A
SALVAÇÃO QUE NÃO SE DEVE NEGLIGENCIAR
Hebreus
2:1-4
O autor argumenta
aqui em forma progressiva do menor ao maior.
Tem em sua mente duas
revelações. Uma foi a da Lei que veio por
meio
dos anjos, quer dizer, os dez mandamentos.
Qualquer infração desta Lei
ou desobediência era
seguida por um castigo estrito e justo. A outra
revelação era a que
veio através de Jesus Cristo, o Filho.
Esta é
infinitamente maior
que a revelação da verdade divina trazida pelos
anjos; portanto toda
transgressão ou negação da mesma deve ser seguida
necessariamente de um
castigo maior e mais terrível. Se não se pode
ignorar a revelação
que veio pelos anjos muito
menos pode-se
negligenciar a que
veio por meio do Filho.
É bem possível que no primeiro
versículo nos faça uma descrição
mais gráfica que a que reproduz a
tradução. As duas palavras chaves são
prosequein e pararrein. Na presente Versão prosequein se traduziu
por
atender; este és um de
seus significados mais comuns. Pararrein
tem
vários significados. Aplica-se a
algo que se desliza ou escorre, por
exemplo, a um anel que deslizou
do dedo, a uma partícula de alimento
que ao ser ingerida se desviou
por uma via equivocada, a um tema que se
introduziu sub-repticiamente na
conversação, a algum fato que escapou
da mente, a algo que simplesmente
decaiu ou se perdeu. Habitualmente
se usa para algo que descuidada
ou inconscientemente se deixou escapar
ou perder. Neste sentido
interpretamos as duas palavras.
Mas, além disso, ambas têm um
significado náutico.
Prosequein pode significar amarrar um barco, e pararrein pode indicar
que uma
nave se afasta do porto à deriva porque os marinheiros negligenciaram
as precauções adaptadas para rebater os efeitos do vento, da corrente ou da
maré.Assim, pois, o primeiro versículo poderia traduzir-se:
"Portanto, devemos tentar
com esforço ancorar nossas vidas nas coisas que nos foram ensinadas para que a
nave de nossa vida não vá à deriva, afaste-sedo porto e naufrague."
Há aqui uma imagem muito vívida —
a de um barco que corre em
direção do desastre porque o
piloto dorme enquanto as nefastas correntes
o arrastam longe do porto a um
naufrágio seguro. Para a maioria de nós a
ameaça da vida não consiste tanto
em que afundemos num desastre mas
em sermos arrastados ao pecado. São poucos os que deliberadamente e
de
improviso dão as costas a Deus, mas
são muitos os que diariamente se
afastam cada vez mais dEle. Não são
muitos os que num momento
determinado cometem algum pecado
tremendo, mas são muitos os que
passo a passo e quase
insensivelmente se envolvem em alguma situação
e despertam de repente para se
darem conta que arruinaram sua vida e
destroçaram o coração de alguém.
Faríamos bem em estar continuamente
alerta contra o risco de deixar
que nossas vidas partam à deriva.
O autor da Carta caracteriza os
pecados penados pela Lei em dois
grupos: chama-os transgressão e desobediência. Ao primeiro termo
corresponde parabasis que literalmente significa transpassar uma linha.
Há uma linha traçada tanto pelo
conhecimento como pela consciência,
transpassar a qual constitui o
pecado. Ao segundo termo corresponde
parakoe. O termo é
interessante. Começa significando uma
audição
imperfeita como por exemplo
a de algum surdo; logo aplica-se também à
audição descuidada, quer dizer, a
que por negligência ou falta de
atenção interpreta mal ou deixa
de ouvir o que se disse; e termina
significando falta de vontade
para ouvir e portanto desobediência
à voz
de Deus. Consiste em fechar
deliberadamente os ouvidos aos
mandamentos, advertências,
conselhos e convites de Deus.
Como escaparemos nós? V.3.
Um antigo pregador galês disse
que esta é uma que nunca poderá ser
respondida.
O homem mais sábio da terra não
consegue respondê-la.
Os demônios do inferno não
conseguem respondê-la.
Os anjos de glória não conseguem
respondê-la.
O próprio Deus não consegue
respondê-la.
Porque não existe escape das
consequências da negligencia.
Ex. Sl. 139.7-10
Tão Grande Salvação
Para este pregador, era o escape
da condição mortal deste mundo que esta passando e a possessão do mundo
celestial que virá e é eterna.
Descuidarmos “Maldito aquele que
fizer a obra do Senhor negligentemente”. Jr.48.10.
O
autor da carta termina seu parágrafo estabelecendo quatro formas
em
que a revelação cristã é única e qualitativamente superior a dos anjos.
(1) É única em sua origem. Provém diretamente das
palavras do
próprio Jesus; foi enunciada
primeiro pelo Senhor. Isto significa que não
consiste em especulações ou
conjeturas a respeito de Deus. É a voz do
próprio Deus que vem a nós em
Jesus Cristo.
(2) É única em sua transmissão. Chegou às pessoas a
quem o autor
de Hebreus escreve, por meio
daqueles que a tinham ouvido diretamente
de lábios de Jesus. Sempre será
verdade que a única forma de transmitir
Cristo aos outros será
conhecendo-o "em primeira mão". Nunca
poderemos ensinar o que não
sabemos e só podemos transmitir Cristo a
outros quando o conhecemos por
nós mesmos.
(3) É único em sua efetividade. Esta derivou em
sinais, maravilhas e
múltiplos atos de poder.
Em certa ocasião alguém felicitou
a Thomas Chalmers depois de
um de seus grandes sermões.
"Sim", repôs, "mas que resultados obtive?"
Como estava acostumado a dizer
Denney, o objeto último do
cristianismo é transformar homens
maus em bons; e a prova da realidade
do mesmo continua sendo sua capacidade de
transformar as vidas dos homens. Os milagres morais da fé cristã são ainda
claramente visíveis para todos.
(4) Esta é uma palavra escatológica. Porque
não foi aos anjos que Deus sujeitou o mundo vindouro.
Salvação para este pregador, seria consumada no
mundo vindouro. Ele estava dizendo que, os que abrem mão da realidade final que
está em Cristo, não tem esperança de salvação final.
O ponto de vista cristão acerca da salvação tem,
muitas vezes, sido empobrecido por aqueles que se detêm exclusivamente em uma
fase da salvação, como se isso fosse tudo que Deus tinha em mente para nós.
Alguns se detêm apenas na iniciação da salvação na primeira
confissão de fé. Outros se detêm apenas no aspecto educacional ou
desenvolvimento da nutrição em Cristo. Ainda outros se detêm exclusivamente no eschaton.
Não nos compete reduzir toda a libertação de Deus a
fase que apela mais para os nossos sentimentos.
Este escritor descreve a natureza do completa
salvação e coloca-a muito acima de qualquer coisa que mesmo os anjos possam
propiciar.
O fim da salvação,
contudo, é a preocupação primordial deste pregador primitivo.
Fonte: Comentário Bíblico William Barclay
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