Coisas que nunca mudam
Morreu ontem meu grande
amigo de muitos anos, e meu mentor. Era pregador extraordinário, orador por
excelência. Pertencia à velha escola. Sempre de camisa e gravata, alinhado e
elegante. Terno de três peças, de preferência. Camisa branca, bem passada, colarinho
imaculado. Sapatos brilhantes. Cabelos penteados. Bem barbeado. Bem vestido
sempre. Roupa sob medida. E que havia sob todo esse exterior tão bonito?
Caráter. Sólido como rocha.
Qual era seu estilo de
pregação? Forte. Às vezes, dogmático. Com freqüência muito eloqüente. Muitas
aliterações e, perto do final, um poema memorizado. Sermões semeados de ilustrações
que quase sempre se iniciavam assim: "É conhecida a história de..."
Quase nunca usava humor. O sermão era pleno de dignidade, um tanto distante,
místico, profundo no pensamento, a voz nas escalas mais baixas. Inúmeros
livros encadernados em couro, na biblioteca. Determinado a manter bem elevada
sua vocação ministerial. Pele tostada, olhos profundos, dentes alinhados.
Confiante em si mesmo, sem ser arrogante. Simpático, sem ser frívolo.
Jamais demonstrou um sinal
sequer de futilidade tola. Não era o tipo de homem que você esperaria ver
sentado, de pernas cruzadas, à frente da casa, brincando com as crianças. Ou na
cozinha, lavando louça. Trocando o óleo do carro. Pulando do último trampolim,
numa pirueta. Fazendo manobras perigosas numa rodovia. O homem tinha muita
classe.
Não é que ele fosse
superior a tudo isso; o caso é apenas que, em seu tempo, os ministros do
evangelho mantinham uma atitude bem definida e séria. Se não estivesse
pregando, meu amigo estaria preparando-se para pregar. Se não estivesse orando,
teria acabado de orar. Francamente, nunca estive na presença dele sem sentir
grande reverência. Embora já fosse homem feito, eu me sentava direito, no
escritório dele, respeitoso, e chamava-o de senhor. Quando ele punha a mão em
meu ombro e orava para que Deus guiasse "este jovem aqui" e que me
usasse, estando já "separado para o ministério do Mestre", eu me
sentia como se houvesse sido ordenado cavaleiro do rei. Porejava integridade,
esse pastor. Seus conselhos eram insuperáveis. Seus pensamentos e palavras
tinham prístina pureza — bem passados, engomados, limpos e brilhantes como
hábito de freira. Ao assomar ao púlpito, erguia-se ereto, digno, cheio de graça
— certamente um dos melhores pregadores de seus dias, ilustração viva do
"Salmo do Cavalheiro"... salmo 15.
Contudo, grande parte das
coisas "da época antiga" já se foi. O trato das pessoas hoje é muito
diferente. Os dias de meu amigo falecido foram os dias de Walter Winchell,
Jorge Patton e Norman Rockwell. Imperava uma filosofia séria, cujas linhas
gerais eram bem delineadas e definidas, em que os sermões tinham mão única. Não
se falava em diálogo... E quanto à vulnerabilidade dos líderes? Anátema. Como
mudaram os tempos! Não há uma única profissão que não tenha sido forçada a
mudar, abrindo brechas para alterações inevitáveis, muitas delas essenciais.
Pensei nisso, há pouco, ao
ler uma "descrição de cargo" dirigida às enfermeiras de um hospital,
em 1887. Vocês, enfermeiras e médicos, vão rir com incredulidade.
Há alguém mais que esteja
contente porque tem havido muitas mudanças, desde 1887?
Sim, o tempo muda as
coisas... às vezes drasticamente. Mudam os estilos, como mudam as expectativas,
os salários, os sistemas de comunicação, os relacionamentos entre pessoas, e
até as técnicas de pregação.
