A Ética na Bíblia
A pergunta “O que se
deve fazer?” importa em uma consideração de ética. A ética tem a ver com padrões, valores, e deveres, no
que diz respeito à conduta humana.
Ela procura determinar o que deve ser feito e como fazê-lo — na ação individual, nas relações interpessoais, na vida familiar e na sociedade.
Os escritores bíblicos deram muita atenção à ética. Depois
de um estudo minucioso da ética, na Bíblia, T. B. Maston chegou à seguinte
conclusão: “A ética é a fase importante de praticamente todos os livros de ambos
os Testamentos, e é o tema central ou interesse dominante de inúmeros livros” (p.
281).
I.Abordagens Básicas
I.Abordagens Básicas
A maior parte dos eruditos bíblicos concorda que as ênfases
éticas são parte significativa da Bíblia, mas discordam quanto à maneira como
elas se relacionam com a vida, nos dias de hoje. Alguns deles se descartam da
ética bíblica, como obsoleta e irrelevante, mas a maioria deles considera a
ética bíblica como aplicável, de alguma forma, à nossa situação.
Uma abordagem é
considerar a Bíblia como um livro de regras ou código de conduta humana,
aceitando tanto as leis do Velho Testamento como os preceitos do Novo como
palavras de autoridade para hoje. Os advogados desta posição recorrem à Bíblia
para encontrarem respostas específicas para todos os problemas morais. Um
grande número de falhas tem sido apontado, no que tange à abordagem da ética
bíblica, considerando a Bíblia como um livro de regras.
Por exemplo:
(1) Muitos problemas modernos como o controle de natalidade,
abuso de drogas, transplantes de coração, transfusão de sangue e guerra
atômica, não são tratados especificamente na Bíblia.
(2) Numerosas regras bíblicas estavam tão
relacionadas com a época em que foram escritas, que têm pouco significado nos
dias de hoje (Lev. 25:44-46).
(3) Certas ordens
bíblicas são contrárias às leis atuais (Lev. 20:10-16). Finalmente, até mesmo
ordens muito explícitas podem deixar incertezas. Por exemplo, a ordem “Não matará”
se aplica ao aborto, ou não?
Uma segunda abordagem da ética bíblica insiste que nenhum
mandamento ou ensino da Bíblia é absolutamente compulsório. A
exceção é o amor, o único absoluto; por ele todas as atitudes e ações devem ser
julgadas. Os expoentes desta posição creem que uma pessoa não pode conhecer o
que deve fazer se não se defrontar com uma situação concreta. A pessoa deve
agir de maneira amorosa e responsável em cada situação. Os advogados desta
posição dizem que a Bíblia é útil de pelo menos três maneiras:
(1º) Ela mostra que Deus trata com o homem de
acordo com a situação em que está, e não mediante regras ou códigos (Mat.
12:1-8).
(2º) Ela aponta
para a primazia do amor nas relações humanas (Mat. 22:34-40).
(3º) Ela ajuda a desenvolver e motivar a
qualidade de caráter necessária para se tomar decisões éticas adequadas (II
Tim. 3:16, 17).
Grande número de objeções tem sido suscitado contra esta abordagem:
(1) Que ela não
leva a Bíblia suficientemente a sério; por exemplo, ela menospreza as numerosas
diretrizes específicas de ação ética estabelecida por Jesus, Paulo e outros
escritores da Bíblia.
(2) Ela é
demasiadamente otimista a respeito da capacidade do homem de saber qual é a
atitude amorosa a ser tomada;
(3) o amor muitas
vezes necessita de instruções concretas.
(4) Ela enfatiza
demasiadamente a peculiaridade das situações; a maior parte das situações tem
qualidades universais.
(5) A despeito de
sua crítica de princípios e leis morais, ela estabelece a sua própria lista de
diretrizes e regras.
Uma terceira abordagem enfatiza os princípios e ideais da
Bíblia. Muitos destes princípios e ideais são declarados
explicitamente; outros estão implícitos em regras que não são aplicáveis
diretamente hoje em dia. Estão sendo esforços para determinar quais são os
princípios básicos que estão por detrás desses mandamentos específicos (Êx.
21:1-11; Lev. 19:27).
Crê-se que tais princípios são permanentemente
importantes, embora certas ordens específicas possam não sê- lo. Os princípios
precisam ser aplicados a decisões concretas e problemas atuais. Isto exige o
uso de sadia interpretação bíblica e do exercício da razão iluminada pelo
Espírito Santo.
Tem sido feita uma crítica da abordagem da ética bíblica quanto aos
princípios:
(1) Ela pode ser
endurecida, até tornar-se legalismo.
(2) Ela algumas
vezes valoriza mais os princípios do que as pessoas.
(3) É difícil determinar que princípio deva
ter prioridade, quando, em uma situação particular, vários deles parecem conflitar.
(4) Muitas vezes é quase impossível saber se um mandamento ético da
Bíblia é um princípio básico ou a aplicação de um princípio em uma situação
específica.
Qualquer abordagem de ética bíblica exige uma interpretação e uma
aplicação. Até os crentes mais devotos não seguem literalmente todos os
ensinamentos éticos da Bíblia. Por exemplo, muitos crentes comem carne de
porco, permitem que as mulheres falem na igreja, não apedrejam os adúlteros até
a morte e usam joias — coisas essas que violam ordens ou ensinamentos bíblicos
(cf. Lev. 11:7,8; 20h10min; I Tim. 2:9-14; I Cor. 14:34,35). Obviamente, alguns
preceitos são considerados de mais autoridade do que outros.
