A
excelência do Evangelho
Paulo começa
aqui um longo discurso sobre a justificação, em que apresenta sua tese, e, para
prova-la, descreve a condição deplorável do mundo gentílico. A sua transição é
muito elegante, e como um orador, ele estava pronto para pregar o evangelho em
Roma, embora fosse um lugar onde o evangelho era perseguido por aqueles que se
achavam sábios: Porque, diz ele, “não me envergonho do evangelho de Cristo
(v.16)”. Há muito no evangelho de que um homem como Paulo poderia ser tentado a
se envergonhar, especialmente o evangelho de um homem pendurado em uma cruz,
sua doutrina clara, que tinha pouca coisa nela para se destacar entre os
eruditos, os seus fiéis pobres e menosprezados, e em toda a parte caluniados;
contudo, Paulo não estava envergonhado de expô-lo. Na verdade, considera
cristão aquele que não se envergonha do evangelho nem é uma vergonha para ele.
A razão
dessa confissão corajosa, tomada da natureza e excelência do evangelho,
introduz sua dissertação.
I.
A
Proposição (vv.16,17). A excelência do evangelho repousa nisso, que ele nos
revela:
1º A salvação dos crentes como o fim:
“é o Poder de Deus para nossa salvação”
Paulo não esta envergonhado do evangelho, por mais insignificante e desprezível
que ele possa parecer a um olhar carnal, porque o poder de Deus opera por meio
dele a salvação de todo aquele que crer. Ele nos mostra “... o
caminho da salvação...” (At.16.17), e é a grande carta magna pelo qual
a salvação é transferida e transmitida a nós.
Mas:
a. É pelo poder de Deus;
Sem esse poder o evangelho é apenas uma letra morta; revelação do
evangelho é a revelação do “... braço do senhor...” (Is.53.1), assim
como o poder de acompanhava a palavra de
Cristo para curar doenças.
b. É para aquele, e somente aqueles que
creem.
Crer desperta nosso interesse no evangelho da salvação; para os outros
esta oculto. O medicamento não curará o paciente se não for tomado.
Para o judeu
primeiro: “As ovelhas perdidas da casa de Israel” tiveram a primeira
oferta, tanto da parte de Cristo como de seus apóstolos.
“Primeiro a vós”(At.3.26), mas em
sua recusa os apóstolos se voltaram para os gentios (At.13.46). Judeus e
gentios estão agora no mesmo nível, ambos igualmente miseráveis sem um
Salvador, e ambos acolhidos pelo Salvador (Cl.3.11). Uma doutrina como esta era
surpreendente para judeus, que tinham até agora sido o povo especial, e tinham
olhado com desprezo para o mundo gentílico; mas o messias há muito esperado
aparece como “uma luz para iluminar os gentios”, bem como “a
glória de seu povo Israel”.
2º
A justificação dos crentes como caminho (v.17).
“Porque
nele”, quer dizer, neste evangelho, no qual Paulo tanto exulta, “...se
descobre a justiça de Deus...”. Nossa miséria e ruína são o produto e
consequência de nossa iniquidade, portanto, aquele que nos mostrará o caminho
da salvação deve necessariamente nos mostrar o caminho da justificação, e isso
o evangelho faz. O Evangelho torna conhecido uma justiça. Enquanto Deus é um
Deus justo e santo, e nós somos pecadores culpados, é necessário que tenhamos
uma justiça pela qual apareçamos diante Dele; e bendito seja Deus, há uma
justiça assim trazida pelo Messias, o Príncipe (Dn.9.24), e descoberta
no evangelho; uma justiça, quer dizer, um método
gracioso de reconciliação e aceitação, não obstante a culpa de nossos pecados.
Essa Justiça evangélica:
1º É chamada de a justiça de Deus;
É a justiça
designada por Deus, uma justiça que Deus aprova e aceita. Ela é assim chamada
para eliminar todas as pretensões a uma justiça resultante do mérito de nossas
próprias obras. É a justiça de Cristo, que é Deus, que resulta de uma
satisfação de valor infinito.
2º Diz-se que é “... de fé
em fé...”.
