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Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. João 14:6

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segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Unção de enfermos com óleo pelos presbíteros: uma análise de Tiago 5.14,15

Publicado originalmente em Teologia Brasileira.


Introdução

A unção dos enfermos com óleo é uma prática bastante comum entre igrejas pentecostais. A passagem bíblica fundamental que justifica essa prática encontra-se na epístola de Tiago, capítulo 5, versos 14 e 15. Assim, é bastante comum na igreja Assembleia de Deus, por exemplo, após as pregações, fazer-se um “convite” para que os que tenham alguma necessidade, especialmente os enfermos, passem à frente para receberem uma oração com imposição de mãos e unção com óleo por parte dos presbíteros e pastores da igreja.

Afinal, a carta de Tiago justifica tal prática? Teria ela fundamento extra bíblico? Por que, afinal, muitas igrejas evangélicas não adotam essa prática, se ela está na Bíblia? O que o apóstolo Tiago quis dizer quando escreveu esses versículos?

Este trabalho pretende analisar essa passagem do ponto de vista exegético e histórico. Primeiramente será mostrado, resumidamente, de que forma a igreja interpretou e pôs em prática o ensino de Tiago sobre a oração pelos enfermos. Em seguida, serão apresentadas algumas considerações exegéticas oferecidas por alguns estudiosos sobre o significado da passagem e a legitimidade de práticas que diversas igrejas mantêm atualmente.


Breve histórico da interpretação de Tiago 5.14,15

Aparentemente, esse trecho da carta de Tiago tratava-se de uma liturgia para a unção de enfermos da igreja antiga. Não se sabe, porém, em que circunstâncias era praticado tal ritual, nem se o mesmo era disseminado em toda a igreja.

Sabe-se que o rito descrito por Tiago foi praticado por oito séculos como algo “inteiramente óbvio e incontroverso”[1]. Ao longo da idade média, especialmente durante o período carolíngio, porém, a igreja católica transformou a “unção de enfermos”, que visava a recuperação de pessoas doentes, em “extrema-unção”, que tinha por objetivo a preparação para a morte do enfermo. Ou seja, a igreja deixou de lado a expectativa de cura (talvez porque essa já não ocorria mais) e entendeu que a passagem de Tiago 5.14,15 referia-se ao ritual de preparação para a morte provável. Posteriormente, talvez pressionado pela controvérsia com os reformadores, o concílio de Trento consolidou a prática como “sacramento da extrema-unção”[2].

Os reformadores polemizaram com a igreja romana quanto ao sentido do rito descrito pela carta de Tiago. Lutero, na conhecida obra Do Cativeiro Babilônico da Igreja, critica os diversos sacramentos consolidados pela teologia medieval. Ao rejeitar a extrema-unção, o reformador alemão afirma que a interpretação dada pelo catolicismo ao trecho da carta de Tiago sobre a unção de enfermos é totalmente equivocada. Não se trata de um sacramento, tampouco um ritual que deve ser ministrado apenas aos moribundos, pois a perspectiva é que o enfermo (de qualquer tipo) seja curado e não morra.[3] Lutero entende que o texto fala de um ritual de cura cuja origem retoma a prática dos discípulos de Jesus registrada em Marcos 6.13: “E ungiam com óleo a muitos enfermos e saravam”. Nesse ritual, os anciãos e pessoas mais respeitáveis da igreja visitavam o enfermo, ungindo-o e orando com fé para que eles fossem sarados. A saúde e remissão dos pecados não estão relacionados com a unção, mas com a oração da fé. A unção é um “conselho de Tiago que pode ser usado por quem o quiser usar”, voltada para os que “sofrem a enfermidade com maior impaciência e fé rude”. Nessas pessoas apareceriam os milagres e o poder da fé[4].

Desde a reforma, como reação ao equívoco católico sobre a extrema-unção, as igrejas da tradição da reforma passaram a rejeitar a atualidade do rito descrito por Tiago. Argumentava-se que a cura que acompanhava a unção era um dom especial dado aos primeiros apóstolos ou à igreja da era apostólica. Lutero e Calvino, nesse sentido, adotaram uma concepção “cessacionista” quanto à possibilidade de cura mediante a unção de enfermos com óleo pelos presbíteros[5]. Contudo, não há nada no texto bíblico que limite a utilização do ritual ou que sugira que a cura estivesse limitada aos tempos apostólicos. Se bem que, como ensina BRAATEN, não possamos considerar instruções missionárias aos apóstolos ou a recomendação de uma norma para um grupo de congregações primitivas como dirigidas diretamente aos nossos pastores ou presbíteros hoje, também não podemos simplesmente dizer que a cura era uma prática limitada ao período apostólico, pois o simples fato da existência de uma “geração pós-apostólica” é, em si mesmo, uma anomalia para o evangelho, pois não se pode dizer que a igreja passou de uma situação apostólica para alguma outra coisa[6].

