2. O CONVITE
A MATURIDADE ESPIRITUAL
(Hb 6:1-12)
Ninguém pode escapar de
vir ao mundo como um bebe, pois essa e a única maneira de chegar aqui! Mas e
triste quando um bebe não cresce. Por mais que os pais e avós gostem de segurar
e de afagar um recém-nascido, seu grande desejo é que a criança cresça e
desfrute uma vida plena como adulto maduro. Deus tem o mesmo desejo para seus
filhos. Por isso, ele nos chama a maturidade (ver Hb 6:1).
E um convite ao
progresso espiritual (v.v.1-3). A fim de fazermos progresso, devemos deixar as
coisas da infância para trás e avançar no crescimento espiritual. Hebreus 6:1 diz,
literalmente: "Por isso, deixando [de uma vez por todas] os princípios
elementares [o abecedário] da doutrina de Cristo". Quando eu
estava no jardim da infância, a professora nos ensinou o abecedário. (Naquele
tempo, não tínhamos a televisão para nos ensinar.) Aprendemos o alfabeto para
saber ler palavras, frases, livros ou qualquer outro tipo de material escrito,
mas não ficamos
apenas nisso; antes,
usamos os conceitos básicos a fim de avançar para coisas melhores. A expressão "deixemo-nos
levar" indica que e Deus
quem nos da a capacidade de progredir ao nos sujeitarmos a ele ou ao recebermos
sua Palavra colocando-a em pratica. Um bebe não cresce por forca de vontade. Ele
cresce a medida que se alimenta, dorme, exercita-se e deixa que seu corpo
funcione. Deus
determinou que, dia após dia, o bebe se desenvolva gradativamente ate a idade
adulta seguindo um ritmo natural, é normal os cristãos crescerem; não é anormal
ficarem estagnados.
O autor relaciona seis
elementos fundamentais da vida crista que, a propósito, também
são fundamentos da fé judaica. Afinal, a fé crista e baseada na fé judaica,
constituindo seu cumprimento. "A salvação vem dos judeus"
(Jo 4:22). Se os leitores desta epistola voltassem ao judaísmo a fim de evitar
perseguições, estariam abandonando o que e perfeito em troca do imperfeito, o
que e maduro em troca do imaturo.
Os dois primeiros itens (arrependimento e fé) são referentes a Deus e
indicam o inicio da vida espiritual. Arrepender-se significa mudar de ideia. Não
e apenas "um sentimento desagradável com respeito ao pecado", pois
isso seria remorso. Arrepender-se e mudar de ideia sobre o pecado de tal modo a
abandona-lo. Uma vez que o pecador se arrepende (uma decisão que, em si, e uma dádiva
de Deus, At 5:31; 11:18), pode, então, exercitar a fé em Deus. O arrependimento
e a fé andam juntos (At 20:21).
Os dois itens seguintes (batismo e imposição de mãos) são
referentes a relação de
uma pessoa com a congregação
local de cristãos. No
Novo Testamento, uma pessoa que se arrependia e cria em Jesus Cristo era
batizada e se tornava membro de uma igreja local (At 2:41-47). A palavra "batismos",
em Hebreus 6:2, pode ser traduzida por "abluções" (Hb 9:10).
Apesar de a água não ter qualquer poder de purificar o pecado (1 Pe 3:21), o
batismo simboliza a purificação espiritual ("Levanta-te, recebe o batismo
e lava os teus pecados, invocando o nome dele"; At 22:16) e nossa identificação
com Cristo em sua morte, sepultamento e ressurreição (Rm 6:1-4). A "imposição
de mãos" (Hb 6:2) simboliza o compartilhamento de uma benção (Lc
24:50; At 19:6) ou a consagração de uma pessoa para o ministério (1 Tm 4:14).
Os dois últimos itens,( a ressurreição
dos mortos) (At 24:14, 15) e o (julgamento final) (At 17:30, 31), referem-se
ao futuro. Tanto os judeus ortodoxos quanto os cristãos creem nessas doutrinas.
O Antigo Testamento ensina uma ressurreição geral, mas não esclarece esse
preceito. O Novo Testamento ensina uma ressurreição dos salvos e, também, uma
ressurreição dos perdidos (Jo 5:24-29; Ap
20:4-6, 12-15). A lição
desse parágrafo (Hb 6:1-3) e clara: "Vocês lançaram os alicerces e
aprenderam os princípios básicos. E hora de avançar! Deixem que Deus os
leve a maturidade!"
a) Esse progresso não afeta a salvação (vv.4-6).
