A DISCIPLINA
DIVINA Hebreus 12:5-11
Aqui o autor expõe ainda outra
razão pela qual os homens deverão suportar de bom ânimo as aflições e
contratempos da vida. Insistiu comeles a suportar tudo isto porque os grandes
santos do passado o suportaram e porque tudo o que suportamos é pouco em comparação
com o que Jesus Cristo teve que suportar. Agora afirma que devemos suportar a
prova e a aflição porque nos são enviadas como uma disciplina de Deus, e
nenhuma vida pode ter valor algum sem disciplina. Um pai sempre disciplina a
seu filho. Não seria sinal de amor paterno deixar que o filho faça o que queira
e busque sempre o caminho fácil. Um pai que agisse assim não demonstraria amor
a seu filho; pelo contrário, daria a entender que não considera seu filho
melhor que um filho ilegítimo para o qual não sente nem amor nem
responsabilidade. Nós submetemos à disciplina de um pai terrestre só por um
breve tempo, até que chegamos aos anos da maturidade. Na correção paterna
terrestre há, no melhor dos casos, um elemento de arbitrariedade. O pai terreno
é aquele a quem lhe devemos nossa vida corporal. Quanto mais devemos nos
submeter à disciplina de Deus a quem devemos nossas almas imortais, um Deus que
é inteiramente sábio e que em sua sabedoria não busca outra coisa senão nosso
maior bem que só Ele conhece. Na Cyropaedia de Xenofonte há uma passagem
curiosa e interessante. Discute- se sobre qual é mais útil no mundo: o homem
que faz você rir ou aquele que faz você chorar. Aglaitidas diz: "Aquele
que faz rir a seus amigos parece que lhes brinda um serviço muito menor que
aquele que os faz chorar”. E se quer considerar isto retamente, você também
encontrará que digo a verdade. De toda maneira, os pais desenvolvem o domínio
próprio de seus filhos, fazendo-os chorar, os mestres gravam boas lições em
seus alunos da mesma maneira e também as leis conduzem os cidadãos à justiça,
fazendo-os chorar. Mas, poderíamos afirmar que aqueles que nos fazem rir, fazem
bem a nossos corpos ou fazem com que nossas mentes sejam mais capazes no manejo
dos negócios privados ou do Estado?” Segundo o ponto de vista do Aglaitidas o
homem que exercita a disciplina é aquele que verdadeiramente cuida dos demais e
faz o bem para eles.
Não há dúvida de que esta
passagem sentaria aos que o escutaram pela primeira vez, com um duplo impacto,
porque todo mundo estava a par do pasmoso pátrio poder, o poder do pai.
Um pai romano tinha por lei um poder absoluto sobre sua família. Até sobre um
filho casado o pai exercia esse poder absoluto: tanto sobre ele como sobre seus
netos. Isto foi assim desde o princípio. Um pai romano podia aceitar ou
rechaçar um filho recém-nascido, segundo seu gosto; podia encadeá-lo ou
açoitá-lo e vendê-lo como escravo; até tinha o direito de matá-lo. Mas, em
geral quando um pai devia dar um passo sério contra algum membro de sua família
convocava a todos os membros masculinos e adultos ainda que não precisava
fazê-lo nem ter em conta o parecer dos mesmos.
É verdade que, nos últimos tempos
a opinião pública não permitia que um pai executasse a seu filho, mas isto
sucedeu a partir dos dias de Augusto.
Salustio, o historiador romano,
conta-nos de um incidente durante a conspiração de Catilina. Catilina que se
tinha rebelado contra Roma foi apoiado por alguns que se uniram a suas forças.
Entre eles encontrava-se Aulo Fulvio, filho de um senador romano. Foi detido e
levado a sua casa.
Seu mesmo pai o julgou e ordenou
sua execução.