Um método básico de interpretação, usado por muitos crentes é avaliar o
Velho Testamento à luz do Novo, e todas as ênfases éticas, em ambos os
Testamentos, à luz da vida e dos ensinos de Jesus.
Este método é baseado na crença de que, em Cristo, Deus
revelou-se mais completamente (Heb. 1:1,2). Portanto, sempre que a vida ou o
ensino de Jesus parece conflitar com um mandamento do Velho Testamento, a
palavra de Jesus deve ser considerada de maior autoridade (Êx. 21:23 eMat.
5:38,39; Lev. 20:10 e João 8:1-11). Os crentes discordam quanto à relação geral
dos ensinamentos éticos do Velho Testamento com os do Novo. Alguns
creem que as ênfases do Velho Testamento não têm autoridade, a não ser
que sejam especificamente citadas em o Novo. Outros acham que os
preceitos do Velho Testamento são compulsórios, a não ser que sejam
especificamente descartados em o Novo Testamento. Muitos insistem que, embora a
chamada da lei cerimonial e civil do Velho Testamento não seja obrigatória, a
lei moral ainda tem autoridade. É necessária interpretação também
para determinar o que a Bíblia ensina a respeito de problemas específicos. Não
é suficiente saber o que a Bíblia diz. Precisamos também entender o que ela
quer dizer e como isso se aplica a nós hoje. Por exemplo, a Bíblia diz muitas
coisas a respeito do divórcio (Deut. 24:1-4; Mal. 2:16; Mat. 5:31,32; 19:3-12;
Mar. 10:1-12; Luc. 16:18; I Cor. 7:1-15). Levando em conta estas declarações
específicas, bem como os princípios básicos para a vida cristã, o crente
precisa determinar o que a Bíblia quer dizer que os crentes devem fazer com
respeito ao divórcio. Indubitavelmente, o crente deve aceitar a Bíblia como
palavra de autoridade. Mas, assim mesmo, ele precisa interpretar os
ensinamentos éticos da Bíblia e aplicá-los à sua vida, para determinar o que
deve fazer. Uma abordagem assim exige profundo entendimento da natureza da
ética bíblica.
II. Características
Gerais
Grande número de características está evidente na ética
bíblica. Ter conhecimento delas ajudará na interpretação e na aplicação das
mesmas.
Religiosas.
As ênfases éticas da Bíblia estão arraigadas na experiência
religiosa. Muitos sistemas éticos do mundo são edificados na razão ou na
tradição e têm pouco ou nada a ver com a religião. Tais abordagens da ética têm
o homem como seu ponto de partida e a razão como seu método básico. A ética
bíblica, por seu turno, centraliza-se em Deus e depende primordialmente da
revelação. Teologia e ética andam de mãos dadas na Bíblia. A conduta divina se
relaciona com a conduta humana. Uma religião que se preocupe apenas com
doutrinas e rituais são desagradáveis a Deus. Ele requer justiça, retidão, amor
e misericórdia da parte de seu povo. Os Dez Mandamentos (Êx. 20:1-17) e o
Grande Mandamento de Jesus (Mat. 22:34-40) são exemplos vivos da inter-relação
que há na Bíblia, entre o vertical e o horizontal, entre a religião e a ética. O
íntimo relacionamento da religião com a ética é também verificado nos conceitos
de Deus, o homem e o pecado. Deus é uma Pessoa moral. Ele revela a sua natureza
e vontade ao homem. O homem é criado capaz de conhecer e reagir à revelação de
Deus. O fato de ele falhar em fazê-lo é pecado. Portanto, pecado é mais do que
violação de tabus religiosos. Ele tem uma dimensão ética. A salvação também está
relacionada com a ética. A Bíblia indica claramente que, embora a salvação não
seja conseguida através das obras, as boas obras são uma evidência ou propósito
da salvação (Ef. 2:8-10). A fé é adequada apenas quando resulta em atitudes e
conduta agradáveis a Deus (Mat. 7:15-23; Rom. 6:1-4).
Variadas.
A Bíblia contém vários graus e níveis de ênfases éticas.
Gênesis, Êxodo, Levítico, Deuteronômio, Provérbios, Amós, Miquéias, Isaías,
Oséias, os Evangelhos Sinópticos, a parte final de Romanos, Gálatas, Efésios e
Colossenses, as epístolas a Timóteo, Tito, I Coríntios, I João e Tiago contêm
grande quantidade de material ético. O raio de ação da ética na Bíblia inclui
tanto atitudes interiores (Mat. 5:21-30; Gál. 5:22,23) quanto ação
exterior(Rom. 13:1-7; I Cor. 7:1-24). A conduta pessoal é considerada, bem como
as instituições sociais (Veja, mais adiante, “Áreas de Interesse”). Diferentes
partes da Bíblia apresentam diferentes ênfases éticas. O Velho Testamento preocupa-se,
primariamente, mas não exclusivamente, com ordens específicas, lei, conduta
exterior, injunções negativas e padrões para o povo e a nação hebreia. O Novo
Testamento dedica-se mais a princípios gerais, graça, atitudes interiores,
motivação e padrões para indivíduos e igrejas. Além disso, há grande variedade
no Velho como em o Novo Testamento. O Pentateuco dedica-se principalmente a
leis e regras relacionadas com o pacto. Os profetas enfatizam que a atividade
religiosa sem uma vida reta é desagradável a Deus. A literatura de sabedoria
recomenda que os homens vivam pelos ditames da sabedoria divina. Em o Novo
Testamento, os ensinamentos de Jesus enfatizam serviço por amor, atitudes
íntimas, o reino de Deus, as expectativas de um Pai celestial amoroso e a
relação adequada entre a religião e a ética. Em comparação com Jesus, Paulo é
mais específico, negativo, e está centralizado na Igreja. Ele trata extensivamente
de problemas, como a relação entre lei e graça, gentios e judeus, Igreja e
mundo, coisas a respeito de que Jesus pouco falou. Os ensinos de João são
genéricos, e enfatizam o amor em ação, enquanto os de Tiago são específicos, e
relacionam fé com obras. A despeito da variedade e diversidade, há uma notável
unidade na Bíblia, no que tange à ética. Esta unidade é, em grande parte,
devida ao fato de que todas as ênfases éticas se relacionam com Deus,
personalidade central e fator unificador da Bíblia.
