falhou e desobedeceu. Vemos isso nos paralelos
entre a tentação de Jesus (Lc 4.1-13) e a ocasião da prova de Adão e Eva no
jardim (Gn 2.15–3.7). Também reflete-se claramente na discussão de Paulo sobre
os paralelos entre Adão e Cristo, na desobediência de Adão e na obediência de
Cristo (Rm 5.18-19).
b. Para ser um
sacrifício substitutivo. Se Jesus não tivesse sido homem, não poderia ter
morrido em nosso lugar e pago a penalidade que nos cabia. O autor de Hebreus
nos diz: “Pois ele, evidentemente, não socorre anjos, mas socorre a
descendência de Abraão. Por isso mesmo, convinha
que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser
misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer
propiciação pelos pecados do povo” (Hb 2.16-17; cf. v. 14).
c. Para ser o único
mediador entre Deus e os homens. Porque estávamos alienados de Deus por
causa do pecado, necessitávamos de alguém que se colocasse entre Deus e nós e nos
levasse de volta a ele. Precisávamos de um mediador que pudesse representar-nos
diante de Deus e que pudesse representar Deus para nós. Só há uma pessoa que
preencheu esse requisito: “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus
e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Tm 2.5). Para cumprir essa função de
mediador, Jesus tinha de ser plenamente homem e plenamente Deus.
d. Para cumprir o
propósito original do homem de dominar a criação. Como vimos em nossa
discussão sobre o propósito para o qual Deus criou o homem, Deus colocou o ser humano sobre a terra para
subjugá-la e dominá-la como representante divino. Mas o homem não cumpriu esse
propósito, pois caiu em pecado. O autor de Hebreus percebe que Deus pretendia
que tudo fosse sujeitado ao homem, mas reconhece: “Agora, porém, ainda não
vemos todas as coisas a ele sujeitas” (Hb 2.8). Então, quando Jesus veio como
homem, foi capaz de obedecer a Deus e, assim, teve o direito de dominar a
criação como homem, cumprindo o
propósito original de Deus ao colocar o homem sobre a terra. Hebreus reconhece
isso quando diz que agora “vemos [...] Jesus” em posição de autoridade sobre o
universo, “coroado de glória e de honra” (Hb 2.9; cf. a mesma frase no v. 7).
e. Para ser nosso
exemplo e padrão na vida. João nos diz: “... aquele que diz que permanece
nele, esse deve também andar assim como
ele andou” (1Jo 2.6), e nos lembra que “quando ele se manifestar, seremos
semelhantes a ele” e que essa esperança de futura conformidade com o caráter de
Cristo confere mesmo agora pureza moral cada vez maior à nossa vida (1Jo
3.2-3). Paulo nos diz que estamos continuamente sendo “transformados [...] na
sua própria imagem” (2Co 3.18), avançando, assim, para o alvo para o qual Deus
nos salvou: sermos “conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8.29). Pedro nos diz
que, especialmente no sofrimento, temos de considerar o exemplo de Cristo:
“pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos” (1Pe 2.21).
f. Para ser o padrão
de nosso corpo redimido. Paulo nos diz que quando Jesus ressuscitou dos
mortos, ressuscitou num novo corpo “na incorrupção [...] ressuscita em glória
[...] ressuscita em poder [...] ressuscita corpo espiritual” (1Co 15.42-44).
Esse novo corpo ressurreto que Jesus possuía quando ressurgiu dos mortos é o
padrão do que será nosso corpo quando formos ressuscitados dos mortos, porque
Cristo é “as primícias” (1Co 15.23) — uma metáfora agrícola que compara Cristo
à primeira amostra da colheita, que demonstra como será o outro fruto daquela
colheita.
g. Para
compadecer-se como sumo sacerdote. O autor de Hebreus lembra-nos de que
“naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os
que são tentados” (Hb 2.18; cf. 4.15-16). Se Jesus não tivesse existido na
condição de homem, não teria sido capaz de conhecer por experiência o que sofremos em nossas tentações e lutas nesta
vida. Mas porque viveu como homem, ele é capaz de compadecer-se mais plenamente
de nós em nossas experiências.
6. Jesus
será um homem para sempre.
Jesus não
abandonou a natureza terrena após sua morte e ressurreição, pois apareceu aos
discípulos como homem após a ressurreição, até com as cicatrizes dos cravos nas
mãos (Jo 20.25-27). Ele possuía carne e ossos (Lc 24.39) e comia (Lc 24.41-42).
Posteriormente, quando conversava com os discípulos, foi levado ao céu, ainda
em seu corpo humano ressurreto, e dois anjos prometeram que ele voltaria do
mesmo modo: “Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir” (At 1.11).
Teologia Sistemática. Wayne Grudem, Edições Vida Nova.
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