De acordo com a pátrio poder um
filho romano jamais se tornava adulto. Podia estar entregue a uma carreira
oficial, ocupar as magistraturas mais
altas, ser honrado por todo o país; tudo isto não interessava. Ainda permanecia
direta e totalmente sob o poder do pai enquanto este vivesse. Se alguma vez
algum povo soube o que era a disciplina paterna este foi o povo romano. E
quando o autor de Hebreus fala de como um pai terrestre corrigia a seu filho,
seus leitores sabiam muito bem a que se referia.
Assim, pois, o autor insiste em
que devemos considerar todas as provas da vida como uma disciplina de Deus; não
devemos considerar que são para nosso dano e prejuízo, senão para nosso bem
supremo e último. Para provar isto cita Provérbios 3:11-12.
Há muitas maneiras nas que a
pessoa pode considerar a disciplina que Deus lhe envia.
(1) Pode aceitar a
disciplina resignadamente. Isto é o que faziam os estóicos que pensavam que
nada neste mundo acontecia sem a vontade de Deus. Portanto, afirmavam, não há
outra saída senão a aceitação. Agir de outra maneira é simplesmente golpear a
cabeça contra as muralhas do universo e não querer aceitar o inevitável.
Trata-se certamente de uma aceitação. Pode ser que seja até a aceitação da
sabedoria suprema; mas apesar de tudo é uma aceitação não do amor de um pai,
mas sim de seu poder. Não é uma aceitação voluntária mas sim uma aceitação
derrotada.
(2) Pode-se aceitar a disciplina com
o lúgubre sentimento de que passe o mais rapidamente possível. Um famoso
romano da antiguidade dizia: "Não deixarei que nada interrompa
minha vida". Se a pessoa aceitar a disciplina desta maneira, ele o
faz com uma turva determinação mas considerando-a como uma correção e
aflição que devem superar-se com desafio e não certamente com gratidão.
(3) Pode-se aceitar a disciplina
com uma auto-comiseração que o conduz finalmente ao fracasso. Há pessoas
que quando se vêem vítimas de alguma situação difícil dão a impressão de
ser os únicos do mundo golpeados ou afligidos pela vida. Perdem-se na
auto-comiseração. Ainda que se trate da perda de um ser querido, por
quem sofrem todo o tempo é por si mesmas.
(4) Alguém pode aceitar a
disciplina como um castigo que os ofende. É estranho que nessa época os
romanos não vissem nos desastres nacionais e pessoais mais que a
vingança dos deuses. Luciano escreveu: "Roma teria sido
efetivamente feliz e seus cidadãos felizes, se os deuses se preocupassem
tanto em cuidar dos homens como em ser exigentes na vingança". Tácito
mantinha que os desastres da nação eram a prova de que os deuses não se
interessavam pela segurança dos homens, mas sim em seu castigo. Até há
aqueles que consideram a Deus como um Deus vingativo.
Quando algo lhes acontece ou aos
que amam, eles se perguntam: "O que é que eu fiz para merecer isto?"
E o perguntam em tom e com um espírito tais que evidenciam que consideram tudo
como um castigo injusto e imerecido de parte de Deus. Jamais lhes ocorre perguntar:
"O que é o que Deus quer me ensinar? O que quer fazer de mim? O que quer fazer
comigo por meio desta experiência que me sobreveio?"
(5) Desta maneira chegamos à
última atitude. Também existem os que vêem nas coisas difíceis da vida a
disciplina de um pai amante.
Jerônimo dizia algo paradoxal mas
verdadeiro: "A maior ira de todas é que Deus não se ire mais conosco
quando pecamos". Queria dizer que o castigo supremo é que Deus nos
abandone como indóceis, incuráveis e irremediavelmente cegos. O verdadeiro
cristão sabe que tudo o que lhe sobrevém procede de um Deus que é um Pai e que,
"a mão de um pai jamais causará a seu filho uma lágrima inútil". Sabe
que tudo o que acontece significa algo, tem um propósito, leva o desígnio de
fazer dele um homem melhor e mais sábio. Daremos fim à autocomiseração, ao
ressentimento e à queixa rebelde se lembrarmo-s que não há disciplina de Deus
que não tenha suas fontes no amor, e que não esteja ordenada para o bem.