Importantes.
A ética da Bíblia é importante e expressa autoridade para
com os homens hodiernos. Os ensinamentos éticos falam aos problemas atuais do
homem. Parte da razão da qualidade sempre atualizada da Bíblia é que o homem
não mudou essencialmente desde que a Bíblia foi escrita. Nem todos os
ensinamentos éticos da Bíblia são igualmente importantes. As passagens que
estão pelo menos relacionadas com as circunstâncias históricas são, em geral,
as mais permanentemente importantes. Declarações de princípios básicos e ideais
são frequentemente mais importantes do que códigos específicos de conduta.
Muitos desses são ideais de perfeição. Estão além da capacidade do homem de
atingi-los. “Eles são os ideais que criam à tensão dinâmica no âmago de nossa
fé cristã, que é o segredo de sua criatividade” (Maston, p. 287). É óbvio que
há algum tipo de progresso ou refinamento na ética da Bíblia. Tal progresso é
particularmente notável quando se passa do Velho Testamento para o Novo,
especialmente quando se passa para a vida e ensinamentos de Jesus. O Novo
Testamento é mais completamente importante do que o Velho. O clímax da
revelação de Deus veio em seu Filho, Jesus Cristo. Jesus tomou clara a suprema
autoridade de seus ensinamentos éticos quando, no Sermão da Montanha, declarou:
“Ouvistes que foi dito aos antigos... Eu, porém, vos digo.”
Dizer que um ensinamento ético é menos importante do que
outro não significa que ele não é inspirado ou útil. Mesmo as passagens que, à
luz dos ensinamentos de Jesus, são, indubitavelmente, não aplicáveis a nós,
ainda assim podem ser informativas. Os ensinamentos éticos não diretamente relacionados
à nossa época frequentemente contêm princípios básicos que são permanentemente
importantes. Instruções quanto ao que fazer quando você encontra o boi de seu
vizinho perdido (Deut. 22:1,2) não são particularmente úteis para o moderno
habitante de uma cidade. Contudo, por detrás das instruções específicas
encontram-se princípios de honestidade e de preocupação para com as pessoas e
suas propriedades, que se aplicam à vida citadina no século XX.
Peculiares.
Muitos dos preceitos e princípios da Bíblia podem ser
encontrados nas obras literárias de outras religiões. A peculiaridade da ética
bíblica reside primordialmente na pessoa e obra de Jesus Cristo. Embora grande
parte dos ensinamentos éticos de Jesus possa ser encontrada algures, ele
apresenta uma seleção e combinação exclusivas de ensinamentos, que não se
encontram em nenhum outro lugar. Por causa da encarnação, ele propicia padrões
de autoridade em sua vida e ensinamentos. Por sua crucificação, ele toma
possível a nossa liberdade para seguir o caminho que ele abriu. Como resultado
da ressurreição, ele pode dar poder ao crente, vivendo através dele. Na
promessa de sua volta, ele oferece encorajamento para que o crente seja fiel a
despeito das dificuldades, porque é-lhe assegurada vitória final.
III. Ênfases
Principais
Foram feitos muitos esforços para sistematizar a ética
bíblica em torno de um tema, mas é artificial forçar a ética da Bíblia em um
molde assim. Grande número de ênfases é proeminente na ética da Bíblia. Importante
é que os homens devem fazer a,
(( vontade de Deus)).
O Velho Testamento está cheio de ordens de Deus para o seu povo. É claro que ele esperava que este fizesse a sua vontade. Quando os profetas trovejaram: “Assim diz o Senhor”, estavam também enfatizando que a vontade de Deus devia ser cumprida. Jesus sublinhou este tema, em seu ministério (Mat. 7:21).O seu conceito de reino de Deus exigia obediência radical à vontade de Deus. A Bíblia é o recurso primordial, embora não exclusivo, para se encontrar a vontade de Deus.
(( vontade de Deus)).
O Velho Testamento está cheio de ordens de Deus para o seu povo. É claro que ele esperava que este fizesse a sua vontade. Quando os profetas trovejaram: “Assim diz o Senhor”, estavam também enfatizando que a vontade de Deus devia ser cumprida. Jesus sublinhou este tema, em seu ministério (Mat. 7:21).O seu conceito de reino de Deus exigia obediência radical à vontade de Deus. A Bíblia é o recurso primordial, embora não exclusivo, para se encontrar a vontade de Deus.
((Divindade)).
A Bíblia declara que o homem é feito à imagem de Deus (Gên.
1:26,27). Embora manchado pelo pecado, o homem ainda é a imagem de Deus (Gên.
9:6). Seja o que mais signifique a imagem de Deus, ela certamente indica que o
homem foi criado para ser igual a Deus, tanto quanto as limitações humanas o
permitam. O caráter de Deus deve ser o padrão para o caráter do homem. Este
tema se faz ressoar em ambos os Testamentos. Levítico registra a ordem de Deus:
“Sereis santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (19:2). E Jesus
declarou: “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial”
(Mat. 5:48). Os escritores bíblicos indicam que Deus é amoroso, justo,
misericordioso, reto e perdoador. Portanto, os homens devem também exibir estas
características em suas vidas.