(segundo
alguns) da fidelidade de Deus que revela para a fé do homem que recebe; da fé
da dependência de Deus, e que lida imediatamente com Ele, como Adão antes da
queda, para a fé da dependência de um Mediador, e assim trata com Deus ( na
opinião de outros),da primeira fé, pela qual somos postos em um estado de
justificado, para fé posterior, pela qual nós vivemos, e continuamos a nesse
estado: e a fé que nos justifica não é menos que nossa aceitação de Cristo como
nosso Salvador e nos tornarmos verdadeiros cristãos, de acordo com a aliança
batismal; da fé que nos enxerta em Cristo para fé que recebe virtude dele como
raiz: ambas implicadas nas palavras seguintes: O “Justo viverá da fé”.Justo
pela fé, ai esta a fé que nos justifica; viver da fé, ai esta a fé
que nos mantém; e assim há uma justiça de fé em fé.
Fé é tudo em
todos, tanto no inicio como no progresso da vida cristã.
Não é da fé
para as obras, como a fé nos pusesse em um estado justificado, e então as obras
nos preservassem nele, mas é desde o começo de fé para fé, de fé em fé, como
(2Co.3.18) de glória em glória;
É a fé
crescente, contínua e perseverante, a fé que impele para frente e afasta a
incredulidade. Para mostrar que isso não nenhuma doutrina nova, ele cita em
favor dela aquela famosa passagem do Antigo Testamento, tão frequentemente
mencionada no Novo (Hc2.4): “ O Justo viverá da fé”.
Sendo
justificado pela fé ele viverá por ela tanto a vida de graça coma de glória. O
profeta ali tinha se colocado na torre de vigia, enquanto esperava algumas
descobertas extraordinárias (v.1), e a descoberta foi a certeza do aparecimento
do Messias prometido na plenitude dos tempos, muito embora parecendo demorar.
Isso é chamado de a visão, a título de eminência, como em outras partes a promessa;
e enquanto esse tempo se aproximava, como também quando chegou, o
justo viverá pela fé.
Assim é a
justiça evangélica da fé para a fé- da fé do Antigo testamento em um Cristo
vindouro à fé do Novo Testamento em um Cristo já veio.
II.A prova dessa proposição, que tanto judeus como gentios
tinham necessidade de uma justiça pela qual se apresentar diante de Deus, e que
nem uns nem outros tinham algo de si próprios para alegar. A justificação deve
ser ou pela fé ou pelas obras. Ela não pode ser pelas obras, o que ele prova
imediatamente ao descrever as obras tanto de judeus como de gentios; e,
portanto, ele inclui que ela deve ser pela fé (cap.3.20,28). O apóstolo, como um hábil
cirurgião, antes de aplicar o medicamento, procura a ferida;
Empenha-se primeiro em convencer da
culpa e ira, e em seguida mostra o caminho da salvação. Isso torna o evangelho
tanto mais bem-vindo.
Nós temos de ver primeiro a justiça de Deus que condena, e em seguida a justiça de Deus que justifica aparecerá digna de toda aceitação. Em geral (v.18) “...se manifesta a ira de Deus...”.
Nós temos de ver primeiro a justiça de Deus que condena, e em seguida a justiça de Deus que justifica aparecerá digna de toda aceitação. Em geral (v.18) “...se manifesta a ira de Deus...”.
A luz da
natureza e a luz da lei revelam a ira de Deus do pecado para o pecado. É bom
para nós que o evangelho revele a justiça justificadora de Deus da fé para fé.
A antítese é nítida.
Aqui temos:
1º A descrição da pecaminosidade do homem;
ele reduz a dois tópicos, impiedade e injustiça;
2º A causa dessa pecaminosidade;
isto é, deter “a verdade em injustiça”.
Algumas
ideias que eles tinham acerca do ser de Deus, e da diferença entre o bem, e o
mal; mas eles a mantinham na injustiça, isto é, eles conheciam e as professavam
em conformidade com seus maus caminhos.
Eles
sustentavam a verdade como cativa ou prisioneira, para que ela não os
influenciasse como faria se fosse de outro modo.
Um coração
mau e injusto é calabouço no qual muitas verdades boas são detidas e
enterradas.
Conservar “o
modelo das sãs palavras na fé e na caridade” é a raiz de toda a
verdadeira prática cristã ( 2Tm.1.13), mas conservá-la em injustiça é a raiz de
todo o pecado.
3º O desgosto de Deus com ela:
“...do
céu se manifesta a ira de Deus”; não só na palavra escrita que é dada
por inspiração de Deus (os gentios não a tinham), mas nas providencias de Deus,
seus julgamentos executados sobre os pecadores, que não brotam do pó ou ocorrem
por casualidade , nem devem ser atribuídos a causas secundárias, ao contrario,
são uma revelação do céu. Ou a ira do céu se manifesta; não é a ira de um homem
como nós mesmos, mas ira dos céus, por isso é mais terrível e mais inevitável.
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