No século XX, o movimento pentecostal resgatou a prática da unção dos enfermos com óleo, enfatizando que as curas eram possíveis, especialmente se alguns do corpo de Cristo tivessem o dom de curar, que é atual. Porém, devido aos desvios dos posteriores movimentos de cura pela fé e do neopentecostalismo, muitos cristãos têm reagido com ceticismo ao uso da prática recomendada por Tiago[7]. Teriam eles razão? Na minha concepção, não. Pode-se defender legitimamente como atual a prática de Tiago. Senão vejamos.


Considerações sobre a interpretação de Tiago 5.14,15

A primeira coisa a ressaltar nesta passagem é que ela está inserida em um contexto maior que trata do poder da oração em geral[8]. O contexto também aborda a confissão de pecados na igreja. A enfermidade, portanto, pode ter alguma relação com os pecados cometidos pelo enfermo. De qualquer forma, o verso 15 deixa bem claro que não é a confissão, tampouco o óleo ou o ritual que cura o enfermo, mas sim a “oração da fé”.

Os presbíteros eram os líderes da igreja. A iniciativa da unção, por outro lado, partia do enfermo, não dos líderes, ocorrendo na casa de quem a necessitasse (possivelmente pela sua impossibilidade de deslocamento até o local de reunião dos cristãos)[9].

Interessante observar que Tiago recomenda que sejam chamados os presbíteros, não os que têm dom de curar. Isso talvez indique que a passagem não tem relação com o exercício específico do dom de curar, já que nem todo presbítero tinha esse dom (segundo 1Co 12.28-30, dons de liderança e de cura eram distintos, e a Bíblia não indica que todos os líderes da igreja primitiva possuíam esse dom) mas sim com uma prática adotada na igreja primitiva, na qual os presbíteros, talvez representando a igreja, eram chamados a orar pelo enfermo.

Qual o significado do óleo? Alguns consideram que era uma espécie de “remédio”, e que, portanto, não se trataria de rito religioso, mas de tratamento médico numa época em que a medicina era pouco desenvolvida e que os médicos não estavam disponíveis ao povo. Argumentam que havia um uso medicinal do óleo[10]. Contudo, a única referência à unção com óleo no Novo Testamento em contexto semelhante, Marcos 6.13, indica que os apóstolos curavam em um contexto miraculoso. Além disso, o uso da expressão “em nome do Senhor” indica um ritual religioso. Portanto, descarta-se a possibilidade de o óleo ser usado meramente com fins medicinais. Alguns sugerem também ser um amparo à fé do enfermo (uma “muleta” ou placebo) e o meio pelo qual o poder de Deus se manifesta[11]. Contra essa opinião, o texto indica que o poder está na oração da fé, não no óleo. Além disso, não parece razoável que Tiago sugerisse o uso de elementos físicos de maneira supersticiosa, para fortalecer a fé dos mais fracos. Assim, adoto a posição de que o óleo era usado como um símbolo religioso, indicando a separação do enfermo para receber o cuidado especial de Deus (como os sacerdotes no Antigo Testamento eram “separados” quando ungidos com óleo)[12] e possivelmente a ação do Espírito Santo, cuja pessoa por vezes é simbolizada pelo óleo na Bíblia[13].

É importante ressaltar que o Novo Testamento não registra a unção com óleo como prática recorrente. Jesus nunca curou enfermos usando óleo, mas apenas pela imposição com as mãos. Ele também nunca determinou aos discípulos que usassem esse procedimento (um dos motivos, aliás, pelo qual Lutero rejeitou a extrema-unção ou unção de enfermos como um sacramento). Aparentemente, essa prática foi introduzida por Tiago entre os deveres dos líderes das igrejas judaico-cristãs[14].

Sendo feita “em nome do Senhor” (Jesus), a unção vem selada com a sua autoridade. O presbítero age como um representante de Jesus, que haverá de abençoar o ato e aprová-lo[15]. Isso pode indicar, outrossim, que a cura somente ocorrerá se for feita conforme a vontade de Jesus, o que já indica a possibilidade de não haver cura[16].