Aqui o autor expõe ainda outra
razão pela qual os homens deverão suportar de bom ânimo as aflições e
contratempos da vida. Insistiu com eles a suportar tudo isto porque os grandes
santos do passado o suportaram e porque tudo o que suportamos é pouco em comparação
com o que Jesus Cristo teve que suportar. Agora afirma que devemos suportar a
prova e a aflição porque nos são enviadas como uma disciplina de Deus, e
nenhuma vida pode ter valor algum sem disciplina. Um pai sempre disciplina a
seu filho. Não seria sinal de amor paterno deixar que o filho faça o que queira
e busque sempre o caminho fácil. Um pai que agisse assim não demonstraria amor
a seu filho; pelo contrário, daria a entender que não considera seu filho
melhor que um filho ilegítimo para o qual não sente nem amor nem
responsabilidade. Nós submetemos à disciplina de um pai terrestre só por um
breve tempo, até que chegamos aos anos da maturidade. Na correção paterna
terrestre há, no melhor dos casos, um elemento de arbitrariedade. O pai terreno
é aquele a quem lhe devemos nossa vida corporal. Quanto mais devemos nos
submeter à disciplina de Deus a quem devemos nossas almas imortais, um Deus que
é inteiramente sábio e que em sua sabedoria não busca outra coisa senão nosso
maior bem que só Ele conhece. Na Cyropaedia de Xenofonte há uma passagem
curiosa e interessante. Discute- se sobre qual é mais útil no mundo: o homem
que faz você rir ou aquele que faz você chorar. Aglaitidas diz: "Aquele
que faz rir a seus amigos parece que lhes brinda um serviço muito menor que
aquele que os faz chorar”. E se quer considerar isto retamente, você também
encontrará que digo a verdade. De toda maneira, os pais desenvolvem o domínio
próprio de seus filhos, fazendo-os chorar, os mestres gravam boas lições em
seus alunos da mesma maneira e também as leis conduzem os cidadãos à justiça,
fazendo-os chorar. Mas, poderíamos afirmar que aqueles que nos fazem rir, fazem
bem a nossos corpos ou fazem com que nossas mentes sejam mais capazes no manejo
dos negócios privados ou do Estado?” Segundo o ponto de vista do Aglaitidas o
homem que exercita a disciplina é aquele que verdadeiramente cuida dos demais e
faz o bem para eles.
Não há dúvida de que esta
passagem sentaria aos que o escutaram pela primeira vez, com um duplo impacto,
porque todo mundo estava a par do pasmoso pátrio poder, o poder do pai.
Um pai romano tinha por lei um poder absoluto sobre sua família. Até sobre um
filho casado o pai exercia esse poder absoluto: tanto sobre ele como sobre seus
netos. Isto foi assim desde o princípio. Um pai romano podia aceitar ou
rechaçar um filho recém-nascido, segundo seu gosto; podia encadeá-lo ou
açoitá-lo e vendê-lo como escravo; até tinha o direito de matá-lo. Mas, em
geral quando um pai devia dar um passo sério contra algum membro de sua família
convocava a todos os membros masculinos e adultos ainda que não precisava
fazê-lo nem ter em conta o parecer dos mesmos.
É verdade que, nos últimos tempos
a opinião pública não permitia que um pai executasse a seu filho, mas isto
sucedeu a partir dos dias de Augusto.
Salustio, o historiador romano,
conta-nos de um incidente durante a conspiração de Catilina. Catilina que se
tinha rebelado contra Roma foi apoiado por alguns que se uniram a suas forças.
Entre eles encontrava-se Aulo Fulvio, filho de um senador romano. Foi detido e
levado a sua casa.
Seu mesmo pai o julgou e ordenou
sua execução.
De acordo com a pátrio poder um
filho romano jamais se tornava adulto. Podia estar entregue a uma carreira
oficial, ocupar as magistraturas mais
altas, ser honrado por todo o país; tudo isto não interessava. Ainda permanecia
direta e totalmente sob o poder do pai enquanto este vivesse. Se alguma vez
algum povo soube o que era a disciplina paterna este foi o povo romano. E
quando o autor de Hebreus fala de como um pai terrestre corrigia a seu filho,
seus leitores sabiam muito bem a que se referia.