Estes versículos, juntamente com a exortação de
Hebreus 10:26-39, são motivo de preocupação e de aflição para algumas pessoas,
principalmente porque são indevidamente interpretados e aplicados. Recebi interurbanos
de pessoas transtornadas que não entenderam essa passagem e se convenceram
(ou foram convencidas
por Satanás) de que haviam cometido algum pecado imperdoável e estavam
irremediavelmente perdidas.
Não quero dar falsa segurança
para qualquer um que se diga cristão, mas não
seja, verdadeiramente,
nascido de novo. No entanto, também não desejo fazer com que algum cristão
autentico tropece e perca o que Deus tem de melhor para lhe dar. Ao longo dos
anos, estudiosos da Bíblia tem apresentado varias abordagens a essa passagem séria.
Uma das ideias e que o autor adverte sobre o pecado da apostasia, ou seja, de
rejeitar Jesus Cristo deliberadamente e voltar para a antiga vida. De acordo com
os que aceitam essa abordagem, tal pessoa perde-se para sempre. Tenho vários problemas
com essa interpretação.
Em
primeiro lugar,
o termo grego apostasia não e usado nessa passagem. O verbo traduzido por
"caíram" (Hb 6:6) é parapipto, que significa, literalmente,
"cair
ao lado".
Em
segundo lugar,
sempre interpretamos o que é obscuro buscando o significado mais obvio. Muitos versículos
das Escrituras garantem
que o verdadeiro cristão
não pode perder a salvação. Na verdade, um dos argumentos mais sólidos em favor
de tal segurança e justamente a ultima seção deste capitulo (Hb 6:13-20; ver também
Jo 5:24; 10:26-30; Rm 8:28-39).
Os que ensinam que o cristão
pode perder a salvação também ensinam que tal
pessoa pode ser
restaurada. Mas essa passagem (Hb 6:4-6) ensina justamente o contrario! O texto diz
claramente: "é impossível outra vez renova-los para arrependimento".
Em outras palavras, se essa passagem refere-se
a apostasia, uma vez que
alguém rejeita a Cristo não pode ser restaurado a salvação. Perde-se para
sempre. Outros afirmam que os indivíduos referidos
nessa passagem não eram cristãos
autênticos. Haviam cooperado com o Espírito
Santo até certo ponto,
mas não eram, verdadeiramente, nascidos de novo. Convém
examinar a descrição
dessas pessoas e determinar se possuíam a verdadeira salvação.
O texto diz que "foram
iluminados" (Hb 6:4). "Uma vez" significa
"iluminados de uma vez por todas". A forma do verbo usada em
Hebreus 10:32 indica a experiência da verdadeira salvação (ver 2 Co 4:4-6). "Provaram
o dom celestial" (Hb 6:4b) e "provaram a boa palavra de Deus e os
poderes
do mundo vindouro [da era por
vir]" (Hb
6:5). Afirmar que essas pessoas "provaram, mas não comeram"
exige que baseemos a interpretação em um significado do termo "provar"
em nossa língua. Deus permitiu que seu Filho "provasse a
morte por todo homem" (Hb 2:9). Sem duvida, Jesus Cristo
não experimentou apenas uma pequena porção da cruz! "Provar"
da a ideia de
"experimentar
plenamente". Esses cristãos hebreus haviam experimentado o dom da salvação,
a Palavra de Deus e o poder de Deus. Acaso não se trata de uma descrição da salvação
autentica?
Eles "se
tornaram participantes do Espírito Santo" (Hb 6:4c). A fim de
sugerir que
eles colaboraram com o Espírito
Santo apenas até certo ponto, precisamos ignorar o significado simples do verbo
- "transformaram- se em participantes". Essas mesmas pessoas não eram
participantes apenas do Espírito Santo, mas também "da vocação celestial"
(Hb 3:1) e, ainda, "participantes de Cristo" (Hb
3:14). Diante dos fatos mencionados acima, concluo que os indivíduos
mencionados nessa passagem eram cristãos autênticos, não apenas da boca para
fora. Além disso,
de que maneira pessoas incrédulas
poderiam desonrar e envergonhar Jesus Cristo?
De acordo com outra abordagem, esse pecado
(seja ele o que for) poderia ser cometido somente por cristãos hebreus do
primeiro século, enquanto ainda existiam os cultos no templo. Se esse é o caso,
então por que o autor associa sua exortação ao sacerdócio celestial de nosso
Senhor e a importância
da maturidade
espiritual? Se aquilo sobre o que ele estava escrevendo não
pode acontecer hoje, o
que o levou a fazer tal exortação? Se limitarmos esses versículos aos cristãos
judeus do primeiro século, a passagem me parece desnecessária. Então,
o que o autor esta tentando nos dizer? E provável que esteja descrevendo um
caso hipotético para provar que um verdadeiro
cristão não pode perder a salvação. Sua declaração
em Hebreus 6:9 parece corroborar essa interpretação: "Muito embora eu esteja
falando assim, na realidade não creio que se aplique a vocês o que eu estou dizendo"
(Bíblia Viva). Sua argumentação segue esta linha: "Suponhamos que vocês não se
deixem levar a maturidade. Isso significa que voltarão a condenação, que perderão
a salvação?