Todavia, certas coisas
jamais deveriam sofrer mudanças. Por exemplo: o respeito pelas autoridades, a
integridade pessoal, a sanidade dos pensamentos, a pureza das palavras, a santidade
no viver, os papéis bem distintos atribuídos à masculinidade e à feminilidade,
a lealdade a Cristo, o amor à família e o autêntico espírito de serviço. As
qualidades de caráter jamais ficam à mercê de ataques irreverentes.
DEVERES DAS
ENFERMEIRAS EM 1887
Além de cuidar de seus
cinqüenta pacientes, cada enfermeira deverá obedecer aos seguintes
regulamentos:
1. Varrer e espanar
diariamente seu pavilhão, esfregando um pano molhado no assoalho; tirar o pó
dos móveis dos pacientes, e das soleiras das janelas.
2. Manter uma temperatura
agradável em seu pavilhão, trazendo um balde de carvão para as atividades do
dia.
3. A luz é importante para
poder observar-se as condições dos pacientes. Portanto, todos os dias: encher
os lampiões de querosene, limpar as chaminés e aparar os pavios. Lavar as
vidraças uma vez por semana.
4. As anotações das
enfermeiras são importantes, para ajudar o trabalho do médico. Ter o máximo
cuidado ao confeccionar suas penas de escrever. Pode-se cortar os bicos das
penas segundo o gosto pessoal.
5. Cada enfermeira em
plantão diurno deve comparecer todos os dias às 7 horas e deixar o trabalho às
20, exceto aos domingos, quando a enfermeira poderá ausentar-se entre as 12 e
as 14 horas.
6. As enfermeiras formadas
que gozem de boa reputação junto ao diretor de enfermeiras, terão uma noite de
folga por semana, para propósitos de namoro, ou duas noites, se vão
regularmente à igreja.
7. Cada enfermeira deverá
deixar de lado determinada porção de seu salário, a fim de poder gozar de
alguns benefícios durante seus anos de declínio, e não vir a tornar-se um
fardo. Por exemplo, se você ganha trinta dólares por mês, deverá pôr à parte
quinze dólares.
8. Toda e qualquer
enfermeira que fuma, bebe álcool sob qualquer forma, vai a salão de beleza a
fim de pentear os cabelos, ou freqüenta salões de bailes, dá boas razões ao
diretor de enfermeiras para suspeitar de seu valor, de suas intenções e de sua
integridade.
9. A enfermeira que
desempenhar suas funções, e atender a seus pacientes e médicos com toda
fidelidade, sem cometer faltas, durante um período de cinco anos, receberá um
aumento de cinco centavos por dia, da administração do hospital, desde que o
hospital não tenha dívidas elevadas.
Meu amigo e mentor partiu.
Muito do seu estilo foi-se com ele. Contudo, o estofo áureo que o tornou grande
— ah! que nós jamais nos esqueçamos de seu caráter. Os tempos podem mudar. E o
caráter? Jamais. Nem na vida... nem na morte.
A Busca de Hoje
Como é a vida? "Um vapor,"
responde-nos Tiago (4:14). "Neblina que aparece por instante."
"O homem, nascido de mulher, vive breve tempo... nasce como a flor, e
murcha; foge como a sombra, e não permanece" (Jó 14:1-2). Embora demonstremos
aparência de segurança, nossa vida é marcada pela incerteza, adversidade e
brevidade. São razões mais que suficientes para que ganhemos uma perspectiva
correta quanto à maneira de viver. O caminhar com Deus produz esse efeito. Não
nos dá garantia de que viveremos mais tempo, mas ajuda-nos a viver melhor. Com
maior profundidade. Maior largueza. Visto que você nada sabe a respeito do dia,
da semana ou do ano que se estende diante de você, entregue-se de modo renovado
a Deus, pois ele sabe de antemão como serão os tempos e estações.
Leia Tiago 4.
Charles Swindoll, do livro busca de carater
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