((Amor)).
Porque Deus é amor, o seu povo deve amar. O amor é um dos
temas mais importantes da ética bíblica. Ele é a virtude suprema. O amor a Deus
e o amor ao próximo foram enfatizados no Velho Testamento (Lev. 19:18; Deut.
6:5). Jesus indicou que o amor a Deus e ao próximo resumem toda a lei e os
Profetas (Mat. 22:34-40). Os escritores do Novo Testamento enfatizam muitas
vezes a importância do amor (Rom. 13:8,10; Gál. 5:14; Tiago2:8; I Joâo3:ll). O
Novo Testamento usa uma palavra especial para designar o amor cristão: agapé.
Agapé, da maneira como é descrita na Bíblia, não é uma virtude suave (Mat.
22:34-40; I Cor. 13); ela inclui perdão, compaixão e ministração às necessidades
do próximo. O amor deve-se estender aos outros sem se considerar os seus
méritos nem se pensar na maneira como vão reagir. O amor a Deus envolve
confiança, adoração e obediência. O amor ao próximo é boa vontade benevolente
em ação. O amor a Deus e o amor ao próximo andam juntos. ((Pacto)). A ética bíblica poderia ser chamada, apropriadamente, de
ética pactuai. No pacto instituído no Sinai (Êx. 19; Deut. 5), Deus estabelece
obrigações específicas para o seu povo. Quando este concordou com os termos do
pacto, prometeu obedecer a essas regras. Por seu turno, Deus prometeu
protegê-lo, se ele obedecesse. Os requisitos eram tanto religiosos quanto
morais, quanto à sua natureza. Na “nova aliança” (Jer. 31:31- 34; Mat. 26:28;
Heb. 8:6-13), Jesus chamou homens para segui-lo e para obedecerem à vontade de
Deus em todas as facetas da vida. Cada pacto é uma obra da graça de Deus. A
reação de fé a essa graça inclui obediência à fonte da graça, o autor do pacto
— Deus. O povo do pacto deve ser o instrumento do propósito redentor de Deus.
Como tal, espera-se que ele viva preenchendo certos requisitos que por natureza
são principalmente éticos.
((Comunidade)).
Tanto o velho como o novo pacto foram instituídos com grupos
de pessoas: Israel e o Novo Israel. Os requisitos éticos são apresentados a uma
comunidade de pessoas, e não meramente a indivíduos. Eles se dirigem ao povo de
Deus. Não que os requisitos éticos da Bíblia não se relacionem com outras
pessoas; mas eles são designados especialmente, por Deus, para aqueles que o
amam, o conhecem e prometem fazer a sua vontade. Por exemplo, a Lei era
primariamente para a nação de Israel, e os ensinamentos éticos de Paulo,
primariamente para as igrejas. Dentro da comunidade da fé, o povo de Deus toma
decisões éticas. É no contexto da comunidade cristã, da oração, do culto, do
compartilhamento e do estudo da Palavra de Deus que os crentes vivem e agem. A
ênfase em comunidade é tão importante, na ética da Bíblia, que alguns eruditos
usam a expressão descritiva “ética de koinonia”.
((Senhorio de Cristo)).
Jesus, de acordo com a Bíblia, deve ser não apenas Salvador,
mas também Senhor. O senhorio de Cristo significa, entre outras coisas, que os
crentes devem seguir o seu exemplo e obedecer aos seus ensinamentos. Intimamente
relacionado com o tema de “Ser como Deus” está a ênfase do Novo Testamento em
“Ser como Cristo”. Essa ênfase em ser como Cristo está de acordo com a ênfase
bíblica de que Deus estava em Cristo e que Cristo revela o Pai. Visto que
devemos ser como Deus, e visto que Jesus revela da maneira mais ampla como Deus
é, devemos ser como Jesus. Os escritores do Novo Testamento frequentemente
enfatizam este tema (Mar. 8:34; João 13:34; I Cor. 11:1; Fil. 2:5-11; I Ped.
2:21-23). Outro aspecto do senhorio de Cristo é obediência aos seus ensinos.
Jesus disse aos seus seguidores: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as
nações... ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado”
(Mat. 28:19,20). Ele também disse: “Se me amardes, guardareis os meus
mandamentos” (João 14:15). Uma grande parte dos ensinos de Jesus se relaciona
com a ética. Em muitas maneiras, a vida e os ensinos de Jesus se reforçam
mutuamente. Jesus ensinou que a vida dos discípulos deve ser caracterizada pelo
amor, abnegação, aceitação da cruz, perdão, humildade, serviço e cuidado por
todas as necessidades dos homens. Jesus, mediante a sua vida, demonstrou cada
uma destas características. O Reino de Deus. Uma das principais ênfases de
Jesus, em seus ensinos, foi o reino de Deus. De acordo com Jesus, o reino não é
desenvolvido pelos homens, mas, pelo contrário, é estabelecido por Deus. Os
homens entram no reino deixando os seus próprios caminhos, para viver em
obediência à vontade de Deus. Portanto, o conceito de reino é uma mistura de
elementos religiosos e éticos. Ele trata do reinado de Deus sobre todas as
facetas da vida.
((Vida Dirigida Pelo
Espírito)).
