ENQUANTO AINDA
DURA O HOJE
Hebreus 3:7-19
Até aqui o autor de Hebreus
esteve tentando provar a supremacia
única de Jesus, e agora muda a
argumentação pela exortação. Trata de
convencer os seus leitores da
consequência inevitável dessa supremacia
única. Se Jesus tiver tão suprema
e única grandeza, então
consequentemente deve ser objeto
de uma confiança total e de uma
obediência plena. Se endurecerem
seus corações e recusam escutar sua
voz e lhe obedecer
confiantemente, as conseqüências serão terríveis.
É muito difícil para nós
compreender o modo como o autor de
Hebreus arma sua argumentação por
meio de uma dupla alusão. Começa
com uma citação do Salmo 95:7-11.
O salmo exorta aos que o escutam a
prestar ouvidos à voz de Deus
para não assemelhar-se aos filhos de Israel
"como na provocação e no dia da tentação".
Agora, estas dois
expressões — provocação e dia
da tentação — são tradução de duas
palavras hebréias que expressam nomes de lugares: Massá e
Meribá. O
texto refere-se à história
narrada em Êxodo 17:1-7 e Números 20:1-13.
Ambas as passagens relatam um
broto de rebelião durante a peregrinação
do povo de Israel. Encontravam-se
sedentos no deserto e protestaram
perante Moisés, lamentando ter
abandonado o país do Egito. Tinham
perdido toda a confiança em Deus.
Na versão de Números Deus ordena
que Moisés fale com a rocha para
que dela surja água. Mas Moisés em
sua irritação não falou, antes bateu na rocha. A água
brotou igualmente,
mas por causa deste ato de
desconfiança e desobediência Deus declarou
que Moisés jamais introduziria o
povo na terra prometida. O ato de
desconfiança e desobediência
fechou a entrada à terra da promessa.
"Certamente não
entrarão em meu descanso" significa "Certamente não
entrarão na terra prometida." Para os nômades e vagabundos do
deserto a
terra prometida era o lugar do
descanso, e freqüentemente a chamavam o
repouso (Deuteronômio
12:9). Aqui se sublinha que a desobediência e
desconfiança de Israel os
impediram de desfrutar das bênçãos de Deus.
O autor de Hebreus diz a seu
povo: "Guardem-se de mostrar a
mesma desobediência e
desconfiança para com Deus que mostraram seus
pais, para que não percam as
bênçãos reservadas a vocês assim como
eles as perderam." Efetivamente lhes diz: "Enquanto haja ainda tempo,
enquanto ainda possam falar do 'hoje', tributem a Deus a confiança a
obediência devida." É obvio que para todos o
significado da palavra
"hoje" tem o
alcance de "enquanto dure a
vida". O escritor diz portanto:
"Enquanto têm
oportunidade, tributem a Deus a confiança e a submissão
que lhe é devida antes que
conclua seu dia e seu 'hoje' passe
definitivamente."
Aqui encontramos algumas importantes
advertências:
(1) Deus faz um
oferecimento. Assim como ofereceu aos israelitas
as bênçãos da terra prometida
assim também oferece todos os homens as
bênçãos de uma vida muito
superior à que podem viver sem Deus.
(2) Mas para obter
as bênçãos de Deus se requerem duas coisas.
(a) Confiança. Devemos crer que o
que Deus diz e oferece é
verdade; que Deus pode e quer
fazê-lo. Devemos estar dispostos a
arriscar nossas vidas por esta
fé.
(b) Obediência. É como se um médico
nos dissesse: "Posso curar
você se obedecer sem reservas as
minhas instruções." É
justamente o que
diria um mestre: "Posso transformar você em sábio
contanto que siga
meus ensinos com fidelidade
absoluta." É o que um treinador
diz ao
atleta: "Posso fazer de você um campeão se não se apartar nunca das
leis
disciplinadoras que estabeleço." Em todos os campos da vida o
êxito
depende da obediência à palavra
do perito. Deus, por assim dizê-lo, é o
perito na vida; a verdadeira
felicidade depende de que lhe obedeçamos.
(3) Há um limite
para o oferecimento de Deus. Esse limite é o da
própria vida. Agora, nunca sabemos
quando chegará este termo. Falamos
facilmente sobre o "amanhã" que talvez nunca vejamos. Tudo o que
possuímos é o hoje: este momento
de tempo. Alguém disse:
"Deveríamos viver
cada dia como se fosse toda uma vida."
O
oferecimento de Deus deve ser
aceito hoje; a confiança e a obediência
devem manifestar-se hoje porque
nunca estamos seguros do manhã. Aqui temos, pois, o oferecimento supremo
de Deus, mas é um
oferecimento que só se faz à
confiança perfeita e à obediência plena; um
oferecimento que deve ser aceito agora, antes que
seja impossível aceitá-lo.
Fonte: Comentário Bíblico William Barclay
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