O verso 15 indica, como já foi mencionado, que é a “oração da fé” que salvará (curará) o enfermo, e o Senhor o levantará. Essa oração da fé, ou “oração feita com fé”, dá a entender que não se trata de fé comum, que todo cristão deve ter, mas de uma convicção especial dada por Deus em certas situações para seus servos, que podem ter certeza de que Deus ouviu a oração naquele momento e a responderá. É uma fé que não pode ser produzida pelo que ora, por meio de exercícios espirituais, mas é dom de Deus. Ela é dada por Ele, quando Ele soberanamente deseja atender o pedido. Isso ajuda a explicar por que nem todas as orações são respondidas. Não se trata de falta de méritos nossos, ou a falta de “justiça” ou “poder” do que ora (alguns poderiam associar essa passagem ao contexto imediato, que fala na oração do “justo” e em Elias, entendendo que somente os “bons” terão suas orações atendidas), mas da decisão soberana de Deus em não conceder a cura, pois não era da sua vontade. Se Deus conceder a cura, dará previamente o dom da fé para que se tenha a “oração da fé”[17].

Em alguns casos, a enfermidade pode estar relacionada ao pecado. Contudo, não podemos limitar o ritual de cura aos casos de enfermidades que decorrem de um pecado partícula. Isso porque o termo “doente”, usado no verso 14, é bastante genérico, não se aplicando somente aos que possuem enfermidades em decorrência de situações espirituais. Também a partícula “se” (se houve cometido pecados), indica que a relação entre enfermidade e pecado é apenas possível, não necessária[18]. Assim, Tiago ensina que, junto com a cura, eventuais pecados serão perdoados. É recomendado, portanto, que os presbíteros façam uma inquirição da vida espiritual do doente, aproveitando para dar a oportunidade de confissão e perdão[19]. De alguma forma, portanto, a enfermidade e o ritual de oração pela cura vêm acompanhados pela confissão de pecados e restauração espiritual, não somente física.


Conclusão

 Este trabalho teve o objetivo de demonstrar, portanto, o significado da passagem de Tiago 5.14,15. Trata-se de um ritual praticado ao menos em parte da igreja primitiva que foi gradativamente sendo transformado, até se degenerar na “extrema-unção” católica. Contudo, foi resgatado recentemente em diversas denominações evangélicas, ainda que às vezes tristemente deturpado pelos movimentos da fé e pelo neopentecostalismo[20]. De qualquer forma, nada no texto ou na Bíblia como um todo indica que a prática da unção de enfermos com óleo, acompanhada da possibilidade de cura e confissão dos pecados, tenha ficado restrita à “era apostólica”. Ainda hoje podemos adotar essa prática, mas talvez de forma mais restrita do que a que se vê em diversas igrejas carismáticas, sem apelar para o misticismo, sincretismo ou práticas humanas e marqueteiras que nada tem de bíblicas e espiritual. Orar pelos enfermos em nome de Jesus, usar o óleo como símbolo da ação curadora de Deus por meio do seu Espírito e a confissão de pecados são procedimentos legítimos que a prática demonstra que podem trazer muitos benefícios para o povo de Deus.


 Referências bibliográficas

ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger (eds.). Comentário bíblico pentecostal. 2 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

BRAATEN, Carl E.; JENSON, Robert W. Dogmática cristã. Vol. 2. São Leopoldo: Sinodal, 1995.

BRANDT, Robert L.; BICKET, Zenas J. O Espírito nos ajuda a orar: uma teologia bíblica da oração. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.

BRUCE, F. F. (ed.) Comentário Bíblico NVI – Antigo e Novo Testamentos. São Paulo: Vida, 2008.

CALVINO, João. Epístolas gerais. São José dos Campos: Fiel, 2015.

GUTHRIE, Nancy. Antes de partir. São José dos Campos: Fiel, 2013.

KISTEMARKER, Simon. Comentário al Nuevo Testamento. Exposicion de Santiago y de las Epistolas de Juan. Grand Rapids: Libros Desafio, 2007.

LOPES, Augustus Nicodemus. Interpretando a carta de Tiago. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.

LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas. Vol. 2. Do Cativeiro Babilônico da Igreja. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2000.

____________________________________

[1] BRAATEN, 1995, p. 386.

[2] Ibid., p. 386.

[3] LUTERO, 2000, p. 419.

[4] Ibid., p. 420.

[5] BRAATEN, op. cit., p. 385.

[6] Ibid., p. 385.

[7] LOPES, 2006, p. 182.