Assim, pois, o autor insiste em
que devemos considerar todas as provas da vida como uma disciplina de Deus; não
devemos considerar que são para nosso dano e prejuízo, senão para nosso bem
supremo e último. Para provar isto cita Provérbios 3:11-12.
Há muitas maneiras nas que a
pessoa pode considerar a disciplina que Deus lhe envia.
(1) Pode aceitar a
disciplina resignadamente. Isto é o que faziam os estóicos que pensavam que
nada neste mundo acontecia sem a vontade de Deus. Portanto, afirmavam, não há
outra saída senão a aceitação. Agir de outra maneira é simplesmente golpear a
cabeça contra as muralhas do universo e não querer aceitar o inevitável.
Trata-se certamente de uma aceitação. Pode ser que seja até a aceitação da
sabedoria suprema; mas apesar de tudo é uma aceitação não do amor de um pai,
mas sim de seu poder. Não é uma aceitação voluntária mas sim uma aceitação
derrotada.
(2) Pode-se aceitar a disciplina com
o lúgubre sentimento de que passe o mais rapidamente possível. Um famoso
romano da antiguidade dizia: "Não deixarei que nada interrompa
minha vida". Se a pessoa aceitar a disciplina desta maneira, ele o
faz com uma turva determinação mas considerando-a como uma correção e
aflição que devem superar-se com desafio e não certamente com gratidão.
(3) Pode-se aceitar a disciplina
com uma auto-comiseração que o conduz finalmente ao fracasso. Há pessoas
que quando se vêem vítimas de alguma situação difícil dão a impressão de
ser os únicos do mundo golpeados ou afligidos pela vida. Perdem-se na
auto-comiseração. Ainda que se trate da perda de um ser querido, por
quem sofrem todo o tempo é por si mesmas.
(4) Alguém pode aceitar a
disciplina como um castigo que os ofende. É estranho que nessa época os
romanos não vissem nos desastres nacionais e pessoais mais que a
vingança dos deuses. Luciano escreveu: "Roma teria sido
efetivamente feliz e seus cidadãos felizes, se os deuses se preocupassem
tanto em cuidar dos homens como em ser exigentes na vingança". Tácito
mantinha que os desastres da nação eram a prova de que os deuses não se
interessavam pela segurança dos homens, mas sim em seu castigo. Até há
aqueles que consideram a Deus como um Deus vingativo.
Quando algo lhes acontece ou aos
que amam, eles se perguntam: "O que é que eu fiz para merecer isto?"
E o perguntam em tom e com um espírito tais que evidenciam que consideram tudo
como um castigo injusto e imerecido de parte de Deus. Jamais lhes ocorre perguntar:
"O que é o que Deus quer me ensinar? O que quer fazer de mim? O que quer fazer
comigo por meio desta experiência que me sobreveio?"
(5) Desta maneira chegamos à
última atitude. Também existem os que vêem nas coisas difíceis da vida a
disciplina de um pai amante.
Jerônimo dizia algo paradoxal mas
verdadeiro: "A maior ira de todas é que Deus não se ire mais conosco
quando pecamos". Queria dizer que o castigo supremo é que Deus nos
abandone como indóceis, incuráveis e irremediavelmente cegos. O verdadeiro
cristão sabe que tudo o que lhe sobrevém procede de um Deus que é um Pai e que,
"a mão de um pai jamais causará a seu filho uma lágrima inútil". Sabe
que tudo o que acontece significa algo, tem um propósito, leva o desígnio de
fazer dele um homem melhor e mais sábio. Daremos fim à autocomiseração, ao
ressentimento e à queixa rebelde se lembrarmo-s que não há disciplina de Deus
que não tenha suas fontes no amor, e que não esteja ordenada para o bem.
0 Comentários:
Postar um comentário