O Novo Testamento enfatiza que os crentes devem seguir a
direção do Espírito Santo. Jesus prometeu que o Espírito iria iluminar (João
16:13-15), consolar (João 14: 16) e dar poder aos discípulos (At. 1:8). Atos é
um registro da vida da igreja primitiva sob a direção do Espírito. Por exemplo,
o Espírito levou a igreja a entender que Deus não faz acepção de pessoas, que o
preconceito é errado e que uma igreja deve estar aberta para pessoas de todas
as raças. Mais claramente do que qualquer outro escritor do Novo Testamento,
Paulo expressa as dimensões morais da vida dirigida pelo Espírito. Ele
recomenda aos crentes: “Andai pelo Espírito” (Gál. 5:16). Paulo indica que o
Espírito dá poder ao crente e o fortalece (Ef. 3:16). Ele descreve o fruto do
Espírito em termos éticos (Gál. 5:22). Ele declara que o Espírito liberta os
crentes do pecado (Rom. 8:2) e os ajuda na batalha contra o mal(Ef. 6:17).
Paulo declara que o Espírito propicia unidade à igreja, a despeito das
diferenças nacionais, de sexo ou raciais (I Cor. 12:13). Os pecados contra o
corpo são condenáveis porque o corpo é o “templo do Espírito Santo” (I Cor.
6:19).
IV. Áreas de
Interesse.
Para se descobrir o que a Bíblia ensina a
respeito de áreas particulares da vida, é importante ter em mente a necessidade
de uma interpretação cuidadosa. Consultar todas as passagens que tratam de um
tópico em particular não leva, necessariamente, a uma compreensão do que a Bíblia
ensina. Todos os temas básicos de ética bíblica precisam também relacionar-se
com o assunto.
((Indivíduo)).
Grande parte dos ensinamentos éticos da Bíblia se relaciona
com o indivíduo: sua saúde, bem-estar, atitudes e conduta pessoal. Grandes
porções do Velho Testamento são dedicadas a medidas de saúde, na parte
referente à Lei. Dieta e regras sanitárias são enfatizadas (Lev. 11-15). Os
ensinos do Novo Testamento, a respeito de saúde, são menos extensos, mas não de
significado menos importante. O crente deve cuidar de seu corpo, em primeiro
lugar, porque ele pertence a Deus (I Cor. 6:13), é um sacrifício vivo (Rom.
12:1), e é o templo do Espírito Santo (I Cor. 6:19). O bem-estar mental e
emocional do indivíduo também é do interesse de Deus. O crente deve ter a mente
de Cristo e colocar a sua mente nas coisas que são de cima (Fil. 2:5; Col.
3:2). Ele deve regozijar-se, ser cheio de esperança, ter confiança em Deus, rejeitar
a ansiedade e deixar que a paz de Cristo domine em seu coração (Mat. 6:25-34;
João 14:27; Col. 3:15; ITim. 4:10). Virtudes que devem ser cultivadas e vícios
que devem ser eliminados fazem parte das ênfases éticas da Bíblia. No Velho
Testamento, os Salmos 1, 15 e 24, Jó 31, Ezequiel 18 e porções de Isaías,
Miquéias, Oséias e Amós estabelecem qualidades agradáveis ou desagradáveis a
Deus. Porções do Novo Testamento também relacionam virtudes e vícios (Gál.
5:16-25; Ef. 4:1-5:20; Col. 3:1-17; e outros).
((Relações Interpessoais)).
Muitas das virtudes e vícios discutidos na Bíblia se aplicam
não apenas ao caráter individual, mas também às relações entre os indivíduos.
Na Lei, muitas páginas são devotadas às relações interpessoais. Os Dez
Mandamentos indicam que os direitos de cada pessoa devem ser respeitados. Uma
pessoa não deve tirar a vida, a esposa, a propriedade ou o bom nome de outra
pessoa — e nem mesmo pensar em praticar tal ato (Êx. 20:13-17).Ambos os
Testamentos indicam claramente que todos os homens devem ser tratados com
dignidade e respeito, sem acepção de raça, nacionalidade, religião ou condição
social. Várias razões são dadas para que se ministre tal tratamento. Todos os
homens são criados à imagem de Deus (Gên. 1:26,27). Deus ama todos os homens e
providencia tudo para os injustos tanto quanto para os justos (Mat. 5:45),
Cristo morreu por todos os homens (Rom. 5:18). Deus não é parcial para com
quaisquer pessoas (At. 10:34). A despeito de esforços persistentes para
justificar a discriminação racial e a segregação, com suposta base nas
Escrituras, nenhuma exegese adequada sustenta essas interpretações. A Bíblia
declara que as pessoas necessitadas devem ser cuidadas e que as estruturas
sociais danosas para as pessoas devem ser corrigidas. As exigências do amor
incluem justiça na ordem social. A lei do Velho Testamento toma providências
especiais em relação aos pobres e fracos (Ex. 22:25-27; Lev. 14:21-32; Deut.
15:1-11). Os profetas conclamaram tanto indivíduos quanto nações a cuidar dos
pobres, das viúvas, dos órfãos e de outros necessitados. Eles prometeram juízo
contra os que não procurassem ministrar justiça ao oprimido (Is. 1:1-31; Am.
5:11,12). Jesus passou muito tempo ministrando aos necessitados; ele se
interessava pelo homem em seu todo. Ele alimentou os famintos, consolou os
tristes, curou os doentes, restaurou os homens e tratou com o pecado. Ele
anunciou o seu ministério, e ofereceu evidências de ser o Messias, em termos de
cuidado para com todas as necessidades humanas (Mat. 11: 2-6; Luc. 4:18). Ele
indicou que os homens serão julgados pelo fato de terem ou não ministrado a
pessoas necessitadas (Mat. 25:31-46). As igrejas primitivas seguiram o padrão
de Jesus. Os discípulos de Jesus curaram os doentes, alimentaram os famintos e
cuidaram dos pobres. Os escritores do Novo Testamento enfatizaram a necessidade
de se levar as cargas uns dos outros (Gál. 6:2), fazer o bem a todos os homens
(Gál. 6:10), ajudar os fracos (I Tess. 5:14; Tiago 1:27) e cuidar das pessoas
necessitadas (I João 3:17,18).
