sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Tema:

Jesus superior aos anjos (Hb.1.4-14)

ACIMA DOS ANJOS

Hebreus 1:4-14

Na passagem anterior o autor da Carta se preocupou de demonstrar a superioridade de Jesus sobre todos os profetas anteriores. Agora empreende a tarefa de demonstrar sua superioridade sobre os anjos. O fato de que cria importante fazer isto, mostra o lugar que a crença nos anjos ocupava no pensamento judeu da época, crença que na época aumentava. Isso se devia à impressão que causava nos homens o que se chama a transcendência divina. Cada vez se sentia com mais intensidade a distância e a diferença entre Deus e os homens. Sentiam que Deus se afastava cada vez mais, fazendo-se cada vez mais incognoscível e inacessível. O resultado era que tinham chegado a pensar nos anjos como intermediários entre Deus e o homem. Tinham começado a sentir que Deus estava tão afastado que não podia falar diretamente com o homem e vice-versa; e assim tinham começado a pensar nos anjos como pontes entre Deus e os homens: por eles Deus falava e eles eram os que, entre outras coisas, levavam as orações dos homens à presença de Deus. Há um caso particular que ilustra muito especialmente este processo. No Antigo Testamento a Lei foi entregue diretamente por Deus a Moisés; não houve necessidade de intermediários. Mas na época do Novo Testamento os judeus criam que Deus tinha entregue a Lei aos anjos e estes por sua vez a Moisés, porque já não era plausível uma comunicação direta entre Deus e os homens (Atos 7:53; Gálatas 3:19).

Examinemos algumas das crenças básicas dos judeus e assim nos daremos conta de como reaparecem nesta passagem. Deus era concebido rodeado de hostes angélicas (Isaías 6; 1 Reis 22:19) denominadas às vezes o exército de Deus (Josué 5:14 ss.). Os termos correspondentes a anjos são — respectivamente em grego e em hebreu — aggeloi e mal'a Kim; em ambos os idiomas significam tanto mensageiros como anjos. De fato, mensageiro é seu sentido geral e comum. Os anjos são os instrumentos de Deus para trazer ao mundo sua palavra e a operação de sua vontade ao universo dos homens. São intermediários e mediadores entre Deus e os homens. Eram concebidos como espíritos de uma substância ígnea e etérea, algo assim como uma luz resplandecente. Tinham sido criados no segundo ou no quinto dia da criação; não bebiam nem comiam nem engendravam filhos. Às vezes eram considerados imortais embora podiam ser aniquilados por Deus, mas, como veremos, havia outra crença sobre sua existência. Alguns deles, os querubins, os serafins e os ofanins (querubin, serafin, ofanin — in é a terminação plural hebraica dos nomes) rodeavam sempre o trono de Deus. Cria-se que desfrutavam de um conhecimento superior aos homens, acima de tudo com relação ao futuro. Mas não possuíam esse conhecimento por direito próprio, mas sim "pelo que tinham ouvido atrás da cortina"; era como se tivessem bisbilhotado nos propósitos e planos divinos. Eram considerados como o séquito ou a família de Deus; além disso lhe serviam de conselho ou senado. Antes de fazer algo Deus os consultava; por exemplo quando disse "Façamos o homem" (Gênesis 1:26). Às vezes os anjos dissentiam com Deus e objetavam seus planos.

Opuseram-se particularmente à criação do homem, e nesse então muitos foram aniquilados. Também se opuseram à entrega da Lei,, e tinham atacado a Moisés quando subia ao Sinai. Isto foi porque eram ciumentos e não queriam compartilhar sua posição ou suas prerrogativas com nenhuma outra criatura.