[8] BRUCE, 2008, p. 2148.

[9] Ibid, p. 2149; LOPES, p. 174.

[10] Ibid, p. 2015; ARRINGTON, 2004, p. 1688.

[11] BRUCE, op. cit., p. 2149.

[12] ARRINGTON, op. cit., p. 1688.

[13] BRANDT, 1996, p. 407; LOPES, op. cit., p. 176.

[14] LOPES, op. cit., p. 174.

[15] Ibid, p. 175.

[16] ARRINGTON, op. cit., p. 1689; KISTEMARKER, 2007, p. 152.

[17] LOPES, op. cit., p. 178; BRUCE, op. cit., p. 2149.

[18] BRUCE, op. cit., p. 2150.

[19] LOPES, op. cit., p. 179.

[20] Sobre essa deturpação, uma profunda e provocadora reflexão é oferecida por GUTHRIE, 2013, p. 53-60.

  

Artigos Rodrigo Majewski

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Nota de pesar


Foi com muita tristeza que recebemos a notícia do falecimento, nesta data, do nosso querido irmão, o Evangelista David Sander.

Por anos ele ajudou a pastorear esta congregação, edificando a fé de todos os irmãos especialmente pela a pregação poderosa da Palavra de Deus.

Nesse momento de profunda tristeza, buscamos consolo nas Escrituras que o David tanto amava:

"Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor." Romanos 14.7,8

"Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante

Jesus, trará, em sua companhia, os que dormem. Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras." 1 Ts 4:14,18

Até breve, querido David!




Nota

terça-feira, 6 de abril de 2021

Sobre a Polêmica em Torno da Suspensão dos Cultos Religiosos


Vivemos tempos extremos. O debate político sobre os rumos da nação em meio à pandemia parece ter afetado a teologia e prática eclesiástica. Realizar ou não cultos presenciais muitas vezes parece ser mais uma questão ideológica do que pastoral/teológica. Em certos círculos, quem ousar falar em reabertura de igrejas é rapidamente taxado como “negacionista”, um xingamento vazio, ofensivo e sem sentido que de maneira geral não pode ser aplicado a pastores que estão preocupado com a saúde espiritual de suas ovelhas.

É nesse contexto que gostaria de fazer algumas observações sobre a polêmica que voltou com bastante força após as recentes decisões do Supremo Tribunal Federal sobre as proibições de realização de cultos presenciais pelos Estados e Municípios.

Primeiro, do ponto de vista do senso comum: penso que as lideranças eclesiásticas devem avaliar seu contexto e seu público para então tomar uma decisão sobre eventual suspensão temporária de cultos presenciais. O que me parece inaceitável é romantizar as decisões de suspensão e alegar que são feitas como demonstração de “amor ao próximo”, ou, pior ainda, querer obrigar todos a suspenderem seus cultos presenciais, ou, mais inaceitável ainda, achar legítimo que o estado suspenda indefinidamente os cultos presenciais e achar que “está tudo bem”. Muito cuidado aqui para não banalizar a covardia (em alguns casos, mas não todos, é disso mesmo que se trata) e chamar isso de virtude.

Segundo, do ponto de vista jurídico: o estado não pode avaliar o mérito do que acontece quando grupos religiosos se reúnem, e nem externamente definir a não essencialidade ou não disso. Essa é uma questão que tem a ver com a liberdade religiosa, direito fundamental consagrado na Constituição e sempre respeitado de forma exemplar em nosso país.

Se um grupo cristão, por exemplo, entende que o culto é essencial porque algo importantíssimo acontece quando a igreja se reúne, e que eles não podem parar de cultuar jamais, por ser esse seu chamado, o estado não deveria entrar no mérito dessa visão teológica, sob pena de ofensa à liberdade religiosa e até mesmo à laicidade do estado, na medida em que ocorre uma sobreposição sobre a esfera de atuação da igreja.

Restrições sanitárias temporárias são legítimas, quando se pensa na ponderação de direitos fundamentais, mas não a total proibição de reunião presencial, especialmente se pensarmos que em tempos de pandemia as lideranças estão dispostas a seguir uma série de protocolos sanitários, com limitação do número de presentes, distanciamento, uso obrigatório de máscaras o tempo inteiro, etc. Essas medidas, como tem sido demonstrado, já seriam razoavelmente suficientes para evitar a transmissão do vírus. Se não o fossem, sequer deveriam ser impostas pelas autoridades nos demais ambientes com circulação de pessoas.