((Vida Familiar)).
A Bíblia indica que a natureza do casamento é uma união de
macho e fêmea (Gên. 2:24). Como tal, o casamento tem sido estabelecido e
abençoado por Deus (Gên. 1:27,28; 2:18- 24) e é honroso (Heb. 13:4). As pessoas
que têm o dom do celibato podem deixar de se casar, para se dedicarem mais
plenamente ao serviço do reino de Deus (Mat. 19:10-12; I Cor. 7:7,25-27). Mas o
celibato não é mais agradável a Deus do que o casamento. A união matrimonial
deve ser exclusiva (Mat. 19:4-6; I Cor. 7:10). Não deve haver adultério,
poligamia ou dependência contínua dos pais. Além disso, a união deve ser
vitalícia (I Cor. 7:39). O divórcio, Jesus indicou, não fazia parte do plano
original de Deus para o casamento (Mat. 19:3-12). O Novo Testamento
provavelmente permite o divórcio e novo casamento no caso de infidelidade
sexual ou deserção, da parte de um cônjuge infiel (Mat. 5:31,32; 19:3-12; I
Cor. 7:15). Marcos 10:2-12 e Lucas 16:18 não abrem nenhuma possibilidade de
divórcio e novo casamento. A Bíblia indica que há um tríplice propósito no
casamento. Um deles é propiciar companhia íntima para um homem e uma mulher
(Gên. 2:18,22; Mat. 19:4-6). Outro é propiciar uma expressão construtiva para o
desejo sexual (I Cor. 7:2-6; Heb. 13:4). A Bíblia considera o sexo como uma
dádiva boa, de Deus, que pode propiciar felicidade quando usado da maneira que
Deus pretende. A Bíblia indica que as relações sexuais, expressão da união em
uma só carne, destinam-se apenas para um homem e uma mulher que estejam
casados. Homossexualismo, incesto, bestialidade (sodomia), bem como fornicação
e adultério, são proibidos (Êx. 20:14; Lev. 18:6-23; Mat. 5:27- 30; 19:9; Rom.
1:26,27). Um terceiro propósito do casamento é a procriação (Gên. 1:28).
Contudo, a Bíblia não indica que a procriação deve ser um aspecto pretendido de
cada ato de união sexual (I Cor. 7:1-5). O controle de natalidade, quando
praticado por razões dignas, não viola os ensinos bíblicos. Ã luz da explosão
populacional, ele pode ser uma obrigação cristã. A Bíblia estabelece diretrizes
para as relações familiares. Entre marido e mulher as palavras-chave são: amor,
fidelidade, respeito e consideração pelas necessidades um do outro (Ef.
5:21-33; I Cor. 7:1-5). Os filhos devem obedecer e honrar os seus pais (Deut.
5:16; Ef. 6:1-3). Os pais devem amar, disciplinar, nutrir, prover às
necessidades físicas e dar instrução religiosa aos seus filhos (Êx. 12:26,27;
Col. 3:21; Tito 2:4).
((Economia e Trabalho
Diário)).
A Bíblia não contém nenhum padrão definido para um sistema
econômico, mas apresenta diretrizes para a atividade econômica. O Velho
Testamento estabelece muitas regras a respeito de coisas como a escravidão,
colheita, empréstimos e propriedade da terra (Éx. 15:1-18; Lev. 19). A posse
privada de propriedades é reconhecida na Bíblia, mas nunca é considerada
absoluta (v.g., Lev. 19:9,10; 25:23). A terra e tudo o que nela há pertencem a
Deus (Êx. 19:5; Sal. 24:1; Is. 66:2). O homem não deve abusar da terra, que
pertence a Deus, nem poluí-la. Deus dá o poder ou capacidade de ganhar riquezas
(Deut. 8:17,18); ninguém “se faz” por si próprio. A riqueza deve ser adquirida
mediante trabalho honesto, e não por roubo, desonestidade ou táticas opressivas
(Prov. 21:6; Mar. 12: 40; Ef. 4:28). Tanto no Velho quanto em o Novo
Testamento, reconhece-se que não se deve aproveitar dos pobres, mas, sim,
cuidar deles (Jó 31:16-33; Is. 58:7,8; Am. 2:6,7). O Novo Testamento contém
várias advertências a respeito do perigo potencial da riqueza. Ela pode ser um
obstáculo à entrada no reino de Deus (Mat. 19:23). Ela é enganosa, criando um
falso senso de segurança (Luc. 12:16-21). O amor do dinheiro é a raiz de toda
sorte de males (I Tim. 6:9,10). Os tesouros materiais não são tão valiosos
quanto os espirituais (Mat. 6:17-21). A preocupação com as possessões materiais
pode sufocar o crescimento espiritual (Mat. 13:22); portanto, os homens não
devem ficar ansiosos a respeito das coisas materiais (Mat. 6:24-34). A vida e
os ensinamentos de Jesus indicam que as possessões materiais ganhas mediante
trabalho honesto devem ser usadas de várias maneiras: para cuidar de si mesmo e
da família (Mat. 7:11; 15:1-6), para ajudar os necessitados (Mat. 25), para
sustentar líderes religiosos e instituições afins (Mat. 17:24-27; Mar. 12:42) e
para pagar os impostos (Mat. 22:15-22). Paulo ensinou que uma pessoa deve
trabalhar para ganhar a vida, se possível (I Tess. 4:11; II Tess. 3:10). Se,
por alguma razão, uma pessoa for incapaz de trabalhar, deve ser cuidada pelos
outros. A renda do trabalho deve ser usada para satisfazer às necessidades da
família do trabalhador (I Tim. 5:8), para contribuir para o sustento dos
líderes religiosos (I Cor. 9:14), para pagar os impostos (Rom. 13:6,7) e para
suprir as necessidades de pessoas que estejam tendo privações especiais (Rom.