Havia milhões e milhões de anjos. Só muito depois os judeus lhes deram nomes. No princípio eram seres anônimos. Os anjos da presença (os arcanjos) eram sete e tinham nomes. Entre os mais importantes menciona-se Rafael, Uriel, Fanuel, Gabriel (aquele que transmitia as mensagens de Deus aos homens) e Miguel (que regia os destinos de Israel). A função dos anjos era variada: além de trazer mensagens divinas aos homens para entregá-las e desaparecer imediatamente (Juízes 13:26) intervinham em nome de Deus nos acontecimentos da história (2 Reis 19:35-36). Duzentos anjos controlavam o movimento das estrelas e as mantinham em seus cursos. Um anjo controlava a interminável sucessão dos anos, dos meses e dos dias; outro, como príncipe poderoso, controlava o mar. Havia anjos da geada, do orvalho, da chuva, da neve, do granizo, do trovão e do raio. Havia anjos guardiães do inferno e torturantes dos condenados. Os anjos escribas registravam num livro cada palavra proferida pelo mortal. Havia os destruidores e punidores. Figurava Satanás, o anjo fiscal que durante 364 dias — à exceção do dia da expiação ou do perdão — contínua e assiduamente apresentava perante Deus acusações contra os homens. O anjo da morte cumpria só por ordem de Deus um dever inexorável para com justos e pecadores. Cada nação tinha à sua frente um anjo guardião que possuía a prostasiaquer dizer, o lugar de preeminência. Cada pessoa tinha seu anjo guardião, até os meninos (Mateus 18:10). Abundavam tanto os anjos que os rabinos estavam acostumados a dizer: "Cada folha de erva tem seu anjo."

Nesta passagem se alude indiretamente a uma crença particular mantida por um grupo reduzido. Usualmente se estava de acordo em que os anjos eram imortais; mas alguns pensavam que viviam só um dia. Em certas escolas rabínicas ensinava-se que "Deus cada dia cria uma nova companhia de anjos que lhe entoam uma canção para logo desaparecer". "Os anjos são renovados cada manhã e logo após adorar a Deus retornam ao rio de fogo de onde provêm." 4 Esdras 8.21 fala do Deus "perante quem a hoste celestial permanece aterrorizada e a cuja palavra se transforma em vento e fogo". Uma homilia rabínica põe na boca de um anjo as seguintes palavras: "Deus nos transforma cada hora... às vezes em fogo, outras em vento." Isto é o que o autor de Hebreus quer expressar quando diz que Deus “a seus anjos faz ventos, e a seus ministros, labareda de fogo” (1:7).

Com uma angelologia tão desenvolvida existia o perigo real de que na crença popular se fizesse intervir os anjos entre Deus e os homens. Nestas circunstâncias era necessário demonstrar que o Filho era muito superior a eles e que quem conhecia o Filho não necessitava nenhum anjo mediador. O autor da Carta obtém seu propósito selecionando uma série de textos para ele probatórios, nos quais se atribui ao Filho um lugar superior ao que jamais foi dado a anjo algum. Os textos citados são: Salmo 2:7; 2 Samuel 7:14; Salmo 97:7; Deuteronômio 32:43; Salmo 104:4; Salmo 45:7-8; Salmo 102:26-27; Salmo 110:1. Alguns dos textos diferem da versão que aparece em nossas Bíblias porque o autor estava citando da Septuaginta, a versão grega do Antigo Testamento, que nem sempre concorda com o original hebraico do qual provêm nossas traduções modernas.

Alguns destes textos probatórios nos resultam estranhos. Assim, por exemplo, 2 Samuel 7:14 originariamente é uma referência simples e direta a Salomão e nada tem a ver com o Filho ou o Messias. O Salmo 102:26-27 refere-se a Deus e não ao Filho. Mas quando os cristãos primitivos encontravam um texto com a palavra Filho ou Senhor consideravam justificado tirá-lo de seu contexto para aplicá-lo a Jesus. Apesar do que opinemos deste método, o certo é que lhes resultava convincente.

A doutrina dos anjos era uma bela construção mas não carecia de perigos. O autor da carta quer a todo custo evitar o perigo de colocar uma série de seres entre o homem e Deus; uma série de seres que não são Jesus e através dos quais os homens pretendam aproximar-se a Deus. Isto se vê claramente na crença judia de que os anjos traziam mensagens de Deus aos homens e levavam a Deus as orações destes. O cristianismo não tem necessidade de nenhum outro intermediário. Por causa de Jesus e de sua obra o acesso a Deus é direto.

O autor de Hebreus compreendeu a grande verdade que enuncia e que nós devemos lembrar sempre: que não necessitamos de ninguém, nem sequer de algum ser sobrenatural que nos leve a presença de Deus. Jesus Cristo derrubou toda barreira e nos abriu o caminho direto a Deus.


Fonte: Comentário Bíblico William Barclay

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