Aliás, salvo engano, não existem quaisquer estudos conclusivos que demonstrem que igrejas são vetores de transmissão de vírus, mormente quando respeitados os protocolos acima mencionados. Por outro lado, o transporte público, academias, supermercados e restaurantes oferecem muito mais risco de contágio do que igrejas, na medida em que não se consegue controlar com eficácia o distanciamento físico entre as pessoas.

Dessa forma, considerando a liberdade religiosa e um de seus desdobramentos básicos, que é a não interferência do estado em assuntos eclesiásticos e teológicos, proibições absolutas de realização de cultos presenciais não se mostram razoáveis, sendo justa a impugnação judicial de atos normativos que as impõem.

Terceiro, do ponto de vista teológico, e aqui vai o comentário mais importante: me parece que a pandemia tem escancarado a péssima eclesiologia de muitos líderes cristãos.

Como bem resumiu meu amigo Evandro Rosa, “ou você é litúrgico/sacramental, ou você pede o fechamento de igrejas. Os dois não dá!”.

Nesse mesmo sentido, também poderíamos dizer que muitas lideranças são reformadas em sua soteriologia, mas anabatistas em sua eclesiologia.

De fato, a questão fundamental que muitos parecem ignorar é: “o que acontece quando os cristãos se reúnem em assembleia solene?” Se verdadeiramente acreditamos que algo sobrenatural acontece, e que não existem cristãos desigrejados, e que o individualismo dos últimos séculos, ao menos em termos religiosos, é absolutamente inadequado para fundamentar a fé e a natureza da igreja, é impossível defender o fechamento de templos e a proibição de cultos presenciais por causa da pandemia. Mais ainda: é também incoerente ficar muito tempo sem realizar cultos presenciais, mesmo que voluntariamente, pois os prejuízos espirituais certamente virão.

É bem verdade que igrejas do estilo “sensível ao interessado”/autoajuda, cuja concepção de culto muitas vezes se resume a mensagens e músicas inspiradoras, para que as pessoas se sintam acolhidas e aprendam a ser mais espirituais, podem tranquilamente abrir mão de cultos presenciais e substituí-los pelo “culto online”. Afinal, trata-se apenas de mensagens inspiradoras, e mesmo que com algumas limitações, o “culto online” permite obter de alguma forma o resultado almejado. Essas lideranças, ao suspenderem seus cultos, ao menos são coerentes. O mesmo vale para tendências cristãs racionalistas, em que o culto se resume a cantar algumas músicas e uma mensagem didática, sem uma concepção de presença real do divino entre o povo de Deus reunido.

Agora, se cremos que há uma presença divina real no culto, na pregação e nos sacramentos (batismo, ceia), não podemos ficar muito tempo sem celebrá-los. Nesse caso, abrir mão de sua realização expressa uma verdadeira INCREDULIDADE quanto aos efeitos da ceia e do próprio culto cristão. E aqui me parece que reside a incoerência de muitas lideranças cristãs: elas dizem crer na presença de Cristo (literalmente ou espiritualmente) na ceia, mas não veem problema algum em ficar meses a fio sem realizar a sua celebração.

Nesse sentido, acho bastante incoerente, para não dizer algo pior, ver lideranças de igrejas com concepções mais sacramentais (católicos, ortodoxos, luteranos, reformados, anglicanos, metodistas) ou mesmo de concepções “mágicas” de culto (neopentecostais) defenderem o fechamento de igrejas, e a substituição por meses ou até anos a fio dos cultos presenciais em virtude de uma epidemia. Na história da igreja essa é uma postura inédita.

Ao final, me parece que a pandemia tem sido um divisor de águas entre a boa e má teologia de culto, talvez até mesmo entre fé e incredulidade. Creio que também ela tem demonstrado quem de fato acredita que o culto cristão não é apenas uma reunião de autoajuda com palestras inspiradoras sobre espiritualidade, mas sim a reunião física do povo de Deus, em resposta ao seu chamado, na qual o seu Espírito está realmente presente, e sem a qual o seu povo não pode subsistir por muito tempo, ao ser alimentado pela Palavra e pelos sacramentos/ordenanças.