12:8,13; II Cor. 8:1-5).
((Estado e Cidadania)).
A Bíblia não apresenta um esboço de uma forma de governo.
Ela indica, todavia, algo a respeito da natureza do governo e da
responsabilidade dos cidadãos. Ela reconhece o governo como instituição válida.
Jesus aceitou o governo, operou dentro de sua estrutura, reconheceu o direito
de taxação e submeteu-se à autoridade do Estado (Mat. 17:24,25; 22:15-22).
Paulo ensinou que o governo é ordenado por Deus e existe para proteger os
retos, punir os malfeitores e propiciar o bem-estar dos cidadãos (Rom. 13:1-7).
O direito do Estado, de fazer leis e determinar o seu cumprimento, bem como
punir os criminosos, é reconhecido em ambos os Testamentos. A Bíblia indica que
os oficiais do governo devem ser homens de caráter íntegro, que desempenharão
as funções legítimas do Estado. Eles devem ser honestos, e não devem aceitar
propinas (Êx. 23:8). Eles devem temer a Deus, guardar os seus mandamentos
(Deut. 17:18-20; Sal. 2:10,11) e reconhecer que o seu poder vem de Deus (João
19:11; Rom. 13). Eles não devem se embriagar (Prov. 31:4,5), agir injustamente
ou demonstrar favoritismo (Lev. 19:15; Deut. 16:19). Jesus e os profetas
criticaram severamente os líderes governamentais que abusavam de sua posição
(II Sam. 12:1-10; Is. 1:23; Am. 5:7,12; Mar. 8:15; Luc. 13:32). De acordo com o
Novo Testamento, os crentes devem honrar os oficiais do governo (Rom. 13:7; I
Ped. 2:17), pagar impostos (Mat. 22:21), obedecer às leis (Rom. 13:1-7) e orar
pelas autoridades (I Tim. 2:1,2). Contudo, não devem submeter-se ao Estado
quando fazê-lo for contrário à vontade de Deus (At. 5:29). Guerra e força
militar desempenham um grande papel na Bíblia. Embora o ideal de Deus seja a
paz (Sal. 46:9; Is. 2:4; 11:1-10), o horror da guerra está realisticamente
presente (II Sam. 2:26; Sal. 79:1,2; Jer. 16:4; Is. 1:7,8). Contudo, o Velho
Testamento retrata Deus como tendo algumas vezes permitido e até ordenado a
guerra (Lev. 26:7,8; Deut. 7:1,2; 20:1-20; II Sam. 22:35; 1 Crôn. 5:22). Deve
notar-se que essas guerras, no entanto, eram peculiares; foram as guerras que
levaram o povo de Deus a conquistar a terra prometida. Em o Novo Testamento não
há ensinamento direto a respeito da guerra. Algumas das ações e dos
ensinamentos de Jesus têm sido usados para aprovar a guerra. Ele ensinou que
guerras e rumores de guerras persistiriam, mas não indicariam, necessariamente,
o seu retorno (Mat. 24:6). Ele aceitou o papel dos militares (Luc. 14:31) e
louvou a fé de um deles (Luc. 7:1-9). Outros dos ensinos de Jesus são usados
para sustentar o pacifismo. Jesus louvou os pacificadores (Mat. 5:9) e
conclamou os seus discípulos a amarem os seus inimigos, a praticarem a não
resistência e a fazerem o bem aos que os prejudicassem (Mat. 5:38-48). Ele
ensinou que aqueles que tiram da espada perecerão pela espada, e ordenou a
Pedro que embainhasse a sua (Mat. 26:52). O Novo Testamento praticamente
silencia a respeito de assuntos como revolução, participação cristã em ação
política e relações entre Igreja e Estado. A ação política cristã direta, se
não fosse em termos de revolução, dificilmente era uma opção existente para os
cristãos sob a ditadura romana. Porém pode-se presumir que a cidadania cristã
responsável, em uma democracia, requer envolvimento em ação política. A
percepção bíblica e a evidência histórica tendem a confirmar a separação como a
melhor relação entre Igreja e Estado.
V. Motivação Para a
Ação.
A Bíblia estabelece não apenas o que é correto para os
homens, mas também por que eles devem agir retamente. As Escrituras contêm
apelos e encorajamento para uma vida moral, bem como sugestões a respeito de
como se apropriar da ajuda que está disponível.
((Apelos)).
Grandes partes dos apelos
que se fazem, na Bíblia, em favor de uma conduta ética estão centralizados
em a natureza e nos atos de Deus. Glorificar a Deus por causa do que ele é e
por causa do que ele tem feito é um apelo bíblico constante, frequente (Rom.
15:6,9;I Cor. 6:20; II Cor. 9:13).
No Velho Testamento,
a razão muitas vezes apresentada para se seguir os mandamentos é que Deus é o
Senhor (Lev. 19:1-37).Em outros casos, são feitos apelos com base na graça de
Deus — o seu amor imerecido e seu cuidado pelo seu povo.
