UMA ADVERTENCIA E UM ENCORAJAMENTO Hb. 10.26-39.
Hebreus 10:26-31
De vez em quando o autor de
Hebreus fala com uma severidade que
quase não tem paralelo no Novo
Testamento. Há poucos escritores que
possuam tal sentido de horror e
terror frente ao pecado. Nesta passagem
seu pensamento retrocede à
sinistra descrição feita em Deuteronômio
17:2-7. Ali estabelece-se o
seguinte quando se prova que alguém foi
após deuses estranhos,
rendendo-lhes culto: “Então, levarás o homem ou
a mulher que fez este malefício
às tuas portas e os apedrejarás, até que
morram. Por depoimento de duas ou
três testemunhas, será morto o que
houver de morrer; por depoimento
de uma só testemunha, não morrerá.
A mão das testemunhas será a primeira
contra ele, para matá-lo; e,
depois, a mão de todo o povo;
assim, eliminarás o mal do meio de ti.”
O autor tem este terror ao pecado
por duas razões.
Em primeiro termo, vivia numa
época em que a Igreja era constantemente o alvo dos ataques. O maior perigo que
corria a Igreja estava no possível mal viver e a apostasia de seus membros. Uma
Igreja não podia em tais
circunstâncias permitir o luxo de
cobrir membros que fossem uma má
propaganda para a fé cristã. Esta
classe de gente teria significado uma
trava insuperável. Em tais
circunstâncias a Igreja não podia permitir-se
ter apóstatas. Seus membros
deviam ser fiéis ou não ser membros. Na
época do autor a lealdade
fazia-se a necessidade suprema e absoluta de
uma Igreja que queria sobreviver.
Isto ainda hoje é verdade.
Dick Sheppard dedicou grande
parte de sua vida à pregação ao ar
livre a pessoas que eram hostis
ou indiferentes à Igreja. De suas
perguntas, argumentos e críticas
dizia ter aprendido que "a maior trava
que a Igreja tem é a vida
insatisfatória dos cristãos professos".
O cristão insatisfatório foi e é
aquele que mina os próprios
fundamentos da Igreja.
Em segundo lugar, o autor de
Hebreus tinha certeza de que o pecado se tornou duplamente sério por motivo do novo
conhecimento de Deus e de sua vontade trazido por Jesus Cristo. Um dos antigos
teólogos escreveu um tipo de catecismo. No final termina perguntando o que acontece
se o homem menospreza a verdade e a apelação do oferecimento de Jesus Cristo.
Sua resposta é que o resultado necessário é a condenação, "e tanto mais porque
leu este livro".
Quanto maior é o conhecimento,
tanto maior é o pecado. A convicção do autor de Hebreus era que se já sob a Lei
antiga a apostasia era algo terrível, tinha-se voltado duplamente atroz agora
que Cristo tinha vindo.
A seguir nos dá três definições
do pecado.
(1) Pecar é pisotear
a Cristo Pecar é pisar o
oferecimento do amor.
O pecado não é meramente
rebelar-se contra a Lei, mas sim além disso ferir o amor. O homem pode resistir
quase qualquer ataque contra seu corpo; mas o que o prostra inteiramente é a
quebra do coração. Conta-se que nos dias de terror de Hitler, um homem na
Alemanha tinha sido detido, julgado, torturado e lançado ao campo de
concentração. Ele tinha enfrentado tudo impertérrito, com coragem, saindo
vitorioso e incólume das provas. No final seu corpo estava destroçado mas sua
cabeça erguida e seu espírito invencível. Então se descobriu acidentalmente
quem era aquele que primeiro tinha prestado relatório contra ele: o delator a
quem se deveu seu arresto era seu próprio filho.
Esta descoberta o destroçou e
morreu. Pôde suportar o ataque inimigo, mas foi destroçado pelo ataque de
alguém a quem amava.
Quando César foi assassinado
enfrentou a seus assassinos com uma valentia decidida e quase desdenhosa. Mas
quando viu a mão de seu amigo Bruto erguida para golpear, escondeu a cabeça em
seu manto e morreu. Uma vez que Cristo veio, o terrível do pecado já não
consiste em quebrantar a Lei, mas em pisotear o amor de Cristo. O pecado tornou-se
o crime mais terrível do mundo — o crime contra o amor.
(2) Pecado é não descobrir o
sacrossanto nas coisas sagradas.
Nada há que produza um
estremecimento tal como o sacrilégio.