Concluindo, entendo que em certas circunstâncias pode ser adequado suspender os cultos presenciais, principalmente se o público majoritário for grupo de risco. Contudo, essa decisão não pode perdurar por muito tempo, pois do contrário poderíamos estar diante de: a) má teologia de culto; b) simples incoerência com a robusta teologia de culto oriunda da Reforma, presente nas principais denominações; c) medo (pior ainda se for simplesmente o medo das lideranças em relação à sua própria vida. Se for esse o caso, a vocação ao ministério deve ser repensada – Mt 16.25); d) incredulidade, tanto em relação ao que acontece no culto quanto aos sacramentos/ordenanças; d) ideologização e politização na tomada de decisões sobre fechamento de igrejas. Em qualquer dos casos, são os membros que deixam de ser devida e verdadeiramente alimentados. Pagaremos um alto preço por isso.


Por: Rodrigo Majewski

Publicado originalmente em: TGC

Artigos Rodrigo Majewski

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Mensagem de natal 2020


Este ano foi bastante complicado não é mesmo igreja? Muitas dificuldades em função do Covid-19 e chegamos até mesmo a ter nossos cultos suspensos, mas também tivemos muitas alegrias, como as séries de sermões, encontros online, de casais, mulheres, mentoreamento e muito aprendizado.

A igreja está passando novamente por tudo isso e dando testemunho de fé, pois não somos um clube ou uma organização que depende das circunstâncias do mundo para existir, embora sejamos afetados por elas, mas o ponto é que se estamos passando por tudo isso, é porque Deus através do seu filho Jesus Cristo nos ensinou que nesta vida teríamos aflições (João 16. 33), mas que venceríamos, não por nossos méritos, mas sim, porque Jesus Cristo venceu.

Portanto, é por esta razão podemos ter fé e esperança em meio as adversidades da vida. 

É Natal igreja! Alegrem-se, pois um dia ele esteve entre nós, mas não somente pela lembrança de que um dia ele nasceu e esteve neste mundo, mas principalmente porque ele disse que estaria sempre entre nós.

Que glorioso sabermos que nunca estaremos sozinhos!



Mensagem Natal 2020

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Cantata de Natal 2020 - "Que Homem é esse?"


Irmãos, chegamos ao nosso especial de Final de ano, um momento de celebração neste período tão importante que é o nascimento de Jesus Cristo. Contudo, este ano em função do COVID-19 precisaremos tomar algumas providências de forma inédita. Contamos com sua ajuda e de seus convidados para que possamos controlar o número de pessoas que estará presente no evento e desta forma mantermos as medidas sanitárias necessárias para o cuidado da saúde de todos.

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Cantata de Natal 2020

Tema: Que Homem é esse?

Dia 19/12 - Travessa Serafim Terra, 133, Jd. Botânico, Porto Alegre

Em dois horários: às 19h e 21h.

A entrara é gratuita. Para confirmar sua presença, clique aqui.

- Você também poderá acompanhar online em nossas redes.

Qualquer dúvida, mande um e-mail para: contato@adjardimbotanico.org

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Cantata de Natal

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Jesus Reina: Um Relato sobre a Retomada dos Cultos Presenciais em Tempos de Pandemia


Não acredito em coincidências. Minhas convicções teológicas quanto à soberania divina não me permitem concluir que as coisas acontecem por acaso. Pois bem: justamente na semana em que igrejas em todo o mundo relembraram a ascensão de Jesus Cristo, e portanto, seu reinado soberano sobre toda a criação, as autoridades municipais permitiram, após dois meses, a realização de cultos presenciais nas igrejas de Porto Alegre, desde que respeitados rigorosos protocolos para impedir a propagação do vírus durante as solenidades.

Vivemos um momento de confusão e perplexidade. Pandemia global, restrições ao trabalho, à vida social, ao ajuntamento para o culto, uma profusão de decretos confusos, arbitrários e de legalidade e constitucionalidade duvidosos expedidos por diversas autoridades, mas não importa: em meio a tudo isso, Jesus Cristo é e continua a ser o Rei soberano sobre todas as coisas. E pela sua soberana misericórdia e graça, Ele, mais do que autoridades políticas, permitiu que as igrejas de nossa cidade voltassem a se reunir justamente quando muitos cristãos relembram, na semana da ascensão, que Ele foi assentado à direita de Deus Pai, acima de todo principado, potestade, poder e domínio, quer estes o reconheçam, quer não. Tendo em mente esse contexto, mesmo que tecnicamente não sejamos uma igreja litúrgica, planejamos todo o culto da congregação à luz da exaltação de Jesus como Rei e Sacerdote eterno. O culto de retomada foi o culto da ascensão de Jesus Cristo. A oração de abertura, a confissão de pecados, os cânticos que exaltavam o senhorio de Jesus Cristo sobre todas as coisas, a leitura responsiva, com toda a igreja, do significativo salmo 93, a pregação da palavra enfatizando a narrativa da ascensão e seu significado teológico, a celebração da ceia com a perspectiva de que nosso Senhor é também aquele que intercede por nós, a leitura da confissão de fé, enfim, todos os atos foram praticados à luz do fato histórico decisivo da ascensão de Jesus Cristo aos céus, o que, dado o momento que estamos vivenciando, tornou a reunião de adoração um momento histórico e inesquecível na vida da congregação e dos que se fizeram presentes.