Impossível! Se
pudessem perder a salvação, não teriam como recupera-la, e isso
envergonharia Jesus
Cristo. Ele teria de ser crucificado novamente por vocês, o que
jamais poderia
ocorrer." Em Hebreus 6:4, o autor muda o uso dos
pronomes da primeira pessoa do
plural ("nos") para a terceira pessoal do plural ("eles").
Essa mudança também sugere que se trata de uma hipótese.
No entanto, existe ainda
outra interpretação possível que não requer um caso hipotético. Devemos
observar que, no grego, os verbos "crucificando" e
"expondo", em Hebreus 6:6, encontram-se no gerúndio: "estão crucificando
[...] e estão expondo-o". O autor não diz que essas pessoas jamais seriam
levadas ao arrependimento. Diz que não poderiam ser levadas ao
arrependimento enquanto estivessem tratando Jesus Cristo de maneira tão
vergonhosa. Uma vez que pararem de desonrar Cristo desse
modo,
poderão ser levadas ao arrependimento e
restaurar sua comunhão
com Deus. Qualquer que seja a abordagem escolhida,
devemos ter em mente que o objetivo
do autor não era assustar os leitores, mas sim os tranquilizar. Se
desejasse assusta-los, teria especificado o pecado (ou pecados) que os levaria
a desonrar Jesus Cristo; no entanto, não e isso o que ele faz. Na verdade,
evita o verbo apostatar e usa, em seu lugar, "caíram" (ver Gl 6:1,
"surpreendido alguma falta"). Os cristãos podem cometer o
"pecado
para a morte" (1 Co
11:30-32; 1 Jo 5:16, 1 7). Essa é a disciplina de Deus, um tema do qual o autor
de Hebreus trata em Hebreus 12.
b ) Esse progresso resulta na produção
abundante de frutos (vv. 7-10).
Essa ilustração de um
campo lembra a parábola do semeador que Jesus contou (Mt 13:1-9, 1823), bem
como o ensinamento de Paulo sobre como as obras serão testadas pelo fogo (1 Co
3:6-23). Um campo prova seu valor dando frutos; e, ao realizar progresso
espiritual, o verdadeiro cristão produz frutos para a gloria de Deus. E
importante observar que os "espinhos e abrolhos" são
queimados,
mas não o campo. Deus
nunca amaldiçoa seus filhos! A colheita das bênçãos de Deus retratada em
Hebreus 6:7 e chamada de "coisas que são melhores e pertencentes
a salvação" em Hebreus 6:9. Nem todo cristão produz a mesma
quantidade de frutos ("este frutifica e produz a cem, a sessenta e a
trinta por
um", Mt 13:23), mas
todo cristão da algum tipo de fruto como prova de que e filho de Deus (Mt 7:1
5-20). São os frutos da conduta e do caráter cristãos (Gl 5:22-26) produzidos pelo
Espírito, a medida que amadurecemos em Cristo. O autor relaciona alguns frutos
que sabia terem sido produzidos na vida de seus leitores (Hb 6:10): por causa
de seu amor, haviam se esforçado e trabalhado para o
Senhor; haviam
ministrado e continuavam ministrando a outros santos (ver 1 Ts 1:3-10; Ap 2:2).
Essas são algumas das "coisas [...] pertencentes a salvação".
No entanto, a preocupação
do autor era que os cristãos hebreus descansassem em
suas realizações e
deixassem de avançar para a maturidade
plena e para a capacidade de desfrutar a rica herança de Deus.
c) Esse progresso exige esforço diligente
(vv. 11,12) .
Apesar de ser verdade
que e Deus quem nos leva a maturidade (ver Hb 6:1, 3), também e verdade que o cristão
deve fazer sua parte. Ninguém deve ser preguiçoso ("tardios" em Hb
5:11), mas sim dedicar- se aos recursos espirituais que Deus concedeu. Uma vez
que temos as promessas de Deus, devemos exercitar a fé e a paciência e nos
apropriar do que possuímos! Como Calebe e Josué, devemos crer nas promessas de
Deus, ansiar por entrar na terra e tomar posse dela! A ilustração da lavoura
(Hb 6:7, 8) e a admoestação a diligencia sempre me fazem lembrar da advertência
dada por Salomão (Pv 24:30-34). E preciso lê-la e
lhe atender!
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