O
CAMINHO À REALIDADE
Hebreus
8:1-6 "
"É um sacerdote; assim é precisamente
aquele que temos em Jesus Cristo." Só
Jesus cumpre as condições do
sacerdote perfeito. E adiciona duas coisas
sobre Jesus.
(1) Jesus se sentou à mão direita
do trono da majestade de Deus nos
céus. Esta é a prova final de sua
glória. Não pode haver maior glória que
a de Jesus em sua ascensão e
exaltação. Sua glória é nada menos que a
glória da majestade de Deus.
(2) Diz que Jesus é ministro do
santuário. Esta é a prova de seu
serviço. Jesus é único
tanto em majestade como em serviço. Jamais
olhou a majestade como algo que
devia desfrutar-se com egoísmo ou que
se lhe tivesse conferido por
razão de si mesmo.
Marco Aurélio foi um dos imperadores realmente grandes de Roma.
Como administrador foi
insuperável. Morreu aos cinqüenta e nove anos
tendo trabalhado até a morte a
serviço de seu povo. Foi um dos santos
estóicos. Como narra seu biógrafo
Capitolino, quando soube que o
tinham eleito para suceder o
imperador a seu devido tempo, ele se
encheu de assombro em vez de
alegria. Quando lhe foi dito que se
mudasse à casa particular do
imperador Adriano, ele abandonou com
relutância a mansão de sua mãe. E
quando os membros de sua casa lhe
perguntaram por que o entristecia
receber a adoção real, enumerou uma
por una as fadigas que a
soberania acarretava. Marco Aurélio
considerava o reinado em termos
de serviço e não de majestade.
O lema do príncipe do Gales era:
"Eu sirvo."
Jesus é o exemplo único de majestade e serviço divinos
combinados. Sabia que lhe tinha
sido concedido uma posição suprema
não para retê-la zelosamente num
esplêndido isolamento, senão para
capacitar a outros a alcançá-la e
compartilhá-la. Tinha recebido a glória
para que outros pudessem entrar
nela. NEle encontram-se a majestade e
o serviço supremos.
E agora entra na descrição um pensamento que nunca esteve longe
da mente do autor de Hebreus.
Lembremos o que este pensava da
religião. A religião era o acesso
a Deus; era comunhão com Deus; era o
direito de entrar em sua
presença. Por isso a função suprema de todo
sacerdote é a de abrir aos homens
o caminho a Deus. O sacerdote
remove as barreiras entre Deus e
os homens e constrói a ponte pela qual
a pessoa pode passar para
comparecer perante a presença divina.
Mas podemos expressar isto de outra maneira. Em vez de falar do
acesso a Deus digamos acesso
à realidade. Lembremos que todo escritor
religioso tem que buscar termos
acessíveis ao povo ao qual se dirige e
apresentar sua mensagem numa
linguagem e concepção familiares ao
leitor para que ao menos toque
uma corda de seu coração.
Agora, os gregos tinham sempre em
suas mentes um pensamento
básico com relação ao universo.
Concebiam a este em termos de dois
mundos: o mundo real e o irreal.
Criam que em alguma parte existia um
mundo de realidade; mas que este
mundo do espaço e do tempo era só
um mundo de sombras, de cópias
pálidas e de reflexos irreais do mundo
real. Esta era a doutrina básica
de Platão, o maior de todos os pensadores
gregos. Cria no que chamava formas.
Em alguma parte existia um
mundo onde se encontravam os
perfeitos padrões, os perfeitos arquétipos
e as formas perfeitas dos quais
tudo o que há neste mundo é cópia
imperfeita e reflexo defeituoso.
Algumas vezes estas formas se chamam
idéias. Em alguma
parte existe a idéia da cadeira da qual as cadeiras
atuais são cópias imperfeitas; em
alguma parte existe a idéia de um
cavalo da qual todos os cavalos
atuais são reflexos inadequados. Os
gregos estavam fascinados com
esta concepção de um mundo real do
qual este mundo só é uma cópia
aproximada, provisória e imperfeita.
Neste mundo caminhamos nas sombras; em alguma parte existe a
realidade. E o grande problema na
vida é como passar deste mundo de
sombras ao mundo das realidades.
O autor de Hebreus faz uso desta idéia. O templo terrestre é uma
pálida cópia do verdadeiro templo
de Deus; o culto terrestre é um reflexo
remoto da verdadeira adoração; o
sacerdote terrestre é uma sombra
inadequada do verdadeiro
sacerdócio que pode efetivamente levar aos
homens a Deus. Todas estas coisas
indicam uma realidade mais além de
si mesmos e da qual são sombras.
