Curiosidade
"Jorge Curioso" é um macaco. Trata-se do personagem principal, de uma série de livros infantis de que meu filho mais velho gostava demais, quando garoto. Sentávamos durante horas, quando meu filho era pequeno, e ríamos às bandeiras despregadas com as artes aprontadas pelo Jorginho, simplesmente porque sua curiosidade o impelia continuamente.
As histórias seguiam sempre o
mesmo padrão básico. Uma vez ou outra Jorge despencava em área nova, que sua
natureza curiosa o levava a investigar. O primeiro passo não era errado, nem
danoso, apenas um tanto questionável. Invariavelmente, Jorge não ficava
satisfeito com seus encontros e descobertas iniciais, mas ficava investigando e
pesquisando mais, e mais... espiava mais ao fundo... mais adiante... até que a
novidade da situação assumia nova dimensão, a do perigo.
No fim, não acontecia outra
coisa senão a tragédia — e quem sofria mais era nosso querido amigo de cauda
comprida, o primata curioso de nome Jorge.
A curiosidade — num certo
sentido sinal de mente sadia, às vezes engenhosa... é a centelha que conduz
pesquisadores famintos ao labirinto da verdade, recusando-se a paralisar a
busca, indo ao exame total, completo.
Curiosidade é aquele portão
gasto pelo tempo, que gira sobre rolamentos chamados determinação e disciplina,
e que se abre para o êxtase da descoberta, mediante a agonia da busca implacável.
Curiosidade é o mestre
embutido na mente, que instantaneamente desafia o "status quo" ...
que transforma um menor transviado num Churchill, uma muda-surda-cega numa Hellen
Keller, e um menino de fazenda num Walt Disney.
Curiosidade é a qualidade
mais freqüentemente esmagada nas crianças, por adultos imprudentes, apressados,
que consideram as perguntas como "interrupções", em vez do desejo
veemente de arrancar as rodas mentais da criança do atoleiro rotineiro do
caminho bem conhecido.
Mas, que papel enganoso a
curiosidade pode vir a desempenhar!
Remova-se o cinto de
segurança dos parâmetros bíblicos, e a curiosidade lançará nosso veículo do
aprendizado numa violenta colisão, num desastre horroroso. Essa qualidade tem
um jeito todo seu de levar-nos a intrometer-nos na vida alheia, visto que a
curiosidade é, por natureza, uma intrusa. Ela consegue vestir-se erroneamente,
usando as mais belas roupas que o ser humano conhece. Consegue esconder as mais
nocivas conseqüências do adultério sob o disfarce enganador da excitação, da
música suave, do abraço caloroso. Consegue mascarar as dores morais do abuso de
drogas e do alcoolismo, travestindo esses vícios com uma calça Levis e o suéter
de um garboso e simpático timoneiro de lancha, cheio de aventuras.
A curiosidade é a mercadoria
mais importante de que se precisa para manter o mundo do ocultismo sempre ativo
e eficaz. Basta a curiosidade para engalanar de triunfo os filmes que se
dedicam à exploração da violência sádica, e dos encontros demoníacos. Se
removermos a curiosidade do coração, o filme O Exorcista vira anedota sem
graça... e até mesmo a Igreja de Satanás torna-se objeto de riso e deboche.
No entanto, a curiosidade não
pode ser eliminada! A curiosidade faz parte de sua natureza humana, da mesma
maneira que seu cotovelo faz parte do seu braço. O inimigo conhece esse fato, e
usa-o contra você. Ele é mestre na arte negra do subterfúgio; em outras
palavras, sabe armar uma arapuca em que a sua curiosidade o leva o cair
prisioneiro. Lembre-se de que vem armando tais arapucas há muito mais tempo do
que você e eu vimos evitando-as. Se o diabo sabe disfarçar o anzol como a isca
adequada— designada para simplesmente despertar sua curiosidade — a tragédia é
apenas uma questão de tempo.
Tiago viu o problema com
clareza e disseca-o de modo direto:
"Ninguém, ao ser
tentado, diga: Sou tentado por Deus. Pois Deus não pode ser tentado pelo mal, e
ele a ninguém tenta. Mas cada um é tentado quando atraído e engodado por sua
própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o
pecado, e o pecado, sendo consumado, gera a morte." (Tiago 1:13-15)
É claro que não precisamos
tornar-nos vítimas de nossa tola curiosidade. Está à nossa disposição um poder
fantástico, maravilhoso, para orientar-nos ao longo do labirinto do diabo,
cheio de armadilhas, artimanhas e minas escondidas.
O Senhor Jesus já palmilhou
a estrada em que caminhamos agora — e sabe como guiar-nos ao longo do caminho,
sem perigo algum.
Ao caminharmos ao lado do
Senhor, podemos livrar-nos dos macaquinhos no sótão... mas o nome deles desta
vez não é Jorge.
Texto extraído do livro, A Busca do Caráter, de Charles Swindoll
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