Antes de detalhar nossa experiência, vale lembrar que nem todas as igrejas da cidade reabriram nesse domingo. Algumas lideranças decidiram que ainda não era o momento para tanto, dadas as particularidades vivenciadas por suas comunidades: dificuldades em seguir as exigências do decreto municipal, pastores obreiros e grande parte dos membros fazendo parte do grupo de risco, restrições quanto ao número de participantes, etc. Decisões compreensíveis, tomadas por aqueles que conhecem a realidade concreta das suas igrejas. Em nossa compreensão, nossa comunidade, uma pequena congregação da Assembleia de Deus de Porto Alegre, estava tanto necessitada dos cultos como preparada para, com todos os cuidados necessários, promover uma retomada parcial de suas reuniões de adoração coletiva. As “lives” transmitidas todas as semanas ao longo desses dois meses sem cultos, supriram algumas necessidades da nossa comunidade ao longo desse tempo, mas não podem se equiparar ao ajuntamento presencial da igreja para a adoração, pois não suprem todas as suas necessidades espirituais, ao não permitir a profundidade da experiência da adoração coletiva que acontece quando o povo de Deus se reúne fisicamente.

No nosso caso, é bem verdade que nem todos os membros puderam ou se sentiram seguros em participar. Cerca de metade da congregação se fez presente, enquanto outros ficaram em casa por diversos motivos: resguardo enquanto grupo de risco, receio de causar a contaminação de outros irmãos em virtude da sua necessária exposição diária no ambiente de trabalho e até mesmo inconformidade com as regras de distanciamento impostas (máximo de 30 pessoas presentes, distância de dois metros entre cada uma, uso obrigatório de máscaras, disponibilização de álcool gel, evitar aglomerações, abraços, beijos, cumprimento com as mãos), que pareciam mitigar o aspecto da comunhão entre irmãos. Para estes, mantivemos a transmissão online do culto, e assim faremos até que a epidemia por Covid-19 deixe de ser um risco acima do normal para a humanidade.

Voltando ao relato do nosso culto de retomada, para nossa surpresa, recebemos também dois visitantes não cristãos, trazidos por um membro que não esqueceu que, mesmo em tempos difíceis, a igreja segue em missão. Essa, porém, foi apenas uma das alegrias que os irmãos que compareceram puderam vivenciar na fria e úmida noite do dia 24 de maio de 2020. Mais do que nada, eles tiveram uma emocionante e inesquecível experiência de participar da retomada, após longo tempo de “exílio”, da adoração coletiva solene em tempos extremos. Ao longo do culto, proclamamos que Jesus é o Senhor e relembramos os atos salvadores do Deus Trino em favor do seu povo. Na ceia, finalmente celebrada desde o último culto presencial, realizado dia 15/03, pudemos “provar e ver que o Senhor é bom”. Mesmo que distanciados, com o uso de máscaras, sentados afastados uns dos outros e evitando cumprimentos, abraços, beijos, a comunhão real, presencial, cuja ausência foi tão sentida e lamentada nesses últimos meses, pode ser experimentada e valorizada como nunca antes. Em muitos rostos, as lágrimas e expressões de alegria eram visíveis.

Os membros presentes relataram após o culto a emoção de estarem juntos cantando em alta voz, após mais de 70 dias afastados: Poder estar reunido fisicamente é glorioso. As restrições, distanciamento, uso de máscaras é tão pequeno e insignificante perto da grandiosidade que é a união do corpo de Cristo! Alegria e gratidão são palavras que definem meu sentimento. Sem dúvida ouvir a igreja cantar junto foi algo que me marcou no culto hoje. Da mesma forma: Estar presencialmente é insubstituível. Poder ver nossos irmãos, ouvir a igreja alegre cantando, ouvir a Palavra em comunidade. Devemos valorizar esse momento que podemos estar juntos. O ineditismo da situação que vivenciamos foi relacionada com o privilégio do momento vivido “Nos meus 21 anos de cristão nunca havia passado situação semelhante, tanto tempo sem culto… esta retomada foi algo maravilhoso e extraordinário… sentir que a vida comum e ordinária da igreja é encharcada pela presença do Espírito na comunhão, oração, louvor e pregação!!! Deus está no meio de nós… A importância e alegria da adoração coletiva, de certa maneira, foi vivenciada como nunca antes. O “exílio” parece ter aberto os olhos de muitos membros da congregação para o privilégio e importância da adoração coletiva: Foi uma experiência marcante no meu coração! Cultuar o Senhor, com os irmãos, parecia que meu coração pulava de alegria. Ver nossa igreja reunida mesmo com restrições, é maravilhoso!