O autor até encontra esta idéia no próprio Antigo Testamento.
Quando Moisés havia recebido de
Deus as instruções sobre a construção
do tabernáculo e de todos seus
implementos Deus lhe disse: “Vê, pois,
que tudo faças segundo o modelo
que te foi mostrado no monte.” (Êxodo
25:40). Deus tinha mostrado a
Moisés o modelo real e eterno do qual
todo culto terreno é cópia e
sombra. Assim, pois, o autor diz que os
sacerdotes terrenos têm um
serviço que é figura e sombra da ordem
celestial. Para figura e
sombra se combinam dois termos gregos:
jupodeigma que significa espécime
ou, melhor ainda, esboço; e skia que
significa sombra, reflexo,
fantasma, silhueta. O sacerdócio terreno é
irreal e não pode conduzir os
homens à realidade. Mas Jesus pode
conduzi-los à realidade. Seu
sacerdócio verdadeiro é o único que pode
tirar os homens deste mundo de
sombras para levá-los ao mundo
invisível e real. Podemos dizer
que Jesus nos conduz à presença de Deus
e à realidade; trata-se sempre da
mesma coisa. Quando o autor falava de
realidade estava usando
uma linguagem que seus contemporâneos
usavam e entendiam.
No máximo que este mundo pode oferecer há alguma imperfeição;
nunca chega a ser totalmente o
que sabemos que deveria ser; no amor
maior da Terra há ainda alguma
imperfeição; no conhecimento mais alto
da Terra há ainda ignorância; na
maior realização humana há ainda
persistentemente algum elemento
de imperfeição. Nada do que alguma
vez façamos, experimentemos ou
obtenhamos aqui alcança inteiramente
o ideal que perseguimos. O mundo
real está mais além. Como dizia
Browning: "O alcance de um
homem deveria exceder seu logro ou, para
que existe então o céu?"
Quer se chame de céu, realidade, idéia ou forma
ou Deus, tudo significa o mesmo;
a realidade está mais além.
Segundo a posição do autor de
Hebreus, só Jesus pode nos conduzir
a essa realidade desejada; só Ele
pode nos arrancar de uma situação atual
frustrante para nos levar à
realidade que dá plena satisfação. Por isso o
autor dá a Jesus um título
importante; chama-o mediador, mesites. Este
substantivo provém de mesos que
neste caso significa no meio; um
mesites é alguém que
está no meio de dois homens para uni-los.
Quando Jó desejava
desesperadamente ser de algum modo capaz de
levar seu caso a Deus exclama sem
esperança: “Não há entre nós árbitro
que ponha a mão sobre nós ambos.”
(Jó 9:33). Paulo chama Moisés o
mesites (Gálatas 3:19)
porque interveio para trazer a Lei de Deus aos
homens.
Na Atenas dos tempos clássicos existia uma corporação de
cidadãos, todos sexagenários, que
podiam ser chamados para agir como
mediadores quando surgia alguma
disputa entre dois cidadãos. Tinham
como primeiro dever obter a
reconciliação. Em Roma existiam os
árbitros: o juiz
resolvia questões legais, mas os árbitros o que era
matéria de eqüidade; seu dever
era pôr fim às disputas.
Ademais, no grego legal um mesites
era um fiador. Saía de fiador
do amigo que estava sendo julgado
e garantia uma dívida ou um crédito.
O mesites era um homem que
voluntariamente pagava a dívida de seu
amigo para pôr assim as coisas em
ordem; aquele que intervém entre
duas partes para levá-las à
reconciliação.
Jesus é nosso perfeito mesites:
está entre a irrealidade deste mundo
e a realidade do mundo
verdadeiro; entre nós e Deus; abre o caminho à
realidade e a Deus. É a única
pessoa que pode levar a cabo esta união e
reconciliação entre o homem e
Deus, entre o real e o irreal. Isto equivale
a dizer que Jesus é efetivamente
a única pessoa que pode nos dar vida
verdadeira.
Numa novela um personagem diz a
outro: "Jamais soube o que era a
vida até que o vi em seus
olhos." Não há ninguém em nosso universo
exceto Cristo que possa nos
introduzir na vida verdadeira, introduzindo-nos
na realidade e em Deus.
Fonte: Comentário Biblico, WilliaBarclay, do N.T.
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