Um tema comum do Novo
Testamento é que os crentes devem obedecer a Deus por causa do que ele fez
por eles (Rom. 12:1,2; I Cor. 6:20; Gál. 5:1; Ef. 3:20,21; Col. 3:1-17; I João
3:1-10).
Por exemplo, eles
devem amar-se uns aos outros porque em primeiro lugar Deus os amou (Ef. 5:2; I
João 4:11, 19), e perdoar uns aos outros porque Deus em Cristo os perdoou (Ef.
4:32).Os atos de amor executados por Deus são mais frequentemente descritos em
relação a Cristo: a sua vida, sacrifício e expressões concretas de amor. Jesus
ordenou especificamente aos seus discípulos que se amassem uns aos outros como
ele os amara (João 15:12). Os escritores do Novo
Testamento apelaram em favor de uma ação com base nas ações de Cristo:
Porque Jesus se sacrificou, devemos estar dispostos a nos
sacrificarmos (I Ped. 4:12, 19).
Por causa da generosidade de Jesus, devemos ser generosos
(II Cor. 8:1-9).De forma semelhante, os crentes devem conduzir-se de forma a
serem dignos do evangelho (Fil. 1:27). Por causa das bênçãos que eles receberam
em Cristo, eles devem estar dispostos a segui-lo (Fil. 3:8-11).
Um apelo correlato é viver de maneira piedosa de forma a dar
testemunho e provar que são falsas as declarações difamadoras dos incrédulos (I
Ped. 2:15; 3:1-3). Outros motivos para a conduta cristã se apresentam em um
nível diferente. Em vez de apelos em favor de uma vida piedosa com base na
gratidão pelo que Deus fez, eles se fazem com base no que Deus pode fazer. Por
exemplo, recomenda-se que os homens vivam de acordo com os padrões de Deus, de
forma que as suas orações sejam respondidas (II Crôn. 7:14; Tiago 5:16). O Novo
Testamento frequentemente declara que a conduta reta propicia recompensa e que
as más ações resultam em sofrimento e castigo (Mat. 25:31-46). O Velho
Testamento contém várias passagens vívidas, retratando a recompensa da
obediência e o castigo da desobediência (Lev. 26:14-39; Is. 1:1-31). Em o Novo
Testamento, o juízo final, o Dia do Senhor e a segunda vinda de Cristo, são
discutidos em termos de ação ética(Mat. 25:31-46; I Tess. 5:2- 11; I Ped.
4:7-11; Apoc. 2:5-7).
((Capacitação)).
Como podem as pessoas encontrar poder para vencer a
tentação, viver de acordo com os padrões de Deus e fazer a vontade de Deus? O
Novo Testamento insiste que só em Cristo os homens podem esperar encontrar tal
força. A vida cristã não é tanto imposta de fora quanto expressa de dentro para
fora. O Cristo vivo habita com o crente, para guiá-lo e fortalecê-lo (Gál.
2:20; Fil. 4:13). Como disse T. W. Manson: “O Cristo vivo ainda tem duas
mãos: uma, para indicar o caminho, e a outra, estendida para nos ajudar”
(p. 68). Os crentes podem aproveitar-se do poder de Deus, do Cristo vivo e do
Espírito, que neles habita, através do culto, oração e comunhão cristã (Rom.
15:16; Gál. 2:20; 5:16 6:5; Ef. 4:11-16; Col. 1:9-14; 3:16,17; 4:2-4). Quando
os crentes resistem à tentação e se aproximam de Deus, ele se aproxima deles
(Tiago 4:7,8). Que acontece se uma pessoa não consegue viver segundo os padrões
bíblicos? Para o incrédulo, a resposta é sair de seu pecado e andar pelo
caminho de Deus pela fé em Cristo. Para o crente, a resposta é confissão a
Deus, aceitação do perdão e um esforço renovado, com a ajuda de Deus. A
resposta da Bíblia para a falha do discípulo não significa que os fracassos
devem ser considerados levianamente. O efeito de se negligenciar os padrões de
Deus continua mesmo depois que tiveram lugar confissão e perdão. Mas o crente
não deve ficar excessivamente preocupado com o pecado do passado. Ele deve
avançar para novas realizações, com Deus, em Cristo.
VI Conclusão
A natureza da ética bíblica requer mente aberta e
obediência. A Bíblia fala com autoridade a respeito de problemas éticos. No
entanto, os crentes devotos divergem a respeito do que a Bíblia ensina acerca
de assuntos como aborto, controle de natalidade, pena de morte e guerra.
Existem diferenças primordialmente porque as ênfases éticas da Bíblia são
interpretadas e aplicadas por homens falhos. Cada um de nós deve estar aberto
para receber iluminação dos outros, ao tentar conseguir o seu próprio
entendimento da ética na Bíblia. A pessoa que realmente crê na Bíblia a
aplicará em todas as áreas de sua vida: no trabalho, família, recreação e
política, bem como na atividade relacionada com a igreja. O fracasso em cuidar
dos pobres, ministrar aos prisioneiros e alimentar os famintos indica falta de
dedicação à revelação bíblica. A pessoa que negligencia a sua família, faz
discriminação contra pessoas por motivo de raça ou se nega ao pagamento de
impostos de maneira óbvia certamente não leva a Bíblia a sério. Os ensinos
éticos da Bíblia exigem obediência, tanto quanto estudo. O crente não deve
apenas crer na verdade da Palavra de Deus, mas também colocá-la em prática.
William M. Pinson, Jr.
Extraído do comentário Bíblico Broadman
Excelente!!!
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