Durante o dia do estudante
costuma-se a conceder aos estudantes uma grande margem de liberdade. A ordem do
dia é causar alvoroço; tanto as autoridades como o público os observam com
tolerância e em certa medida até com satisfação. Mas durante certa semana do
estudante um grupo levou a cabo um ato de "strip-tease" ao pé da
capela de uma cidade importante. É obvio que se fez por ignorância, e a pessoa
mais complicada no assunto jamais teria cometido tal ação se tivesse tido consciência
da situação. Mas perante este ato houve uma pública expressão de espanto. A
santidade da capela tinha sido violada; algo sagrado tinha sido usada como se
carecesse de santidade. O autor de Hebreus diz efetivamente: "Olhem o que
foi feito por vocês; olhem o sangue derramado e o corpo destroçado de Cristo;
olhem o que custou sua nova relação com Deus; vocês podem tratar isto
como se não importasse? Não se
dão conta de que estão tratando com
coisas muito sagradas?" O
pecado consiste em não compreender o
sacrossanto do sacrifício da
cruz.
(3) O pecado é um insulto ao
Espírito Santo. O Espírito Santo é aquele que fala dentro de nós, aquele
que nos diz o que é bom e o que é mau. Busca deter-nos quando nos encaminhamos
ao pecado e nos aguilhoar quando somos arrastados a uma letargia cômoda.
Ignorar e desatender estas vozes e avisos é insultar o Espírito. Rechaçar o
aviso de um homem bom e sábio, desatender com desprezo seu convite e abusar de
sua hospitalidade é insultá-lo. Ignorar completamente as súplicas, os convites
e os imperativos do Espírito para seguir o próprio caminho, é insultar e ferir
o coração de Deus. De tudo isto resulta uma coisa. O pecado não é a
desobediência a uma lei impessoal, mas sim a alteração e o naufrágio de uma
relação pessoal. Pecar não é ir contra a Lei, mas sim desafiar, ferir e violar
o coração de Deus cujo nome é Pai.
Agora o autor termina sua
interpelação com uma ameaça. Cita
Deuteronômio 32:35-36 onde
claramente se percebe a severidade de
Deus. No coração do cristianismo
há uma ameaça permanente. Remover
essa ameaça é adulterar a fé. No
final não será tudo o mesmo para o bom
que para o mau, pois ninguém pode
evitar o fato de que no final vem o
juízo.
UM ENCORAJAMENTO
Hebreus 10:32-39
Houve um tempo em que os leitores
da Carta se acharam diante de obstáculos insuperáveis. Quando se tornaram
cristãos tinham conhecido a perseguição e o saque de seus bens; tinham
aprendido o que significava envolver-se com os que eram impopulares e ser
objeto de suspeitas. Tinham enfrentado a situação com coragem e honra. E agora,
quando estão em perigo de ser arrastados, o autor lembra sua lealdade anterior.
Uma das realidades da vida é que em certo sentido é mais fácil resistir à
adversidade que à prosperidade. O ócio e a comodidade arruinaram a muitos mais
homens que as dificuldades. O exemplo clássico disto é o que aconteceu com o
exército do Aníbal. Aníbal de Cartago foi um general que derrotou as legiões romanas:
foi o único que venceu os conquistadores. Mas os romanos que perdiam com frequência
uma batalha, raramente perdiam uma campanha. Chegou o inverno e as operações
deviam suspender-se. Aníbal hibernou com suas tropas na Cápua que tinha sido
capturada. Cápua era a cidade da brandura. E um inverno na Cápua obteve o que não
tinham obtido as legiões romanas; um inverno de brandura debilitou tanto o
moral das tropas cartaginesas que quando chegou a primavera e
se reatou a campanha foram
incapazes de resistir aos romanos. O ócio os arruinou enquanto a luta os
endurecia. Frequentemente isto é verdade na vida cristã. Com frequência um
homem pode enfrentar com honra a grande hora do testemunho e da prova; é a
rotina de cada dia a que debilita suas forças e altera sua fé. A apelação do
autor pode ser feita a todos os homens. Com efeito, diz: "Sede o que foram
no melhor de seus momentos". Se tão só pudéssemos ser sempre o que fomos
no melhor de nossos momentos, então nossa vida seria muito diferente. O
cristianismo não exige o impossível. Se fôssemos sempre tão retos, honestos,
amáveis, valentes e corteses como fomos em nossos melhores tempos, a vida seria
muito diferente. Cada um poderia ter o seguinte lema: "Nunca serei menos
que o melhor."
Para obter isto deve haver alguns
requisitos.
(1) Precisamos manter viva
nossa esperança. O atleta realiza um grande esforço porque tem à vista o
foco da meta. Submete-se à disciplina de todo treinamento pelo fim que tem em
vista. Se a vida consistisse só em fazer diariamente
as coisas rotineiras, bem poderíamos cair na
política de nos deixar arrastar pela corrente; mas se estamos a caminho ao céu e à coroa celestial, então a vida deve
viver-se sempre com toda intensidade e
esforço.
(2) Necessitamos
fortaleza. A perseverança é uma das grandes virtudes não românticas. A
maioria pode começar bem. Quase todos podem ser bons espasmodicamente. Cada um
tem seus dias bons e seus grandes momentos. A cada um foram-lhe concedidos
momentos para remontar-se com asas de águia. Nos momentos de muito esforço cada
um pode correr sem cansar-se. Mas o maior dom de todos é caminhar e não
desfalecer.
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