Muitos irmãos também ressaltaram o quanto as transmissões ao vivo pela internet, ainda que proveitosas, não ofereciam tudo o que uma reunião presencial de adoração pode oferecer em termos de comunhão e edificação. Nesse aspecto, desconfio, que a ausência de alguns irmãos pode ser explicada também pelo desânimo e acomodação causados pelo distanciamento social e ausência das reuniões e visitações nesses tempos de pandemia, o que reforçou nossa decisão de que a retomada dos cultos era urgente e deveria ser levada a efeito tão logo fosse possível. Em outras palavras, enquanto para alguns o distanciamento fez crescer o amor e a valorização pelos momentos de adoração coletiva, em outros o distanciamento teve o efeito contrário, o que já era de se esperar. A não realização de cultos presenciais é muito ruim para a vida da igreja, ainda que possa ser necessária por certo tempo. Por isso, na perspectiva do corpo de obreiros da congregação, a legítima preocupação com a saúde física não pode desconsiderar as demais dimensões da vida humana, como o aspecto psicológico e social, mas especialmente a vitalidade espiritual do corpo de Cristo.

Um último e em outras circunstâncias insignificante acontecimento emocionou os presentes. Tradicionalmente, ao final dos cultos dominicais, é feita uma oração por todos os aniversariantes. Ontem, uma humilde irmã que não tem internet em casa e não pôde acompanhar nenhuma transmissão de nossas lives nesse tempo (por isso, entre outros motivos, o “culto online” e assemelhados não é a solução definitiva para os problemas causados pelo distanciamento social, pois essas pessoas, que não são poucas, não podem ser esquecidas) se manifestou por ocasião da oração final, lembrando que esteve de aniversário no final de março (uma semana após a suspensão dos cultos presenciais) e queria que a igreja orasse por ela, como sempre se fez. Ela aguardou por dois meses a retomada dos cultos pela congregação para que pudessem orar coletivamente pela sua vida. Tal fato inusitado nos mostrou o quanto a ausência do culto presencial foi sentida pelos irmãos mais humildes, e o quanto eles valorizam a oração comunitária praticada quando a igreja se reúne. Foi com muita satisfação que vimos a alegria dela ao orarmos e agradecermos a Deus, todos juntos, pela vida dela, mesmo que com dois meses de atraso.

Na nossa perspectiva, portanto, nosso rei soberano, ao nos permitir a voltar a congregar presencialmente, estava providenciando nosso “retorno do exílio”. Os cultos ainda não voltaram a ser como antes, ainda há muitas restrições e cuidados necessários. Muitos irmãos ainda não puderam retornar. Mas sabemos que nosso Senhor ressurreto está movendo todas as coisas e cremos que em breve poderemos cultuá-lo todos juntos, superando esse tempo no exílio/deserto, para desfrutarmos novamente a plenitude da adoração presencial com toda a igreja, com toda a liberdade. Enquanto esse dia não chega, continuaremos a adorar comunitariamente, confiantes na soberania do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, aquele diante de cujo nome se dobrará “todo joelho nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai.” (Fp. 2.10).


Pastor Rodrigo Majewski

Posto originalmente em Coalizão Pelo Evangelho.

Artigos Rodrigo Majewski

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Devocional #45

Devocional para hoje. Uma palavra de 1 João que sempre nos confronta.

























Pr. Rodrigo Majewski

Devocional 2020

 

Todos os domingos você ouvirá a palavra do Senhor em nossa igreja! Cremos no Evangelho de Jesus Cristo, pois cremos que não há o que possamos fazer para causar transformação na vida das pessoas, isso é obra inteiramente do Espírito Santo que atua na igreja de forma sobrenatural, levando pessoas ao arrependimento e transformando vidas. Você ama a palavra de Deus? Venha nos fazer uma visita e adorar ao Deus trino em nossa congregação.

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